Cinema amapaense, em breve nas melhores salas do Brasil

Filme amapaense é destaque no maior evento de tecnologia e mídias digitais da América Latina.
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MANOEL DO VALE

No último dia 8 de abril, no Rio de Janeiro, a Amora Filmes, produtora amapaense de cinema e TV, foi protagonista de um feito até então inédito para o cinema na Amazônia: saiu do maior encontro de negócios da América Latina entre produtores independentes, profissionais de televisão e mídias digitais, a Rio2C Creative Conference, com distribuidora fechada e também um canal de TV para a segunda janela de exibição do filme “Depois da Tempestade”, longa vencedor do 1º Edital de Produção Audiovisual FSA do Amapá em 2017.

A performance da Amora Filmes, que está há dez anos no mercado audiovisual brasileiro com sede no Amapá e um braço em São Paulo, é mais uma grande conquista da categoria desse segmento que há uma década e meia vem ganhando força, volume e, agora, também mercado.

Mas não foi fácil

Aprovado pela Lei do Audiovisual (Lei 8685/93), o filme tem previsão orçamentária de dois milhões de reais, o que no mercado brasileiro é considerado baixo orçamento.

O financiamento principal, R$ 1 milhão, vem da parceria Ancine – com recursos do Fundo Setorial do Audiovisual – e o governo do Amapá, que, além de “Depois da Tempestade”, fomentam outras 11 produções, entre minisséries, documentários, curtas de ficção e animação para exibição em TV pública, num total de R$ 3 milhões investidos em projetos locais.

“Não foi fácil. Para cada porta aberta, a gente bateu em pelo menos outros cinquentas”, revela o diretor Célio Cavalcante Filho, que, junto com a produtora executiva Rosana Oda, vem desenvolvendo um trabalho de paciência na prospecção de parceiros para a empreitada que é produzir um longa-metragem na Amazônia. Trabalho que rendeu pouco mais de meio milhão de reais entre a iniciativa privada.

“Depois da Tempestade, do cineasta Célio Cavalcante. Foto: Divulgação

Santo de casa

A boa aceitação do projeto entre os empresários do eixo Rio/São Paulo contrasta com a aparente falta de interesse do empresariado local. Apostando que o que realmente falta é uma boa conversa para que estes percebam que investir em cinema é um grande negócio, com retorno garantido, Célio Cavalcante desembarca no próximo dia 16 em Macapá disposto a conseguir mais algumas importantes marcas para exibir em seu filme, desta vez, de empresas do Amapá.

Como reforço na conversa com os empresários, o cineasta traz na bagagem a assessoria de um dos mais experientes escritórios de contabilidade do país, a fim de tirar dúvidas e agilizar o acesso ao investimento através da lei do audiovisual, que funciona com renúncia fiscal do imposto de renda.

O bom desempenho da produção amapaense no Rio 2C é a aposta de que desta vez as empresas amapaenses se animem para fechar parceria.

“Isso mostra um pouco do potencial dos realizadores da região. Por outro lado, o desempenho da indústria do audiovisual, que, mesmo em plena crise econômica, continua crescendo, com faturamento que supera setores tradicionais, é também um atrativo para quem quer investir com segurança e retorno garantido”, desafia Célio.

No evento com os selecionados do edital Foto: Divulgação

Trabalho de gente grande

Com direção assinada por Célio Cavalcante Filho, cineasta tucuju que vem construindo sólida carreira na produção audiovisual brasileira, o filme, um road movie (filme de estrada) que conta a história de Eduardo, Miguel e Amanda, amigos que saem de São Paulo para viver uma aventura na Amazônia amapaense, tem roteiro escrito a seis mãos. Junto com Célio Cavalcante, trabalham na empreitada Diogo Mattos e Rodolfo Valente, que, além do script da obra, assumem papel de protagonistas na trama.

Além dos atores de reconhecimento nacional, mais 20 profissionais amapaenses completam o elenco do filme, que irá contar com cerca de 200 figurantes, e mais 50 pessoas nos trabalhos técnicos, além de dezenas de outros profissionais/empresas para o fornecimento de alimentação, hospedagem, figurino, transporte, entre outros.

As locações previstas para as gravações são as capitais São Paulo e Macapá, e também as cidades de Santana, Oiapoque, Calçoene e Pedra Branca, todas no estado do Amapá.

A equipe técnica conta com profissionais de renome internacional, como o diretor de fotografia, Martin Moody, alemão, radicado em Los Angeles, que fez parte da equipe que recebeu indicação ao Oscar pelo filme Nebraska (2014) e da equipe de fotografia do também candidato ao Oscar “O juiz” (2014) que teve indicação de melhor ator coadjuvante para Robert Downey Jr.

