SELES NAFES
Quem visita pela primeira vez a Cidade do Panamá, capital do país da América Central com cerca de 4 milhões de habitantes, tem a nítida impressão de que a cidade quer ser uma Dubai no ocidente. Principalmente pelos prédios projetados para serem obras de arte da arquitetura moderna.
Para todos os lados, há arranha-céus em construção. Alguns serão edifícios residenciais, hotéis e prédios comerciais. Os carros mais usados são as SUVs, inclusive pelos serviços de transportes de passageiros por aplicativos. Os táxis são sedãs esportivos.
A cidade respira desenvolvimento, impulsionada pelos royalties das gigantescas atividades portuárias. O turismo é a segunda fonte de renda, seguida do comércio e da pesca. Como entreposto mundial de mercadorias, a Cidade do Panamá absorve boa parte do que é produzido no mundo, e, como área de livre comércio (com redução de impostos), é muito comum encontrar produtos que no Brasil custam o dobro do preço.
Por isso, há muitos shoppings pela cidade e pessoas com sacolas de compras. A maior procura é pelos eletrônicos, como smartphones, notebooks, filmadoras, mas há muitos brinquedos e roupas. Como em qualquer lugar, também há a parte mais pobre e violenta do Panamá. O prático Luis Parays, panamenho, explica que a criminalidade vem aumentando junto com a migração.
No geral, no entanto, a Cidade do Panamá é um local seguro e ideal para viagens românticas ou em família. Uma orla recém-construída, chamada de Cinta Costera, era o acabamento que faltava ao cartão postal às margens do Oceano Pacífico.
Quem quer curtir a parte velha da cidade tem que ir ao bairro Casco Viejo (Casco Antigo), que começou a ser reconstruído em 1671, depois que o lugar foi completamente destruído por piratas.
O bairro foi restaurado recentemente, e hoje recebe dezenas de pubs, restaurantes e hotéis que mantiveram a arquitetura original das edificações, mas por dentro estão cheios de sofisticação e bons serviços, cardápios e ambientes requintados.
Os preços não são absurdos. A média dos pratos individuais varia entre U$ 9 e U$ 20 (R$ 26 e R$ 80), dependendo do local escolhido. Em restaurantes mais luxuosos a refeição passar dos US$ 40, facilmente.
No entanto, é preciso evitar passear pela cidade, especialmente no centro, na hora do rush. O trânsito para. Os motoristas já perderam a paciência, e dirigem com a mão na buzina.
Canal
Os atrativos do Panamá não param por aí. O centenário Canal do Panamá é parada mais que obrigatória. O local levou 20 anos para ser construído e completou 100 anos em 2014.
Para entender a importância do canal, os turistas mergulham na história da região. Em espanhol (idioma oficial do país), os monitores explicam que o país foi ocupado por espanhóis até a independência conduzida por Simón Bovilar, militar que retirou do poder espanhol o Peru, Venezuela, Equador, Bolívia e a Colômbia. Este último passou a governar o Panamá.
No início do século 20, o país também queria se separar da Colômbia, mas os Estados Unidos interferiram no processo. Os americanos compraram a concessão das obras do canal e retomaram a construção.
A briga interna pelo Panamá, sempre com interferências exteriores, terminou com os assassinatos de vários líderes políticos do país. Em 1983, o general Manuel Noriegua, então comandante das forças armadas, tomou o poder. Seis anos mais tarde, o Panamá foi invadido pelos Estados Unidos. Os americanos só se retirariam do país em 1999.
Como na maioria dos conflitos bélicos, a principal motivação não foi ideológica. Estava em jogo o controle da navegação mercante mundial.
O Panamá fica na parte mais estreita da América Central, separando os oceanos Atlântico e Pacífico. A criação do Canal do Panamá, ao longo de 80 quilômetros, possibilitou o encurtamento das rotas mercantes em vários dias, gerando economia de milhões de dólares às transportadoras e países exportadores.
Se o Panamá um dia poderá ser uma espécie de Dubai do acidente é justamente por causa do Canal do Panamá, que foi ampliado com a construção de um canal paralelo (e mais profundo). O novo canal começou a operar em 2013, dando passagens entre os dois oceanos para os maiores navios do mundo, alguns com mais de 400 metros de comprimento, os chamados “Pós-Panamax”.
Cada embarcação dessa é capaz de transportar 13 mil contêineres. Por dia, passam pelo canal entre 35 e 40 navios.
Passeio
Na parte antiga do Canal do Panamá existe um centro de visitação com mirantes, museu, lanchonetes, e um cinema. O centro fica na “Esclusa de Mira Flores”, onde está uma das três comportas que se enchem de água e elevam os navios para o nível de um lago artificial (Gantum) e depois para o nível do Oceano Atlântico, corrigindo a diferença de 4 metros entre eles.
Os visitantes conseguem ver os navios entrando na Mira Flores puxados por potentes locomotivas. Depois que a comporta se fecha, o lugar é invadido por 128 milhões de litros de água em apenas 8 minutos. É possível perceber o navio subindo antes dele prosseguir para a próxima esclusa e chegar ao Oceano Atlântico em apenas 8 horas.
No museu do canal, o visitante passa por várias exposições. Uma delas mostra os operários que trabalharam e morreram de malária em duas décadas de construção. Foram centenas de mortes. Há também objetos originais usados na construção do canal, e réplicas em miniatura dos navios que dragaram o recém-construído canal.
No cinema, um documento empolgante sobre a construção do canal arranca aplausos dos turistas, a maioria de países do entorno, como colômbia e Venezuela. Também há muitos americanos, portugueses e alguns brasileiros.
“Canal do Panamá: uma obra colossal com resultados épicos”. Essa é a frase que encerra o documentário e termina a sessão com uma ovação que dura quase 1 minuto.
Para chegar ao Canal do Panamá, saindo de Macapá, é preciso primeiro pegar um voo até Manaus (AM), de onde decolam aviões de várias empresas para o Panamá e outros destinos. Um deles é a Copa Air Lines, na qual viajamos. A duração do voo é de apenas 3 horas e meia. Não é preciso ter visto para entrar no país.
O aeroporto de Tocumem fica a apenas 20 km do centro da cidade. Dentro do aeroporto existe um shopping center. Os preços, praticamente, são os mesmos encontrados no comércio panamenho.
Boa viagem!