Oiapoque: sequência de mortes de bebês em hospital preocupa população

Segundo denúncias de familiares, quatro crianças recém-nascidas podem ter morrido na unidade em apenas em uma semana
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ANDRÉ SILVA

Quatro crianças recém-nascidas podem ter morrido num intervalo de apenas uma semana, neste mês de dezembro, no Hospital de Emergência (HE) do município de Oiapoque, a 560 km de Macapá. Segundo familiares, a causa pode ter sido as péssimas condições da unidade de saúde.

A mãe de uma de uma das crianças disse que o filho estava com marcas de queimadura no corpo, que teriam sido causadas por uma incubadora improvisada.

Sebastiana Vilhena Barbosa, de 35 anos, contou que deu entrada no HE de Oiapoque no último dia 15, um sábado, dia em que deu à luz. No nascimento, a criança já apresentou algumas complicações e seria necessário transferi-la para Macapá.

“Falaram pra mim que ele precisava de sangue porque estava muito amarelinho. Então, comecei a me virar para conseguir o avião para levar ele”, relatou.

Sebastiana Vilhena e o filho, antes do falecimento da criança. “Ele estava se agoniando. Não era pra ele ter morrido”

Segundo Vilhena, a direção do HE comunicou que um avião estaria a caminho para transportar à ela e à criança para a capital. Contudo, não foi o que aconteceu. A aeronave chegou ao município, mas um outro paciente teria ocupado a vaga da criança.

“Eu não sabia que era o avião pra mim. Depois que saí de lá, foi que me falaram”, lembrou.

Incubadora improvisada

Assim que o filho nasceu, foi levado para uma sala dentro do hospital, onde ficou em uma espécie de “incubadora improvisada”, de com o relato de Vilhena.

“Encheu de médicos na sala. Pegaram aquela luz da sala de cirurgia, que é forte, aí, deixaram ele bem embaixo. Ele estava se agoniando. Não era pra ele ter morrido”, lamentou a mãe.

Ela contou que ainda tentou alertar os médicos que a criança não estava bem por conta da luz que incidia sobre ele, mas ninguém tomou providências à reclamação.

“Depois que ele já estava morto, fomos olhar o corpinho dele e estava todo queimado, bem vermelhinho”, denunciou.

Uma das crianças na suposta incubadora improvisada da unidade

Depois que tudo aconteceu, a mulher recebeu alta médica do hospital sem o atestado de óbito da criança e sem saber qual foi a causa de morte dela. Sebastiana Vilhena disse que, além do filho, outras três crianças morreram no hospital dentro de uma semana.

Segunda morte

Uma delas foi a neta de Eliete Alves. A mulher contou que foi até o HE no dia 19, uma quarta-feira, como acompanhante da filha, uma adolescente de 15 anos. A paciente teria recebido uma medicação e depois dormiu, segundo relato de Eliete Alves. Próximo das 19 horas daquele mesmo dia, a adolescente foi despertada pela mãe. Àquela altura, a jovem já estava com mais de três centímetros de dilatação, segundo Eliete.

“Eu tive que acordar ela. Dizia: ‘filha, filha, acorda, está quase na hora de ter teu bebê’. Fiquei preocupada. O médico que deveria fazer o parto dela não estava lá. Quem teve que fazer [o parto] foi uma enfermeira. Só depois que o bebê nasceu, é que a pediatra chegou”.

A criança nasceu próximo das 20h, mas Eliete estranhou o fato da criança não chorar.

Sem aparelho para sucção

“Quando levaram ele para a sala para avaliação, não tinha o aparelho para colocar no nariz dele, para sugar os restos do parto. Procuraram, mas não encontraram. Tiveram que fazer a reanimação, porque ele não estava respirando. Depois disso, ele começou a gemer. Depois, levaram ela [a mãe da criança] para sala e ela ficou um pouco lá com ela [o bebê]. Ele começou a gemer mais alto e o levaram para colocar na incubadora, que de incubadora só tem o nome mesmo”, reclamou.

Eliete relatou, também, que a filha ficou mais de um dia sem tomar banho porque a bomba d’água do local estava com defeito. Segundo ela, o neto precisava ser transferido, mas a direção do hospital alegou que a ambulância da unidade estava com defeito. Três dias depois do nascimento, já na sexta-feira (22), a criança faleceu.

“Tentaram reanimar, reanimar, mas ele não resistiu e morreu. Ele precisava ir para Macapá com urgência, mas o pessoal do hospital não fez nada. Nenhum momento a direção do hospital veio me procurar ou falar com ela. O hospital não tem condições para atender um recém-nascido que nasce com problemas. Eu tive que comprar remédio para dar para meu neto”, protestou Eliete Alves.

Apuração

O promotor substituto de Oiapoque, David Zerbini, não quis entrar em detalhes sobre o caso das duas crianças citadas nesta reportagem, mas confirmou as mortes delas e de outras ocorridas no hospital. Informou que foi instaurado um processo de investigação.

O Portal SelesNafes.com falou com a prefeita da cidade, Maria Orlanda (PSDB), mas a entrevista foi interrompida e ela não atendeu mais o telefone. Antes da ligação cair, a prefeita confirmou a morte de mais duas crianças no HE.

Também contatada pelo Portal SN, a Secretaria de Saúde do Estado do Amapá (Sesa), que administra o hospital, ficou de se pronunciar sobre o caso, mas até o fechamento da matéria não respondeu.

Fotos: Arquivo Pessoal

Seles Nafes
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