Gabrielle Benato assina a direção de arte. Entre os trabalhos mais recentes, fazendo parte da equipe de direção de arte, estão “Mariguella”, primeiro longa-metragem dirigido por Wagner Moura, e a série “Assédio”, da Rede Globo.

A direção de produção fica a cargo de Ronald Kashima, que em seu portfólio tem”Linha de passe”, película dirigida por Walter Salles (vencedora do festival de Cannes, melhor atriz 2008), “Vade Retro” (TV Globo/O2 filmes) “Joacas” (Disney Channel),
”Lili a ex” (GNT/O2 filmes) e
”Psi” (HBO).

Márcio Câmara é o responsável pela captação de som, um dos mais premiados profissionais da área na América Latina (já conhecido dos amapaenses, pelas oficinas e trabalhos realizados aqui no Amapá).

Rodolfo Valente: scripit e protagonismo na obra. Foto: Divulgação

Sinopse

O Brasil de gente pacata e hospitaleira, gente pacífica, o país do samba, futebol e do amor, não existe mais. Em meio à crise política, onde os cidadãos usam como armas suas redes sociais e saem para as ruas em protestos defendendo suas opiniões e lados – sem ouvir o outro – existem pessoas preocupadas com o bem comum e que respeitam as diferenças. Amanda é uma jovem socióloga que após anos morando em Macapá, volta a São Paulo para fazer um doutorado. Ao reencontrar seus velhos amigos, acaba dando uma nova chance ao antigo namorado, Miguel. Ela retoma a sua vida na capital paulista, as lutas sociais e o forte engajamento político. Após um trágico acidente, Miguel e Eduardo partem para o norte do Brasil em busca de quem é Amanda. No entanto, a viagem se torna o encontro com eles mesmos e seus antigos ideais, além do contato com o universo desconhecido da Floresta Amazônica, resgatando valores perdidos de um país que ainda pode dar certo.

Martin Moody, diretor de fotografia. Foto: divulgação

Bagagem

A produtora Amora filmes

Fundada em 2007 pela produtora executiva Rosana Oda, a Amora Filmes em pouco mais de dez anos já tem um portfólio robusto, onde estão coproduções nacionais, como o longa “Eu, Nirvana” e a série de TV “Sacoleiros S/A” realizados com a Visagem Filmes.

A série de TV “Mad Scientists – cientistas que ninguém quis ouvir, com a também produtora amapaense Castanha Filmes.

“Brasileiros S/A”, com estreia em junho no canal CineBrasilTV (SKY 184), é uma série com produção associada com a Crazy Monkey, produtora do comediante Rafinha Bastos, com quem Célio Cavalcante divide a direção.

Filmando Brasil a fora, a produtora já levou vários profissionais do estado para trabalhos nacionais, como séries de TV e longas-metragens em coprodução com produtoras de outras regiões, proporcionando o intercâmbio importante para o aprimoramento técnico de nossos profissionais.

Em 2017 a Amora Filmes comemorou seus 10 anos de mercado, com a seleção de “Depois da Tempestade” no 1º Edital de Produção Audiovisual FSA do Amapá, seu primeiro e grande objetivo conquistado.

Com foco em projetos inovadores e de conteúdo social, ao longo dos últimos anos, tem a frente o diretor Célio Cavalcante e equipe de profissionais jovens e talentosos do mercado nacional e internacional. 

O diretor Célio Cavalcante Filho 

Amapaense, com formação em direção cinematográfica pelo The Mel Hoppenheim School of Cinema, Faculty of Fine Arts, Concordia University (2002), e assistente de direção, na McGill University (2003). Na publicidade, atendeu clientes como Governo do Amapá, Governo de Pernambuco, Governo do Pará, Governo do Amazonas, Banco da Amazonia, Y.Yamada, Sundown Motors, Mitsubishi, VALE, entre outros. Na TV, acaba de finalizar a obra “Brasileiros S/A”, na qual assina a Direção e o Roteiro, estreia prevista para junho de 2018 no canal CineBrasilTV (Sky 184) e está em finalização com a série “Mad Scientists – Cientistas que ninguém quis ouvir”, esse segundo em coprodução com outra produtora amapaense, a Castanha filmes, ambos projetos contemplados pelas Chamadas Públicas do BRDE/FSA. No cinema destaque para o curta-metragem “Juliana Contra o Jambeiro do Diabo Pelo Coração de João Batista”, exibido no Festival de Cannes (2012), e “Ribeirinhos no Asfalto”, vencedor do Festival de Gramado nas categorias Melhor Atriz e Melhor Direção de Arte. Foi line producer e diretor de 2a unidade do longa-metragem “Eu, Nirvana” (Ficção, direção e roteiro Roger Elarrat) e está em preparação para o seu longa-metragem de estréia na direção “Depois da Tempestade”.

Seles Nafes
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