Jovem transgênero se emociona ao ver campanha contra o preconceito

A mensagem na porta de um banheiro de shopping em Macapá trazia o recado “use o banheiro conforme seu gênero”.
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Por MARCO ANTÔNIO P. COSTA

Roan Nascimento, de 19 anos, chamou atenção em uma rede social ao postar uma foto na porta do banheiro masculino de um shopping da capital macapaense. Na imagem, ao seu lado, está afixada uma recomendação do Ministério Público Estadual do Amapá.

“Use o banheiro conforme seu gênero”, traz a mensagem, entre outros esclarecimentos à luz da legislação. A recomendação é fruto da denúncia de uma mulher transgênero, que sofreu preconceito ao tentar usar o banheiro feminino do mesmo shopping.

Roan Nascimento, de 19 anos, trabalha como bartender em dois lugares para garantir seu sustento. Fotos: Marco Antônio P. Costa/SN

A vítima da transfobia [discriminação contra pessoas transgênero] não se calou. Buscou o Conselho Estadual LGBTQIA+ [Lésbicas, gays, bissexuais, transsexuais ou transgênero, Queer, intersexual, assexual, + qualquer outra diversidade na orientação sexual ou identidade de gênero], que acionou o Ministério Público.

Em audiência realizada no dia 17 de dezembro, com a presença de representantes dos shoppings de Macapá, ficou recomendado que as administrações dos respectivos empreendimentos colocariam esclarecimentos nas entradas dos banheiros.

Além da medida, a audiência também definiu que os shoppings atuariam junto ao Conselho LGBTQIA+ em campanhas de formação do seu quadro de funcionários. A recomendação baseia-se na Constituição Federal e na defesa da dignidade humana.

Alegre e sorridente, nem parece que já enfrentou tantas batalhas contra o preconceito

“A lei maior apresenta o princípio constitucional da dignidade da pessoa humana como um dos fundamentos da República, e, como um de seus objetivos a promoção do bem de todos, sem qualquer forma de discriminação”, diz um trecho do documento, que é um termo de audiência assinado pela promotora Fábia Nilci Santana de Souza.

O documento está fixado nas portas e dentro dos banheiros dos shoppings macapaenses.

Descoberta

Roan trabalha como bartender em dois lugares para garantir seu sustento. Alegre e sorridente, nem parece que já enfrentou tantas batalhas contra o preconceito. Roan, que ocupa a cadeira transgênero do Conselho Estadual LGBTQI+, contou ao Portal Seles Nafes como foi seu processo de identificação.

Seu gênero sempre foi motivo de dúvida na sua família, afirmou. Após completar 17 anos, sua avó lhe contou que havia percebido que, na verdade, tinha um neto e não uma neta.

Roan tem uma cadeira no Conselho LGBTQIA+

“‘Eu sempre soube que tu era meu neto, porque com quatro anos tu viu teu primo fazendo xixi e me perguntou quando ia nascer o teu pinto’, disse a vovó. E foi quando ela percebeu que havia algo diferente comigo”, lembra Roan.

Aos 14 anos, ele se entendia como uma jovem lésbica – tinha atração sexual por outras meninas. Àquela altura estudava em uma escola de caráter confessional, por isso, quando revelou sua orientação sexual, foi expulso.

Mas o pior ainda estava por vir. Quando sua mãe descobriu, Roan acabou mandado embora de casa também. Por isso, teve que ir morar com a avó.

A avó, então, lhe fez a pergunta crucial: “tu é meu neto ou minha neta?”. Com dificuldades de responder, Roan buscou apoio psicológico. No tratamento, após traçarem diversos mapas da personalidade, gostos, gestos e preferências, Roan se identificou com o gênero masculino.

Bartender no local de trabalho: jovem tem dois empregos para se sustentar

Aí foi a hora de cortar cabelo, trocar de roupas femininas para masculinas, até que sua mãe descobriu, acionou o Conselho Tutelar, queimou todas as roupas e a levou de volta para sua casa. Nesta época ela não podia fazer nada, nem querer ir para a escola, além de ser espancada todos os dias.

Com a namorada, fugiu de casa até completar maioridade civil. Trabalhou como ajudante, como babá e após os 18 anos completados trocou sua identidade civil legalmente.

Por não morar com os irmãos, de 7 e 4 anos de idade, Roan fala muito pouco com eles. E foi justamente por causa deles que Roan teve a grata surpresa de encontrar o aviso de livre acesso para pessoas transgênero.

Com a proximidade do Dia das Crianças [próximo sábado, 12], ele foi ao banheiro do shopping comprar presentes para irmãos.

Apesar do preconceito, Roan não desanima

“Antes de ir na loja, resolvi ir ao banheiro, foi quando tive a surpresa. Participei das reuniões em que a gente batalhou pela decisão, mas não sabia que já ia estar colocado lá. Fiquei muito feliz e emocionado. Minha amiga deu a ideia da foto, ela tirou e eu postei”.

A medida de fixar os avisos deve ser complementando com os treinamentos e uma cartilha que conscientização que deverá ser elaborada até o início de 2020.

Foto de capa: Juliana Monteiro

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