Por SELES NAFES
Os cerca de 11 mil habitantes do município de Calçoene, a 374 km de Macapá, têm razões de sobra para estarem preocupados com o destino da cidade onde asfalto nas ruas é uma raridade. Depois de uma operação policial que resultou em denúncia contra o prefeito Jones Cavalcante (PPS), agora foi a vez da vice-prefeita, Ângela Avelar (Rede), renunciar ao mandato.
A crise política em Calçoene começou em 2016 quando a Justiça Eleitoral do Amapá cancelou o resultado da eleição para prefeito. O eleito, Reinaldo Barros (PDT), não conseguiu reverter uma condenação por improbidade administrativa e acabou perdendo os direitos políticos após a eleição.
Em novo pleito, realizado em março de 2017, o vencedor foi Jones Cavalcante, tendo como candidata à vice a servidora pública estadual Ângela Avelar, nascida na Comunidade do Goiabal e liderança com forte trabalho social na região. No currículo, ela também ostenta a experiência como secretária de Finanças de Calçoene nos dois mandatos de Lucimar Lima (2009/2016).
“Não respondo a nenhum processo”, diz orgulhosa Ângela Avelar, procurada pelo Portal SN.
Na nova campanha, ela chegou a abrir mão da pretensão de disputar a prefeitura, gesto feito em nome de um arco de alianças mais amplo, e que, em tese, daria mais condições para Calçoene avançar.
Ângela Avelar revela hoje que viu naquele momento a oportunidade de Calçoene ter um prefeito ligado ao governador Waldez Góes (PDT) e uma vice bem relacionada com dois senadores, Davi Alcolumbre (DEM) e Randolfe Rodrigues (Rede).
“Eu pensei que com esse apoio Calçoene ia avançar”, lembra.
“Eu fiquei isolada. Nunca houve disposição dele (prefeito Jones) para que eu participasse da gestão. Eu não era chamada para reuniões com os secretários, para nada. Eu só tinha uma sala (na prefeitura) porque eu mesmo montei uma com recursos próprios”, comenta.
Jones e Ângela assumiram os mandatos em abril de 2017. Um ano e meio depois, em setembro de 2018, a prefeitura de Calçoene foi alvo da Operação Sangria, deflagrada pelo Ministério Público do Estado e Polícia Civil. O objetivo foi investigar denúncias de fraudes em licitações e pagamentos ilegais na nova gestão.
Foi aí que a insatisfação da vice-prefeita aumentou ainda mais. A operação ocorreu num dos raros momentos em que ela esteve no exercício do mandato de prefeita na ausência de Jones Cavalcante. Mesmo sem participar diretamente da gestão, ela também acabou sendo alvo do cumprimento de mandado de busca e apreensão durante a operação do MP.
“Depois disso comecei a ser cobrada por pessoas que viam que eu não era convocada para nada, e mesmo assim estava recebendo o salário de vice. Isso estava pegando mal”, lembra.
Há um ano sem falar com o prefeito e nem com os secretários, os quais teriam ordem expressa do prefeito para não se comunicarem com ela, Ângela Avelar decidiu seguir o conselho dos amigos, aliados e eleitores, e entregou na prefeitura sua carta de renúncia.
Ao fazer isso, Ângela Avelar abriu mão do salário de pouco mais de R$ 6 mil (brutos). O salário de prefeito é de R$ 13 mil, em Calçoene.
“Continuarei meu trabalho político e serei candidata em 2020”, avisa.
Calçoene é um dos mais importantes polos pesqueiros do Amapá, mas é uma cidade destruída pelas más gestões, falta de oportunidades de emprego e serviços públicos precários.
Quem chega pela primeira vez à cidade tem a nítida impressão de que as ruas foram bombardeadas numa guerra. A renúncia da vice-prefeita, é mais um episódio lamentável na triste história recente da cidade que tinha tudo para ser uma das mais desenvolvidas do Amapá.
O Portal SN tenta contato com o prefeito Jones Cavalcante.