LEONARDO MELO
“Proibido roubar na quebrada… F.T.A”. A frase – ou melhor, a ordem – é um mandamento de uma espécie de “código de ética” imposto por criminosos que dominam o tráfico de drogas no Conjunto Macapaba, onde moram aproximadamente 25 mil pessoas.
O recado seria para bandidos de dentro e fora de uma facção que atua no Amapá e está espalhado nas paredes de lixeiras do conjunto, que fica localizado na zona norte de Macapá. A orientação proíbe crimes contra qualquer cidadão da comunidade. Somente na tarde desta segunda-feira (14), pelo menos mais duas pichações com a “orientação” foram encontradas em diferentes blocos do conjunto.
Segundo moradores, esses avisos têm relação com execuções que aconteceram recentemente no habitacional. As vítimas teriam realizado diversos crimes na comunidade, como furtos e roubos, e por isso, “em respeito ao cidadão de bem”, teriam morrido em acerto de contas com a facção por descumprirem o que foi determinado.
“Inclusive ontem [domingo, 13], mataram um porque ele roubou aqui. Segundo um malandro que tem aqui no prédio, que tava porre e soltou a língua, a ordem agora é não roubar ninguém no Macapaba, roubou morreu”, disse uma moradora que não será identificada.
Mas, o que parece ser uma proteção à comunidade, na verdade é uma cobertura para outro crime: o tráfico de drogas. O problema dos roubos para criminosos é que eles tornam a presença da polícia mais frequente, o que prejudica a comercialização de entorpecentes, crime mais lucrativo que pequenos roubos e furtos.
A morte de Everton Pinheiro da Fonseca, de 18 anos, morto no domingo, 13, com oito tiros, na Quadra 11 do residencial, não seria o primeiro caso ocorrido por desobediência às ordens da facção.
“Um tempo atrás, há quase um mês, mataram um outro, ali, nas casinhas, e também foi por causa disso. Ele roubou, e já tinha sido avisado pra não roubar mais nada aqui no Macapaba. É o que a gente ouve por aqui. Se continuar assim, vou achar ótimo, que os ladrões vão tudo levar o farelo”, disse outra moradora que também não será identificada.
A polícia ainda não confirmou se, de fato, os crimes têm relação com as pichações e determinações do grupo criminoso que se instalou no Macapaba. Procurado pela reportagem, o comando do 2° Batalhão da Polícia Militar (PM) ficou de informar uma data de quando se pronunciará sobre o assunto.
Fotos: Leonardo Melo/SN