CÁSSIA LIMA
Roupas, sapatos, televisão, rede, peças de aparelhos e uma mochila. Os objetos pessoais do técnico em eletrônica Cláudio Rodrigues de Melo, de 50 anos, estão espalhados de forma organizada em uma parada de ônibus no Bairro Jardim Marco Zero, na zona sul de Macapá, em frente a uma faculdade. É onde ele tem morado nos últimos meses.
“Eu estou aqui pra dar um basta no descaso e moro aqui por protesto. No momento, o único direito que tenho é o direito de não ter nada. Moro aqui por protesto de nunca ser selecionado mesmo estando dentro dos critérios do programa (Minha Casa, Minha Vida)”, justifica.
Simpático e falante, Cláudio Rodrigues conta como foi morar na parada. A história é longa e cheia de percalços.
“Eu vivo dos meus consertos e da ajuda de vizinhos que me emprestam água, banheiro e até lavam as roupas. Graças a Deus tem gente que me ajuda. Mas em muitos lugares não me deixam entrar”, desabafou.
Segundo o técnico, tudo começou há cinco anos, quando ele se inscreveu para participar do Programa Minha Casa, Minha vida, do governo federal. O sonho era conseguir um lar para ele, a esposa e os cinco filhos.
Anos se passaram e ele ficou viúvo, o que o abalou psicologicamente. Além disso, a mãe o internou por causa de transtornos mentais. Após isso, não pôde mais responder por seus atos.
Ele tentou, inclusive, pelos ministérios públicos Federal e Estadual conseguir moradia, mas diz que nunca obteve resposta.
Há cinco meses, ele saiu da casa da filha, onde morava de favor, e foi morar próximo da ponte da ponte da Lagoa dos Índios porque queria privacidade e não tinha como ajudar nas despesas de casa.
“Eu escolhi morar lá porque tinha água e eu já aproveitava para o banho. Mas muita gente frequenta lá à noite. Me batiam dormindo, jogavam água e roubavam minhas coisinhas”.
Mesmo já morando na rua ele continuava correndo atrás de moradia. Chegou a falar com gestores e assistentes sociais da Secretaria Municipal de Assistência Social e do Trabalho (Semast), mas não teve êxito.
“Decidir morar nessa parada por causa das câmeras ao redor. Se alguém vem me fazer mal eu corro pra perto de uma. Mesmo assim, já fui roubado, sofri agressões e acidente de carro. Vejo pessoas sendo assaltadas na parada e quem para por aqui faz chacota”, conta triste.
O morador da parada de ônibus trabalha como técnico de televisores, geladeiras, máquinas de lavar, portão elétrico e ventilador. Ele oferece os serviços e atende pelos contatos 99117-8485 e 98132-8580. Ele precisa de ajuda.
“Minha renda mensal é quase nada, tem mês que peço porque não quero roubar. Eu sonho um dia em ganhar um apartamento do programa. Nesse momento me viro para sobreviver”.
CTMAC
A Companhia de Transportes e Trânsito de Macapá (CTMac) já tentou retirar o morador da parada, mas, devido a questão social, o caso foi encaminhado para a Secretaria Municipal de Assistência Social e do Trabalho (Semast).
Semast
A Semast informou que já tem conhecimento do caso e está tomando as medidas necessárias. De acordo com a assistente social da secretaria, Cristina Almeida, o relatório técnico-social do seu Cláudio Rodrigues já está finalizado. Ele deverá ser encaminhado para um aluguel social.
“Nós o visitamos, procuramos a família dele. E levantamos que ele sempre teve a vida de andarilho. Que devido aos problemas psicológicos ele prefere morar só”, disse a assistente.
Ela informou ainda que o técnico se inscreveu no programa habitacional, mas, em um determinado momento, ele deixou de acompanhar e atualizar o cadastro e perdeu a oportunidade.