“Tive que dar um freio”, diz vereador que virou prefeito em Calçoene

O presidente da Câmara de Vereadores de Calçoene, Júlio Sete Ilhas (MDB), demitiu todos os secretários do prefeito preso e agora tenta reerguer Calçoene
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Por SELES NAFES

Calçoene tinha tudo para ser uma das cidades mais desenvolvidas do Amapá, mas é uma das mais pobres. Mesmo sendo dono de um dos maiores polos pesqueiros do Estado, de farta pecuária, reservas minerais e terras, o município enfrenta uma crise sem precedentes com origem no colarinho branco.

Cidade a 380 km de Macapá e com 17 mil habitantes, Calçoene teve uma eleição cancelada (2016) e o prefeito eleito no novo pleito, Jones Cavalante (PPS), foi preso em março. Ele é suspeito de desviar R$ 10 milhões da prefeitura, segundo o Ministério Público do Estado.

Como a vice-prefeita tinha renunciado ao cargo, coube ao presidente da Câmara, Júlio Sete Ilhas (MDB), a espinhosa missão de fazer Calçoene se reerguer, ou pelo menos de não afundar de vez.

O Paraná, seu estado natal, lhe deu o sotaque, e a educação a fala mansa e compassada. Servidor de carreira da Justiça do Amapá e presidente da Câmara Municipal, Sete Ilhas está apenas no primeiro mandato de vereador, e agora de prefeito interino, função que ele nunca imaginou que caberia assumir, pelo menos não agora.

Uma das primeiras providências no dia 13 de março, quando foi convocado para assumir o mandato, foi demitir todos os secretários de Jones e “dar um freio”. Agora, ele tenta puxar pelos cabelos uma Calçoene com níveis baixíssimos de urbanização e dados estratosféricos de desemprego.

O Portal SelesNafes.Com conversou com o prefeito interino de Calçoene.

Nascido no Paraná, prefeito interino é servidor da Justiça. Fotos: Seles Nafes

Essa crise atrasou o pagamento do funcionalismo?

Sim. Não foi por falta de recurso. Na realidade nós ainda não conseguimos acessar as contas da prefeitura. Só consegui acessar uma conta para fazer o repasse do duodécimo da Câmara, que é constitucional e não poderia atrasar.

Quando normaliza a folha de pagamento do funcionalismo?

Dia 26 ou 27 estaremos pagando o mês de março, e fazendo o pagamento de abril junto logo no fim do mês.

O senhor substituiu todo o secretariado?

Sim. Precisamos de uma maneira nova de pensar a cidade.

A cidade está bem destruída…

Sim. Estamos num processo de reconstrução. Eu pedi para todos os novos secretários pensarem cada segmento da sociedade, cada setor da cidade com os cuidados. Precisamos parar de olhar para os contratos e parar de pensar em espremer em busca de sobra de recursos, porque não assim que funciona mais. A sociedade cobra a plena utilização dos recursos.

E as aulas na rede municipal, já começaram?

Sim, mas agora fomos brindados com uma paralisação de três dias dos professores por conta de coisas antigas.

Área portuária de Calçoene: potenciais que já poderiam ter transformado a cidade

O senhor diria que a situação de Calçoene é desesperadora ou só preocupante?

É preocupante. As pessoas estão na expectativa de uma mudança, enquanto outras acham que quanto pior, melhor. Uma paralisação dos professores nesse momento piora as coisas num momento em que o Ministério Público nos deu um prazo de 30 dias para destravarmos todos os mecanismos. Elegemos algumas prioridades, como merenda escolar, medicamentos e iluminação das ruas. Acho que estamos num bom caminho, mas temos uma cidade carente de infraestrutura.

A coleta de lixo está funcionando?

Sim, precariamente, mas está. Estamos buscando apoio e estamos sendo bem recebidos. Temos essa vantagem de ter um senador do Amapá como presidente do Congresso Nacional (Davi Alcolumbre).

Calçoene é rica e pobre, ao mesmo tempo. Por que?

Temos que investir em potenciais peculiares de cada município. Calçoene tem pescado, pecuária, minério, açaí, só que ficou muito tempo relegada. Não se teve política pública voltada para o que é o potencial da região.

Há divergências sobre a real população de Calçoene?

Sim. O IBGE diz que temos quase 11 mil habitantes, mas temos, seguramente, cerca de 17 mil pessoas vivendo lá.

É verdade que Calçoene depende quase que exclusivamente dos repasses federais?

Sim. A nossa arrecadação é de R$ 23 milhões de FPM (por ano). A arrecadação própria é ínfima porque ainda não temos nossos setores estruturados. A cadeia do peixe precisa arrecadar para que a sociedade tenha o retorno. Assim como a exploração do açaí e do ouro. 

Seles Nafes
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