“É estarrecedor”, diz conselheiro sobre pais abusadores em Tartarugalzinho

Em um mês foram seis casos de crianças abusadas pelos pais na cidade. Também há casos de primos abusadores
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SELES NAFES

No dia a dia, os conselheiros tutelares se deparam com muitas histórias de sofrimento envolvendo crianças maltratadas. Mas é no interior do Amapá que estão alguns dos casos mais chocantes, como em Tartarugalzinho, cidade a 232 quilômetros de Macapá. No município que já foi o campeão em índices de natalidade na década de 1990, os casos de abuso sexual são quase uma cultura.

Tartarugalzinho tem cerca de 15 mil habitantes vivendo na sede do município e em suas 33 comunidades. Mesmo sem mobília para sentar, e espaço adequado para atender separadamente as crianças, apenas cinco conselheiros tutelares lutam para proteger as crianças.

O mais impressionante e monstruoso nas histórias é que os próprios pais são os abusadores em mais de 90% dos casos de Tartarugalzinho. Historicamente, os padrastos e vizinhos dominavam as estatísticas como os principais vilões. 

Em Tartarugalzinho, também há muitos episódios em que primos foram vítimas dos primos mais velhos. O portal SELESNAFES.COM conversou com o conselheiro Robson Penha, presidente do Conselho Tutelar da cidade. 

Qual caso o senhor lembra que seja mais recente?

Teve um caso onde o primo de 19 anos estuprou a prima de 11 anos. A mãe da menina tinha um caso com ele, ou seja, ele tinha um caso com a própria tia. Resumindo: ele tinha um romance com a tia e abusava da prima.

Entrada do município de Tartarugalzinho, a 232 km de Macapá. Fotos: Seles Nafes

Como vocês souberam desse caso?

Denúncias anônimas pelo Disque 100. A população fica sabendo desses casos e o Ministério Público pede para a gente apurar.

Como foi que terminou esse caso?

O agressor está na penitenciária, e as crianças foram retiradas da mãe. Estão com um parente mais próximo e recebendo apoio psicológico.

Existem outros casos em que as crianças foram retiradas dos pais?

Sim. Só este mês trouxemos seis crianças para Macapá, todas abusadas pelos próprios pais. Passaram por exames na Politec (Polícia Técnico-Científica) da capital que atestaram que as meninas não são mais virgens. Nesses casos os agressores (os pais) ficaram nas casas porque não existem provas suficientes de que foram eles.

Robson Penha: conselheiros sofrem, mas não podem demonstrar

Quais as idades dessas crianças?

Seis a 14 anos. Foram os pais que abusaram. É estarrecedor. Você fica perplexo…

Como vocês conselheiros lidam com esse tipo de situação? Deve ser bem sofrido para vocês…

A gente sofre. Mas recebemos instruções psicológicas do Centro de Operações do Ministério Público. Por mais que a gente sofra a gente não tem que demonstrar. Naquele momento a criança vê na gente a única ajuda. Por isso temos que manter a calma e passar segurança.

Para onde as crianças que não têm outros parentes são levadas?

Como não temos uma casa de apoio em Tartarugalzinho, as vezes a gente leva as crianças até para a nossa casa, enquanto a justiça não decide a situação delas.

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