Por SELES NAFES, com colaboração de Edgar Rodrigues
A Amazônia sempre foi cobiçada ao longo dos séculos, e o Amapá, evidentemente, também, especialmente por questões militares e econômicas.
A criação do Território Federal do Amapá, há exatos 76 anos, foi apenas mais um capítulo do esforço do Brasil em garantir a soberania na fronteira com a Guiana Francesa, rincão que até o conquistador francês Napoleão Bonaparte esteve de olho, dois séculos antes.
Quando o presidente Getúlio Vargas assinou o Decreto-lei 5.812, no dia 13 de setembro de 1943, desmembrando o Amapá do Estado do Pará, o extremo norte ainda estava sob ameaça, e a baixa ocupação populacional deixava o caminho livre para possíveis invasores.
Em 1950, o Amapá tinha apenas 37 mil habitantes. Municípios como Santana, hoje com mais de 110 mil moradores, sequer existiam.
“A obra ‘O Amapá, da Autonomia Territorial ao Janarysmo’, do historiador Fernando Rodrigues, explica bem esse contexto. Sempre houve uma preocupação em relação à Amazônia. A criação dos territórios de Amapá, Roraima e Rondônia, foi uma forma de povoar, sanear e educar essa nossa região”, comenta Edgar Rodrigues.
Laudo Suíço
Séculos antes, o Amapá era motivo de disputa entre o Brasil e a França, que estavam em pé de guerra. A famosa chacina de mais de 50 amapaenses por tropas francesas, em retaliação à resistência de Cabralzinho, apressou a definição sobre a fronteira do Brasil e da França.
Em 1900, baseado no livro: “O Oiapoque e o Amazonas”, do médico e geógrafo Joaquim Caetano da Silva, o Barão do Rio Branco escreveu o “Laudo Suíço”, parecer que definiu que o Rio Araguari não era o Rio Oiapoque, navegado pelo espanhol Vincent Pinzon.
Interessados no ouro e outros minerais na região de Calçoene, por exemplo, os franceses argumentavam que a partir do Rio Oiapoque tudo era a Guiana Francesa, departamento ultramarino sob domínio da França até hoje. Mas, para eles, o Araguari era o Rio Oiapoque.
E bem antes disso, o interesse pelo Amapá já se manifestava.
“Diplomaticamente, o conquistador Napoleão Bonaparte chegou a requerer o Amapá num tratado com a Espanha. (…) É importante lembrar que a América do Sul é uma região de origem hispânica. Sempre foi uma região estratégica. Não foi à toa que os americanos construíram uma base aérea em Amapá na 2ª Guerra Mundial”, ressalta Edgar Rodrigues.
Com 16 municípios e uma população com mais de 845 mil habitantes, o Amapá ainda tem aquela imensa riqueza mineral que os franceses tanto queriam explorar. Contudo, a economia ainda é fortemente dependente dos salários do funcionalismo.
Em 1900, o Amapá virou o Brasil em definitivo, mas, 120 anos depois do Laudo Suíço, o povo amapaense ainda não conseguiu transformar toda a riqueza que tem em qualidade de vida.
Setenta e seis anos depois do decreto de Vargas, e dois séculos e meio depois do pedido de Napoleão, o Amapá ajuda a manter a soberania nacional, mas não tem soberania sobre suas próprias terras e riquezas.