Falso arquiteto: jornalista é acusado de ‘golpe da construção’

A acusação é feita por diversas pessoas que dizem ter sido vítimas dele, nas cidades de Macapá e Santana.
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Por RODRIGO ÍNDIO

Jornalista, bom de papo e até pouco tempo assessor de comunicação do Governo do Estado. Com esses requisitos ninguém desconfiaria que Izael da Silva Marinho, um dos mais experientes e conhecidos comunicadores do Amapá, aplicava golpes se passando por outro profissional que jamais foi: arquiteto.

A acusação é feita por diversas pessoas que dizem ter sido vítimas dele, nas cidades de Macapá e Santana. Para a Polícia Civil do Amapá não restam dúvidas: Izael se passava por arquiteto formado, prometia edificar o sonho da casa própria em tempo ágil, pegava o dinheiro da obra adiantado e desaparecia.

Foto de perfil usada durante muito tempo por Izael Marinho, que se apresentava como arquiteto às vítimas, segundo a PC. Fotos: Divulgação

A Polícia Civil identificou, até o momento, pelo menos quatro golpes, que teriam rendido quase R$ 100 mil a Izael Marinho.

A autônoma Alexandra Carla Uchôa Amoras, de 34 anos, teve o prejuízo de R$ 50 mil ao confiar em Marinho. Ela havia acabado de separar do marido e com o dinheiro que pegou da partilha comprou um terreno e repassou os R$ 50 mil para Izael construir sua tão sonhada casa.

Mãe de duas crianças de 4 e 5 anos, agora ela está morando de aluguel e passa por momentos difíceis.

Imagem recente de Izael Marinho, cujo endereço tido pela polícia é de “local incerto e não sabido”

“A situação está bem apertada. Com relação a pagar aluguel, tive que pagar mudança e arcar com outras dispersas né. Espero que a justiça cumpra o papel dela, que ele não fique impune. Soube que continua fazendo mais vítimas e preciso ser ressarcida do meu valor porque preciso ficar embaixo do meu teto. Que ele me devolvesse pelo menos uma parte, que eu mesma mandava construir num terreno que comprei num loteamento, é horrível morar de aluguel. Tiro das bocas das minhas filhas para pagar aluguel”, desabafou.

Outra vítima, a jornalista Rita Torrinha, colega de profissão de Izael, detalhou que ele se apresentou como arquiteto com técnicas aprendidas na Guiana Francesa (onde ele morou por alguns anos) e que entregaria uma obra de ampliação da sua casa “na chave”. O custo seria de R$ 40 mil e Marinho pediu R$ 20 mil até dezembro deste ano e parcelou o restante.

O projeto da casa da jornalista Rita Torinha apresentado por Izael Marinho…

… fez a vítima acreditar que poderia concretizar o sonho de um lar, mas…

.. a realidade foi de uma obra inacabada: R$ 10 mil por baldrame

“Passamos primeiro R$ 5 mil, ele sumiu, mas sempre respondia o Whats, dizendo que estava tudo certo, isso em setembro. Passadas duas semanas, ele nos disse que havia comprado o material, mas que a loja não entregou. Pedi o nome, as notas, endereço, contato da loja. E nada”, contou.

Segundo a versão da vítima, alguns dias depois, Izael foi na casa dela pedindo perdão e mais uma chance para dar início a obra. Contudo, para cobrir o dinheiro que a loja ficou, a jornalista precisava repassar pra ele mais R$ 5 mil para a obra não parar mais.

“Acreditamos. Transferimos e, aí, ele sumiu. Em 2 meses, os pedreiros trabalharam uns 4 dias só. Fizeram só o início do baldrame. Ele até inventou que estava com câncer e sumiu. Quero meu dinheiro de volta e que ele pague pelo crime, e que outras pessoas fiquem atentas para não cair no golpe. E que quem também foi vítima, possa denunciar”, acrescentou.

Conversas anexadas nos inquéritos policiais mostram…

…como Izael ludibriava as vítimas, segundo a polícia

Os casos de Rita e Alexandra foram convertidos em inquéritos policiais nas 1ª e 9ª Delegacias de Polícia Civil (DP) de Macapá e já foram concluídos. Em ambos ele foi indiciado por estelionato. O trabalho foi encaminhado ao Ministério Público (MP) Estadual para que seja feita denúncia à Justiça.

O portal SelesNafes.com tentou contato com Izael, mas seu telefone não chama e seu último visto no WhatsApp foi dia 6 de dezembro.

Exercício ilegal

De acordo com o delegado Nixon Kennedy da 9ª DP, Izael não tem registro no Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU) do Amapá. Segundo ele, durante as investigações, os policiais tentaram localizar Izael para prestar depoimento por diversas vezes, sem sucesso.

Delegado Nixon Kennedy: fraude foi configurada, portanto crime de estelionato. Foto: Rodrigo Índio/SN

Nos inquéritos, o endereço dele consta como “local incerto e não sabido”. Ele pediu à Justiça a prisão de Izael.

“Ele agia sempre de forma similar. Iniciava as obras para pegar mais dinheiro e em seguida abandonava as construções. Depois enrolava as vítimas por mensagens de aplicativo até, finalmente, bloqueá-las”, contou o delegado.

Seles Nafes
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