Teste com navio iguala Amapá a outros portos do Brasil

Praticagem do Amapá quer provar que empresas poderão lucrar muito mais passando pelo Canal da Barra Norte
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SELES NAFES
Pela primeira vez, um navio mercante com 11,70 metros de calado (parte do navio que fica submersa) entrou pelo Canal da Barra Norte e passou por Macapá sem problemas. O teste, realizado pela Praticagem do Amapá com autorização da Marinha, pretende provar que a passagem pelo Amapá pode ser feita com uma quantidade maior de carga, o que é ainda mais lucrativo para as empresas e fortalece a a necessidade de um novo porto no Amapá.
O navio de bandeira das Ilhas Marshal, com 199 metros de comprimento, foi contratado pela empresa Cargill para transportar 60 mil toneladas de milho entre Santarém (PA) e o Egito.
“Normalmente, os navios desse tamanho passam por aqui com 20% de espaço de carga ocioso. Mas graças a uma grande mobilização de todos os práticos, com apoio da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), queremos mudar isso. Esse navio passou com 20 centímetros a mais de calado”, comemorou o prático Leandro Caiaffa Orcay, que conduziu o navio durante toda a travessia com apoio de outro prático, Francisco Negrão. O comandante da embarcação foi o ucraniano Adriv Yevsvukov. A tripulação é filipina.
Vinte centímetros parecem pouco para os leigos, mas, para as empresas transportadoras e os produtores de grãos, esse número representa milhões de reais em lucro, já que os navios poderão transportar 1,8 mil toneladas a mais de carga, em média. No caso da soja, por exemplo, cotada na Bolsa de Chicago a R$ 1,5 mil a tonelada, isso quer dizer que as empresas poderão transportar R$ 2,7 milhões a mais.

Navio das Ilhas Marshal que passou por Macapá com maior calado. Fotos: Divulgação

Essa estimativa confirma o que já vinha defendendo o vice-presidente Mundial da Praticagem, Ricardo Falcão. Com apoio de especialistas da USP, Falcão criou o projeto de um porto/indústria em Macapá, que inclui a ampliação e modernização do Porto de Santana. Para ele, o cenário futuro é ainda mais promissor.
“A cada 20 navios você economiza um navio que a empresa precisava fretar. E a expectativa é chegar ao calado de 12,30 metros, ou seja, seis mil toneladas que poderão adicionadas em cada navio”, explica.
“Aumentará a competitividade para toda região, igualando a capacidade do Amapá a de outros portos brasileiros, e permitindo o aumento do investimento na região. A consequência será aumento no número de portos e geração de emprego e renda”, acrescenta.

Prático Francisco Negrão, comandante Andriy Yevsyukov (centro) e prático Leandro Caiaffa Orcay: primeiro teste feito com sucesso

Falcão ao lado do Almirante Edervaldo, comandante do 4º Distrito Naval: expectativa é de calado ainda maior

Cartas de 1950
O primeiro teste faz parte do projeto “Calado Dinâmico da Barra Norte”, e foi realizado entre os dias 22 e 23. Foi o primeiro de uma série de 10 exigidos pela Marinha antes da homologação do novo calado, o que permitirá a passagem de navios nas mesmas condições ou com quantidade ainda maior de carga.
Atualmente, os navios que operam na Barra Norte usam cartas náuticas de 1950. Nunca houve um estudo para mudar esse cenário. As cartas possuem dados sobre profundidade, marés e largura dos canais.
“Há 3 anos começamos a questionar isso. Se os navios passam com calado de 11,50 durante todos os dias do ano, e a gente utilizar a maré do dia para aumentar o calado seria algo óbvio. Pegamos o nosso estudo da maré, que é mais atualizado, e verificamos que poderíamos aumentar o calado em até 1 metro, dependendo da maré”, diz Leandro Orcay.

A Praticagem pretende provar que é possível usar o calado dinâmico em 80% dos dias do ano. O próximo teste ainda não tem data marcada.

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