“Stonehenge do Amapá” pode esconder câmara mortuária subterrânea

Os 127 monólitos estão feitos de rochas que não existem num raio de 40 km
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Por GESIEL OLIVEIRA, geógrafo

Um dos sítios arqueológicos mais interessantes do Brasil se encontra no Amapá e é chamado de “Observatório Astronômico de Calçoene”, no Parque Arqueológico do Solstício, mas seu principal apelido é “Stonehenge do Amapá”, por suas óbvias semelhanças com a enigmática obra paleolítica da Inglaterra.

Trata-se de um monumento lítico no Norte do país que possui 127 monólitos que foram erguidos em um raio de 30 metros. O sítio também é chamado de Rego Grande, pois a região é banhada por um rio de mesmo nome, que margeia o local, no interior do parque.

As pedras de mais de 4 metros foram erguidas e talhadas há mais de 2.000 anos e sua disposição é feita para, no solstício de inverno do hemisfério norte, as pedras apontarem para os principais astros do céu amazônico, e que o sol, ao meio dia, fique na posição exata do centro da obra.

O distrito de Cunani onde fica o sítio arqueológico dos megalitos, foi o cenário de importantes disputas politicas e intensa atividade econômica e social, desde o período colonial até a construção da BR 156, quando sua decadência e esvaziamento politico tornam-se evidentes. Sua formação se confunde com a própria construção histórica do Amapá.

Há escassas informações a respeito da origem dos indígenas que habitaram essa região há mais de 2000 anos atrás. A presença dos índios da fase Aristé marcam as primeiras referências de ocupação da área da comunidade. Estes povos deixaram um ritual funerário singular com túmulos cavados em forma de bota.

127 rochas que não existem na região. Fotos: Gesiel Oliveira

As civilizações indígenas dessa fase ocuparam o extremo norte amapaense, e estudos realizados por Rostain (1994) indicam sua presença (século IV a XIV d.c.) também na parte sul do atual território guianense, mas acredita-se que sua origem e proveniência é a região do Caribe. As rotas de circulação pela foz do Amazonas, via litoral.

Dos túmulos encontrados em Cunani, foram recolhidas cerâmicas esculpidas e pintadas, que fazem parte hoje das coleções do Museu Paraense Emílio Goeldi, em Belém (Pará). Eles, provavelmente, explicam o mistério dos túneis encontrados na comunidade sob a antiga igreja de Cunani, atribuídos pelos moradores aos franceses, mas que os moradores do local sempre disseram que se tratava de construções indígenas datadas de mais de mil anos.

Um dos blocos de pedra do círculo megalítico foi posicionado de maneira que o Sol, durante o solstício de inverno do hemisfério norte, que ocorre em torno do dia 21 de dezembro, fique a pino sobre este, de maneira que sua sombra desapareça.

Além disso, o posicionamento desta rocha é tal que a projeção de sombras durante todo o dia é diminuta. É este alinhamento de um dos blocos de rocha com o solstício de dezembro que levou os arqueólogos a acreditar que o local tenha sido no passado um observatório astronômico, e que ao observar o círculo megalítico de Calçoene, está na verdade a contemplar os resquícios de uma cultura pré-colombiana avançada.

Quem construiu?

Desde que os monólitos foram achados por Emílio Goeldi em 1950, zoólogo suíço em visita à Amazônia no século XIX, se discute qual a origem dessas pedras e que indígenas que montaram o observatório. Muitas teorias foram traçadas, mas pouca coisa realmente se comprovou com dados materiais, fazendo do sítio um objeto de pesquisa cheio de mistérios. Inicialmente, se defendeu que foram índios aruaques, vindos do Caribe, que construíram o observatório.

Também se defende que, na verdade, foram comunidades do Norte dos Andes que o ergueu, trazendo as rochas por rotas terrestres que ligariam as regiões. Apesar da comprovação desta teoria das rotas de comunicação interamericanas, atualmente, por Eduardo Gois Neves, ainda não ter se delimitado a realidade dessa rota especificamente.

