“As pessoas querem benefícios pessoais”, diz Bordalo ao desistir de candidatura

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SELES NAFES
O concorrido, e às vezes polêmico, advogado criminalista Cícero Bordalo Júnior, ensaiou, foi para campo, mas diz ter ficado decepcionado com a postura dos eleitores. Teria sido o comportamento do “toma lá dá cá” a principal razão para não concorrer mais a um cargo eletivo, no dia 7 de outubro deste ano. Aos 58 anos, ele já tinha se filiado ao PSDB, e mirava uma cadeira de deputado estadual.
Houve uma desilusão?
Sim. As pessoas não querem melhorias, querem benefícios pessoais. Cada um olhando para seu próprio umbigo. A maioria dos pré-candidatos está distribuindo cestas básicas, e utilizando até estruturas do poder público. Isso é tudo, menos política. Eu entrei nessa para conquistar o voto pela ideia.
Você acha que não é possível ter o voto ideológico?
Nas condições do Amapá, não. Está tudo podre, corroído.
Mas isso é um fenômeno só do Amapá?
Não. Com certeza no Brasil todo.
Mas o senhor não sabia que ia deparar com essa realidade?
Imaginava, mas não nessa forma. Imaginei que houvesse uma classe dentro da sociedade que seria ideológica. A classe média está corrompida por cargos: é cargo para a esposa, cargo para o cunhado… a sociedade que fica mais na periferia quer gasolina, pneu, e outros favores.

Bordalo ao lado do filho, Bordalo Neto: hoje cada um quer apenas cuidar do próprio umbigo. Fotos: André Silva

Mas entrando na política não seria uma maneira de tentar mudar isso?
Eu vou sair da política partidária. Daqui a alguns dias eu farei uma grande ação social para mostrar às pessoas que eu não preciso ser candidato para fazer isso. Quero que votem em mim porque estou disposto a promover mudanças…
Mas fazer uma ação social não seria alimentar ainda mais esse comportamento do eleitor?
Não. Minha intenção com o evento é tornar minhas ideias e ações mais conhecidas. Por exemplo: estou movendo duas ações populares contra a Assembleia Legislativa, e não recebi apoio de nenhum segmento da sociedade. Ninguém se interessou em combater a corrupção. Enquanto o governo constrói o conservatório de música (Walquíria Lima) do zero, com vários andares e elevador por R$ 7 milhões, a reforma do prédio da Assembleia está custando mais de R$ 11 milhões. Isso é lavagem de dinheiro para boca e urna. Vou continuar com as minhas ações e entrar com novos processos.
Quero tentar mudar a sociedade com a minha profissão, enquanto a OAB, com seus 80 cargos no governo, é omissa. Não ingressa com uma ação civil pública, nem contra o governo, nem contra a prefeitura. É um toma lá, dá cá. É por isso que eu estou decepcionado. Hoje, cada um quer cuidar do seu próprio umbigo.

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