Amapá necessita de novas estratégias de prevenção ao suicídio, aponta SVS

Salto de casos registrados entre mulheres é um dos indicadores que preocupam, segundo a superintendência
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Por MARCO ANTÔNIO P. COSTA

Dados da Superintendência de Vigilância em Saúde do Estado do Amapá (SVS) apontam para um crescimento no número de suicídios na capital do Estado, Macapá, se comparado com a média nacional entre os anos de 2016 a 2018. Jovens concentram o maior número de ocorrências e no caso das mulheres o crescimento entre 2017 e 2018 foi de aproximadamente 150%.

Os dados coletados e sistematizados pela equipe da Unidade de Doenças e Agravos Não Transmissíveis (UDNT), da SVS, demonstram que, diferentemente do que pode se supor, o Estado do Amapá não tem uma das maiores taxas de suicídios do país, como se tornou uma afirmação comum. Entretanto, o dado concreto do crescimento dos suicídios em Macapá, onde residem mais de 65% da população do Estado, preocupa bastante.

Em 2017, foram registrados 8 casos de suicídios entre mulheres e em 2018 este número saltou para 20 casos, especialmente entre as mulheres adolescentes. O maior número de casos, porém, segue sendo registrado entre os homens com idade entre 20 e 39 anos.

Michele Maleamá (SVS): sociedade deve ajudar no trabalho de notificação para busca de soluções. Foto: Marco Antônio P. Costa/SN

A média nacional de suicídios entre 2016 e 2018 é de 7,2 a cada 100 mil habitantes e o Estado do Amapá acompanhou essa média. Já Macapá, que em 2016 registrou 5,1 suicídios a cada 100 mil habitantes, em 2018 saltou para 8,2 óbitos, o que coloca a capital em uma situação considerada de risco.

“A análise da série histórica vem demonstrando um aumento progressivo do número de suicídios nos anos de 2016 à 2018, que saltaram de 37/ano para 59 casos/ano. Esta tendência crescente evidencia que as intervenções até aqui realizadas, vêm se mostrando insuficientes ou pouco efetivas no sentido de reduzir a mortalidade” afirma trecho do relatório preliminar elaborado pela SVS que o SN teve acesso.

Subnotificação nas tentativas de suicídio

Os dados foram extraídos do Sistema de Informações de Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde, onde chegam todas as informações dos óbitos ocorridos A equipe técnica da SVS acredita que não exista nesses dados a subnotificação, que é quando há o registro menor do que o esperado. Entretanto, nos dados sobre tentativas de suicídio e automutilações e outras lesões auto provocadas, ainda há subnotificação.

“Para cada suicídio, tem-se uma média de 20 tentativas de suicídio. A notificação deve ocorrer em todos os serviços, seja na unidade de saúde de emergência, na escola que encontrou a criança se cortando, no conselho tutelar, nas universidades. Vários serviços têm que fazer parte dessa notificação, para alimentar o sistema e ajudar na elaboração de estratégias para enfrentar o problema, porque essa pessoa que já tentou suicídio tem prioridade no atendimento. Nós iremos encaixá-la no acompanhamento psicológico adequado”, declarou Michele Maleamá Sfair, uma das técnicas da SVS responsável pela produção do relatório.

Wander Silva: voluntário da CVV no Amapá. Foto: Marco Antônio P. Costa/SN

CVV: falar é a melhor solução

O Centro de Valorização da Vida (CVV) pode ser um importante canal e suporte para pessoas com crise suicida. O CVV funciona 24 horas com ligações gratuitas, que podem ser feitas inclusive de celulares.

Wander Silva, de 47 anos, engenheiro elétrico, é voluntário do CVV há 14 anos e conta que o lema da instituição (falar é melhor) é o que move a ação dos voluntários. Ele esclarece que a filosofia de trabalho do centro consiste em ser um ombro amigo, ouvir as pessoas, que podem tanto estar em uma crise suicida ou passando por problemas emocionais.

Canal de suporte ajuda quem precisa desabafar. Foto: arquivo

O voluntário explica que o medo do julgamento moral e social ou quando uma pessoa não se sente à vontade de falar pessoalmente, faz com que o CVV seja uma alternativa, embora seja apenas uma parte das ações, pois não substitui todo o restante da ajuda profissional que é necessária.

“Uma vez a pessoa estava falando comigo em situação de desespero, mas eu não percebi. Conversamos e pronto. Um ano após aconteceu a coincidência de eu falar com a mesma pessoa, e isso é muito difícil no 188, nunca mais aconteceu comigo. Essa pessoa reconheceu minha voz e meu nome e me contou que naquele dia, um ano antes, ela iria se suicidar e o fato de termos conversado a fez desistir”,  relatou Wander sobre uma das histórias que mais chamou sua atenção nos 14 anos em que atua nos plantões da CVV.

O atendimento do CVV ocorre através de ligações gratuitas para o número 188.

Foto de capa: reprodução

Seles Nafes
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