É quase consenso na academia que o sítio, quando utilizado, era um espaço de observação astronômica. Porém, muita discussão ainda ocorre em relação a suas formas de utilização e sua participação dentro dos circuitos culturais e materiais na vida social desses indígenas. Também se discutem possíveis outras funções sociais do lugar na época em que era ocupado.

Seu Garrafinha: câmara mortuária escondida

Além do apontamento sobre ser um observatório do céu, se coloca que o sítio de Calçoene possui traços que podem fazer com que os cientistas considerem-no um sítio funerário. Isso porque, além dos monólitos circularmente organizados, foram encontradas urnas funerárias de cerâmica nas proximidades do sítio e vestígios de vasos decorados, quebrados em estilhaços, que poderiam conter oferendas para os mortos.

O guarda-parque do sítio, Sr Lailton Camelo, mais conhecido como “Seu Garrafinha”, afirma que há um túnel sob a região do domo de rochas do Stonehenge Amapaense, e que este túnel, que está soterrado desde 1998, possui em seu interior maracás, cerâmicas e ornamentos indígenas em uma espécie de câmara mortuária subterrânea.

Outro mistério é o destino daqueles índios, cerca de mil índios que habitavam a região do atual distrito de Cunani em Calçoene que desapareceram, e muitas cerâmicas e objetos foram deixados na exata posição como se encontram até hoje. É como se aquele povo tivesse sido “arrebatado”.

Aquele povo desapareceu, foi tomado de uma só vez sem deixar rastos de seu destino. Não há ossos, além daqueles encontrados nas câmaras mortuárias e maracás (espécie de vaso mortuário com formato humanoide onde se depositavam os ossos dos indígenas).

Ao redor do mundo há vários relatos de povos que desapareceram sem deixar vestígios como os “olmeca” que habitavam a região da Mesoamérica, uma cultura pré-colombiana que viveu nessa região há cerca de 1.400 a.C. Por volta do ano 400 a.C., eles desapareceram sem deixar vestígios e ninguém sabe ao certo o motivo. Os “Rapa Nui”, antigos habitantes da Ilha de Páscoa.

Além de ninguém saber ao certo como os enormes moais — as esculturas de pedra que se espalham por toda a ilha — foram construídos e transportados, ninguém sabe como desapareceram de uma só vez. Eles habitaram a ilha entre os anos 300 e 1.200 d.C. Em 1200 desapareceram misteriosamente. Além desses há ainda relatos na história de desaparecimento de povos como os “Maias” (povo pré-colombiano da Mesoamérica).

Peças encontradas no sítio dos megalitos

Perguntas

Os “Khmer”, que construíram os grande templo de Angkor Wat, no Camboja que viveram entre os anos de 1.000 e 1.200 d.C. Os “Harappa”, Civilização do Vale do Indo, região que hoje corresponde ao Irã, Paquistão, Índia e Afeganistão, que viveram entre 3300-1300 a.C. Um dos casos mais enigmáticos aconteceu quando uma vila inteira de esquimós, localizada às margens do lago Anjikuni no Canadá em 1930 desapareceu sem deixar vestígios. Pesquisem no “Google” esses casos e confirmem o que afirmo.

Aqui no Amapá muitas perguntas permanecem a respeito dessa região: 1) quem era aquele povo? 2) de onde vieram? 3) como desapareceram sem deixar vestígios? 4) o que significa aquele círculo de rochas apelidado de “Stonehenge do Amapá”? 5) como trouxeram os 127 blocos de rocha maciça que pensam em média 6 toneladas? 6) de onde trouxeram aquelas rochas, visto que não há pedreiras em um raio de mais de 40 Km? Esses são alguns dos muitos mistérios que cercam aquela região enigmática e pouco estudada.

Seles Nafes
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