Após agressões, menino foge do pai e mãe tenta trazê-lo da Guiana Francesa

Menino de 12 fugiu de casa após espancado pelo pai. A criança está vivendo em um abrigo
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Por SELES NAFES

A justiça da Guiana Francesa retirou da guarda do pai brasileiro um menino de 12 anos depois que a própria criança o denunciou por maus-tratos. Aflita do outro lado do Rio Oiapoque, a mãe do menino agora se prepara para enfrentar o ex-marido num tribunal francês e tentar trazer o filho de volta ao Brasil.

Natural de Calçoene, Patrícia Mendes Costa conheceu o mestre de obras Edivan Mescoito (sic) Ataíde quando, aos 18 anos, ela foi trabalhar em uma rádio como locutora, no município de Vigia (PA).

Depois disso, ela aceitou uma proposta de emprego e veio morar em Macapá, onde deu à luz o primeiro filho do casal, Eduardo Nazário Costa Ataíde, hoje com 12 anos.

Em seguida, foram tentar a vida em Castanhal (PA), onde o marido recebeu um convite para trabalhar clandestinamente na Guiana Francesa. A proposta foi aceita, mas Edivan Ataíde foi sozinho.

No início, o mestre de obras mandava dinheiro, mas, depois de algum tempo, a ajuda parou de chegar porque o marido alegava estar em situação difícil. Em 2010, Patrícia decidiu ir à Guiana checar a situação do marido, e constatou que ele estava mesmo vivendo em condições precárias.

Patrícia diz que o então marido sempre teve um comportamento violento, e que teria sido agredida várias vezes por ele. Mesmo assim, ela ainda permaneceu por dois meses com ele antes de retornar para o Brasil com Eduardo e o segundo filho do casal.

Nos meses seguintes, ela e os filhos moraram durante um tempo em Calçoene e também em Macapá, quando a tia dela, que já a ajudava financeiramente na capital, fez a proposta de adotar o segundo filho para garantir que ele tivesse a melhor educação.

“Eu aceitei, porque a mãe verdadeira quer sempre o melhor para o seu filho”, justifica.

Patrícia com Eduardo em Oiapoque, num período de férias

Casamento na Guiana

Patrícia passou a viver apenas com o filho mais velho, Eduardo, quando o ex-marido reapareceu, desta vez casado com uma francesa de pouco mais de 60 anos. Com a nova situação civil, ele havia conseguido permissão do governo francês para morar legalmente na Guiana Francesa.

“Ele (Eduardo) sempre teve uma admiração muito grande pelo pai, quando ele aparecia, conversavam muito. E o Edivan me perguntou se eu queria que ele tivesse a melhor educação e me pediu para levar ele para estudar na Guiana. Eu quis sempre o melhor para os meus filhos. Hoje, ele fala três idiomas e é muito inteligente”, comenta a mãe.

Pedido estranho

Três anos depois, em março deste ano, o menino veio passar as férias com a mãe, que já morava em Oiapoque, onde trabalha como assessora de imprensa na prefeitura. O menino revelou que não queria mais morar com o pai, e pediu insistentemente para voltar a viver com a mãe, que não concordou.

“Eu estranhei, mas ele não explicou o motivo”, lembra Patrícia.  

O motivo seria revelado alguns dias depois. Na semana passada, acostumada a receber chamadas de vídeo do filho, Patrícia estranhou a falta de contato por vários dias, até que, na sexta-feira passada (12), o menino fez uma chamada de vídeo para ela pelo aplicativo messenger, do Facebook.

Quando a imagem abriu no celular dela, Eduardo estava ao lado da madrasta e de duas assistentes sociais francesas em um abrigo para menores na Guiana. O menino relatou que estava sendo guardado pela justiça porque denunciou o pai após mais uma sessão de espancamento.

“Ele disse que não quer que o pai chegue perto dele. O pai não sabe onde ele está, só a madrasta recebeu permissão para ir ao local. Ele começou a chorar e eu entrei em desespero. (…) Ele disse que se continuar lá, vai matar o pai ou se matar”, acrescentou.

Eduardo fugiu de casa após agressões

Patrícia luta contra o tempo para reunir todos os documentos que a justiça francesa está exigindo até o dia 30, data da audiência em Caiena, incluindo visto. Ela está recebendo apoio do consulado francês e da prefeitura de Oiapoque.

Patrícia precisará levar todos os documentos traduzidos e ainda terá de estar acompanhada de um advogado francês.

Seles Nafes
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