Após cirurgia, paciente ficou com gaze dentro do corpo por 3 anos

Médico foi indiciado em inquérito policial. Paciente diz que irá processar Estado e o ginecologista
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Por SELES NAFES

Um médico ginecologista do Amapá foi indiciado pela Polícia Civil no inquérito que apura o esquecimento de uma gaze dentro de uma paciente, durante uma cirurgia na Maternidade Mãe Luzia, ocorrida em julho de 2015. O objeto só foi retirado da paciente cerca de 3 anos depois.

A paciente é uma servidora pública de 39 anos que mora em Calçoene, município a 360 km de Macapá. A cirurgia foi necessária para a retirada de um feto de 3 meses durante uma gravidez ectópica, que acontece quando o embrião se desenvolve fora do útero.

Depois da cirurgia ela retornou para casa, e começou a se queixar de fortes dores. Ela voltou à Maternidade Mãe Luzia dias depois, mas, durante avaliação, o médico teria informado a ela que as dores eram normais.

Em 2018, um inchaço abaixo do abdômen e fortes dores fizeram a mulher procurar por atendimento médico na rede privada.

“Eu precisei fazer um empréstimo de R$ 3 mil para consultas e exames”, lembra ela, que pediu para não ter o nome divulgado. 

Exames de imagem mostraram que havia um corpo estranho dentro dela, encapsulado. Em abril deste ano, a paciente foi submetida a uma cirurgia para a retirada do objeto. Ele pesou 500 gramas, e era composto de massa biológica. Dentro, havia tecidos de algodão.

“A análise histopatológica e técnico pericial constatou que o organismo estranho encontrado no corpo da vítima é constituído por fibra entrelaçada de algodão, de origem têxtil, semelhante às gazes ou compressas, e a investigação concluiu que foram esquecidas no procedimento cirúrgico realizado em 2015, no Hospital Maternidade Mãe Luzia”, explicou o delegado Leandro Leite, da 6ª Delegacia de Polícia de Macapá.

Gaze estava encapsulada por massa biológica. Foto: Polícia Civil/Divulgação

O médico Deoci Franco Mont’Alverne foi indiciado pelo crime de lesão corporal culposa, majorada pela inobservância de regra técnica de profissão. A pena é de 2 meses a 1 ano de prisão, acrescida de 1/3. O inquérito foi encaminhado ao Conselho Regional de Medicina (CRM) para abertura de procedimento administrativo.

Danos

A servidora pública disse que agora pretende processar o Estado e o médico. O Portal SelesNafes.Com entrou em contato com o ginecologista. Ele ainda não havia sido comunicado sobre o indiciamento, e disse ter estranhado a decisão do delegado porque ainda aguarda o resultado de um novo exame.

“Eu solicitei uma contraprova em outro laboratório, já que a paciente tinha passado por cirurgias anteriores”, comentou o médico, deixando claro acreditar na possibilidade do objeto ter sido deixado em um procedimento anterior.

O CRM informou que ainda não recebeu o inquérito policial, mas que irá encaminhá-lo para a corregedoria assim que chegar.

“Com base nos documentos será decidido se cabe abertura de sindicância ou processo ético-profissional. Ressaltamos que de acordo com o Código de Processo Ético-Profissional, os procedimentos administrativos, sindicância e/ou processo ético-profissional (PEP), que tramitam na autarquia estão sob sigilo processual”, informou a autarquia, em nota.

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