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Ari Silva ainda era criança quando atendia clientes no balcão da Mercearia Flor do Amapá, criada pelo pai dele Pedro Souza Silva. O comerciante morreu cedo, aos 52 anos, vítima de uma cirrose provocada por uma doença no fígado.

Trinta anos depois, a história do comércio do Amapá se confunde com a de um dos mais bem-sucedidos empreendimentos desse setor, a Rede de Supermercados Santa Lúcia. O grupo completa três décadas de um percurso com muitos desafios vencidos e com um olhar sempre no futuro.

Diretor de marketing e um dos três irmãos responsáveis pelos rumos da empresa, Ari Silva conversou esta semana com o portal SelesNafes.Com.

Ele relembrou os momentos mais importantes da trajetória do grupo, e revelou que a próxima etapa será abrir uma grande loja na zona oeste de Macapá, onde ficam os bairros do Goiabal, Marabaixo, Coração e vários condomínios.

Pedro conseguiu ensinar os filhos a comprar e vender

1986: João (azul) e Ari Silva atendem clientes na Flor do Amapá. Fotos antigas: Acervo particular

Quando começou a história do Santa Lúcia?

O Santa Lúcia começou em 1988, mas antes disso a gente começou trabalhando com o nosso pai que tinha um box no Mercado de Peixes (Mercado Central). A Mercearia Flor do Amapá funcionou de 1980 a 1986, e vendia de tudo: gaiola, ração, tempero…Eram 10 metros quadrados e tinha produtos pendurados por todos os cantos. Vendia muito. Era o tempo em que vendia no retalho, como querosene para lamparina e até a lamparina.

Quando vocês começaram a ajudar na mercearia?

O nosso pai começou a levar primeiro os meus dois irmãos que são um pouco mais velhos. Eu fui com uns 12 anos. Quatro da manhã eu tinha que levantar e às 5h a gente começava a trabalhar. A gente nem conseguia chegar na altura do balcão. O meu pai começou a colocar a caixa de sabão (que era em madeira) pra gente subir e atender no olho do cliente.

Mercantil Bom Vizinho, na Rua Eliezer Levy

Loja na Padre Júlio foi um grande passo…

Aparência atual da mesma loja. Fotos recentes: Seles Nafes

Quando o empreendimento saiu do box e virou algo maior?

Em 1986 o nosso pai morreu de cirrose hepática. Como ele não bebia e nem fumava, a causa pode ter sido alguma doença encubada, como malária e hepatite, já que ele andava muito pelo interior comprando farinha e outros produtos. Nós continuamos trabalhando no mercado até que, em 1988, surgiu a oportunidade de abrir um mercantil (na Rua Leopoldo Machado) quase em frente ao shopping. Lá fizemos o Mercantil Santa Lúcia. O dono queria vender a mercadoria e alugar o prédio. Com muito esforço emprestamos dinheiro e abrimos. Foi quando entramos no autosserviço, onde o cliente entra e escolhe os produtos. É a venda direta.

Loja na BR-210 surgiu após pedidos de moradores. Foto: Acervo particular

Então deu certo…

Sim. Conseguimos viabilizar o mercantil. Eu continuei no mercado com meu irmão Marco, e enquanto o João ficou no mercantil. Em 1991 conseguimos comprar o Mercantil Bom Vizinho (Rua Eliezer Levy, Bairro do Laguinho). Foi quando tivemos que sair do mercado após observarmos a migração do comprador.

Como assim?

Nós abríamos 5h e vendíamos muito, mas o movimento foi perdendo força e se criaram outros polos na cidade. Surgiram outros açougues e peixarias na cidade que atraíram esse movimento. Então percebemos que tínhamos que sair lá dentro.

Qual foi a estratégia?

Foi quando compramos o mercantil e depois compramos o Bom Vizinho, indo em definitivo pro autosserviço.

Evento com Papai Noel na antiga loja da Jovino Dinoá…

…que em 2014 deu lugar ao Hipercenter

Por que deu certo? O comércio era uma vocação natural ou vocês tinham algum diferencial?

Foi a vocação na época porque não tinha indústria e nem agricultura. Ou você era comerciante ou servidor público. O nosso pai ensinou a gente a comprar e vender. Era preciso saber vender e comprar. Hoje é mais complicado, tem que entender de contabilidade e direito pra a empresa dar certo.

Quando vocês estavam no balcão vocês sabiam o que as pessoas queriam. Como foi possível transferir essa expertise para o autoatendimento?

Como a gente aprendeu a comprar e vender só fizemos adaptar para uma realidade que estava se criando, que era o setor de autosserviço. Fomos audaciosos. Começamos a divulgar no tempo em que apenas as empresas grandes anunciavam. Apostamos também na variedade e no conforto. Em 1994, nós inauguramos no Bairro do Trem o Santa Lúcia já com o nome de supermercado e em prédio próprio.

Então foram 3 fases importantes: a mercearia, a saída para o autosserviço e a criação do supermercado?

Exato. E foi uma audácia na época ter um supermercado com ar-condicionado. Fomos os primeiros a fazer isso.

Hipercenter teve formato diferente…

…com magazine

…restaurante e lojas satélites

Padaria e lanchonete

Qual foi o passo seguinte?

Em 1996, fomos para a (Avenida) Padre Júlio, onde funciona a nossa matriz. Lá foi um passo maior, porque precisamos acreditar. Não tínhamos dinheiro suficiente pra fazer aquilo, mas vimos uma oportunidade quando um supermercado encerrou as atividades lá (no mesmo prédio). Foi um desafio enorme, porque saímos de uma loja de 300 metros quadrados para 800 metros quadrados.

E a ida para a zona norte, foi planejada?

Recebíamos muitos pedidos de moradores de lá para abrir uma loja para atendê-los. Quando abrimos, a BR-210 ainda não era tão urbanizada, tinha muita poeira. Era 2004.

Em 2014 foi inaugurado o Hipercenter Santa Lúcia. Qual foi o objetivo?

Temos um compromisso com esse bairro. Minha mãe ainda mora aqui. Foi um passo grande, com uma loja planejada, com lojas satélites, restaurante, e trouxemos até um arquiteto de São Paulo.

Mas logo depois veio a crise econômica. Como foi essa fase?

Houve uma forte retenção no consumo que se refletiu nas vendas e nas estratégias para pagar os investimentos. Tivemos que equilibrar venda e despesa. Olhamos para dentro da empresa para ver onde poderíamos reduzir. Em último caso fizemos redução de funcionários, mas no menor nível possível, pois temos compromisso com a geração de emprego. Sempre crescemos contratando, mas tivemos que dispensar e foi triste. Até que conseguimos equilibrar. Foram 4 anos sem crescimento, mas equilibrando e isso não gera perspectiva de novos investimentos. As despesas fixas cresceram. A maior delas é a conta de energia que passou do quinto para o segundo maior custo depois da folha de pagamento. Depois que passamos a ser interligados ao Linhão passamos a pagar a bandeira (tarifária) e a conta de energia dos outros (estados).

Ari Silva: Crise impediu expansão nos últimos anos, mas o pior já passou

Mas já que o pior da crise já passou, dá pra visualizar o futuro?

Sim. Já estávamos pensando na zona oeste, mas seguramos por causa da crise. Já temos área e o formato da loja. Só falta começar. Ainda nesta década vamos abrir mais 3 lojas apostando em novos formatos. E vamos começar pela zona oeste. 

Seles Nafes
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