por RICARDO FALCÃO, vice-presidente mundial da Praticagem
Anteriormente, foi abordada a questão da retroárea na região de Itaubal como fator determinante para o sucesso de uma futura região portuária. Nademos, então, nas águas da sabedoria de outras regiões que foram planejadas com bastante critério e vamos incluir no nosso planejamento aquilo que a região portuária chinesa de Qingdao não tem: um polo industrial adjacente. E não precisamos ir longe para encontrarmos um bom exemplo!
No norte do Rio de Janeiro, próximo à fronteira com o Espírito Santo, encontramos o Porto Açu, em fase final de implantação. Quando analisamos o projeto, desde a fase conceitual, já percebemos que na região adjacente à retroárea há um espaço enorme destinado à implantação de indústrias.
Em termos logísticos, o que um polo industrial mais deseja é estar perto do meio de transporte que escoará suas cargas. Para que tenha sucesso, o fato de implementarmos indústrias na futura região portuária, sem permitir que se instale uma cidade entre a indústria e o porto de Itaubal, será fator determinante para a iniciativa privada vir a escolher a região.
Será, inicialmente, uma enorme fazenda, dividida em vários terrenos grandes, já prevendo onde passarão as futuras ruas e espaços de circulação entre eles. Com isso, é possível dimensionar e prever qual a mobilidade urbana necessária (metrô, ônibus, trem elétrico), provimento de água, local para tratamento de eventuais resíduos, áreas para estacionamento, dimensionamento de linhas de eletricidade, dentre tantos outros pontos.
Uma indústria quer conseguir operar durante as 24 horas do dia sem incomodar a população local com o barulho, calor, vibração, luz ou, até mesmo, sem disputar espaço nas ruas, com caminhões e com carros de passeio. Outro ponto importante para a indústria de montagem ou de transformação: que os insumos cheguem rapidamente do navio para a fábrica e sejam logo devolvidos para distribuição local ou internacional. Estamos falando de eletrodomésticos, carros, motos, máquinas fotográficas, etc.
Hoje, um navio de contêiner precisa subir o Rio Amazonas, até a cidade de Manaus, navegando 1.420 milhas náuticas (2.629 Km) de ida e volta, levando insumos e trazendo produtos manufaturados.
Isso representa em torno de quatro dias a uma semana de fretamento de navio (dependendo da velocidade), com custos de tripulação, combustível, rebocadores, praticagem, seguro, P&I (clubes de armadores que fazem o seguro contra terceiros) e também com o lucro do afretador e que, mesmo assim, sofre com uma tremenda desvantagem: o regime de cheia e de seca do Rio Amazonas.
Na seca, esses navios chegam a ser carregados com até 3 metros a menos de calado devido a uma restrição logo acima da cidade de Itacoatiara/AM. Isto significa 30 mil toneladas ou 1.500 TEUS (Twenty Equivalent Unit – como são chamados oficialmente os contêineres de 20 pés) a menos, por cerca de 3 meses.
Todos estes fatores conjugados podem se transformar em incentivo financeiro para que diversas fábricas que hoje estão em Manaus, mudem para a nossa nova região; Fuji, Canon, Panasonic, Harley Davison, Toshiba e quem sabe até uma fábrica de sapatos que, sozinha, é capaz de gerar cerca de mil empregos diretos. Temos localização geográfica, energia abundante e terrenos disponíveis.
Com o governo certo, teremos incentivos fiscais locais, ofereceremos segurança institucional para o investidor (não se investe onde há falta de transparência ou incerteza política), além de pessoas disponíveis para serem treinadas e se especializarem, quebrando finalmente o ciclo atual de desemprego e gerando circulação de dinheiro.
Fábricas japonesas, alemãs, americanas e francesas operam em um mesmo padrão de qualidade no mundo todo, onde treinam seu pessoal, não poluem, estão preocupadas com o bem estar social, condições de trabalho e de saúde de seus empregados, sendo avessas à corrupção e prezando por relações harmônicas com a comunidade local.
É da política que sairão os sinais de atração para a iniciativa privada, cujo primeiro passo é separar a área e destinar os espaços.
Na sequência abordarei outros aproveitamentos de uma região portuária desta magnitude.