Por MARCO ANTÔNIO P. COSTA
O Amapá é o único Estado do Brasil que além de limpar a própria quantidade de poluentes que produz, ainda tem capacidade para ‘limpar’ a poluição gerada por outras unidades da Federação.
É que o Amapá tem um patrimônio florestal capaz de sequestrar toda a quantidade de CO2 produzida no estado e ainda sobra saldo para livrar a atmosfera de 10 milhões de toneladas do gás carbônico – principal vilão do aquecimento global.
Os dados, que têm origem no Sistema de Estimativa de Emissões de Gases de Efeito Estufa (Seeg), foram apresentados pelo renomado ambientalista Alfredo Sirkis, atual diretor executivo do Centro Brasil no Clima, nesta segunda-feira (9), em Macapá.
Ele esteve na capital do Amapá para a 13ª reunião do Fórum Amapaense de Mudanças Climáticas e Serviços Ambientais, realizado por órgãos do poder público e entidades da sociedade civil para debater ações de controle sobre o clima. O evento ocorreu na Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema).
Sirkis foi vereador do Rio de Janeiro por vários mandatos e secretário de Meio Ambiente da cidade, além de escritor consagrado com “Os Carbonários”, livro que conta da sua militância e do seu grupo durante a ditadura civil-militar de 1964.
Segundo o ambientalista, essa situação do Amapá, peculiar e única no país, se deve à quantidade áreas de conservação ou de áreas indígenas, que chegam à 70% do território amapaense quando somadas.
O secretário de meio ambiente do Amapá, Robério Aleixo, ressaltou que o mercado do carbono pode ser uma das vias de desenvolvimento do Amapá.
“Este evento coroado com a presença do Sirkis tem essa importância: da gente entender nosso papel pioneiro no país e até no mundo. No mercado de carbono, o Amapá pode buscar uma de suas vias de desenvolvimento”, declarou o secretário.
Entrevista
O Portal SelesNafes.com conversou com o ambientalista e o questionou sobre a relação entre a riqueza natural e a defesa ambientalista pela manutenção desse patrimônio florestal amapaense, em detrimento das mazelas sociais que o Estado ainda enfrenta.
Portal SN: O Amapá apresenta indicadores sociais críticos, como a segunda maior taxa de desocupação do país e, além disso, nossa região metropolitana concentra hoje cerca de 70% da população do Estado. Houve um época em que se matavam pessoas às facadas nas periferias, hoje há assassinatos com armas de fogo em qualquer lugar da cidade. Como equacionar as questões sociais e ambientais?
Alfredo Sirkis: É um trabalho de articulação internacional que deve ser feito, o Amapá tem esse potencial. Está claro que deverá ser feito a partir dos Estados, o governo federal não deve ajudar nesse ponto. O Amapá tem essa situação que chama muito a atenção: é o único dos 27 estados brasileiros que é carbono negativo, e de muito, o que não deve ser um ensejo para dizer “Então vamos desmatar” e nem o desmatamento cria emprego. O que cria emprego é você criar cadeias econômicas e produtivas, do tipo do açaí. Você anda pelos EUA e em todos os estados tem açaí, portanto, uma história de sucesso. A floresta produz uma série de coisas, para a alimentação, cosméticos, indústria farmacêutica e isso pode ser potencializado e sair do Brasil com maior valor agregado. Além disso, a agricultura de baixo carbono pode ser feita sem danos ao meio ambiente. Inclusive a extração de madeira, se feita com racionalidade, manejo ambiental, pode ajudar a avançar sobre os indicadores sociais difíceis que o Amapá e o Brasil estão passando na atualidade. Tem que fazer as coisas bem feitas. O potencial do Amapá é gigantesco, não é fácil, mas tem que saber se promover e é possível angariar muitos recursos.
SN: Como transforma essas marca em grife e, com isso angariar recursos para o Estado?
AS: O Amapá tem muita oportunidade, mas tem que conseguir se promover, “cacarejar”, mostrar que faz muito mais que outros. Quer dizer, tem estado que recebem créditos de carbono para diminuírem seu desmatamento e emissão de CO2. Tem que o Amapá chegar em Nova Iorque, na Califórnia, na Europa, e exigir a criação de parâmetros que premiem que faz muito mais que os outros, quer dizer, quem tem crédito tem que ter subsídios para avançar socialmente, dinamizar a economia.