Sem água tratada ou banheiro, família vive dentro de mata em Macapá

Gonçalo Trindade vive com sua família em um barraco feito de galhos de árvores e lonas de plástico, numa mata próxima ao Canal do Jandiá, na zona norte de Macapá.
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Por RODRIGO ÍNDIO

Viver sem o conforto de ter água potável, banheiro ou fogão a gás em casa pode parecer uma realidade distante para muitas pessoas. Mas é assim a vida da família do catador de latinhas Gonçalo Trindade, de 48 anos, que mora em um barraco feito com galhos de árvores e lonas de plástico, numa mata próximo ao Canal do Jandiá, na zona norte de Macapá.

Localizado numa mata próxima do Canal do Jandiá…

… barraco é feito com galhos de árvores e…

…lonas de plástico. Fotos: Rodrigo Índio/SN

Lá, ele vive com a esposa Rosinete Pinto, de 50 anos, os filhos, o neto, que é autista, e mais agregados que considera como irmãos. Através do vigilante Danielson Josephat, que se emocionou ao conhecer a história na última quinta-feira (26), o Portal SelesNafes.com se aprofundou na batalha diária desta família, que precisa de ajuda.

Os sete membros da família dormem amontoados, dividem apenas duas redes…

… e dois colchões velhos

Seu Gonçalo contou que chegaram na área de mata onde residem hoje há cerca 5 anos, depois que foram obrigados a deixar a área invadida do Canal do Jandiá por determinação de uma ordem da Justiça Federal. Outros moradores que residiam no espaço tiveram a sorte de ganhar apartamentos em conjuntos habitacionais, eles não.

Em janeiro de 2018, a família de seu Gonçalo deixou a área de mata, que pertence a um advogado, quando foi ajudada por uma mulher que lhes ofereceu abrigo no bairro Congós, mas os julgamentos da vizinhança fizeram eles deixarem o local após três meses.

A dispensa está praticamente vazia…

… e quando há alimento, é feito neste fogão à lenha…

… com água armazenada neste recipiente

“Somos da igreja, mas por nossa vestimenta, nosso trabalho e por sermos humildes e às vezes estarmos sujos, nos julgavam dizendo que éramos usuários de drogas e alcoólatras. Não aguentamos aquilo, doía muito e voltamos pro mato. Não queríamos morar assim, mas pelo menos aqui ninguém nos julga”, desabafou Gonçalo.

No mês de outubro de 2019, a família foi à igreja num domingo e teve uma surpresa quando retornou: pessoas atearam fogo no barraco e a família perdeu tudo. Não sobraram nem os documentos.

A água que é consumida para beber e tomar banho…

… é retirada de um…

… poço improvisado…

…que recebe água das chuvas e impurezas arrastadas da floresta

“Ficamos desesperados. Por sorte, ninguém ficou ferido. Passamos três dias dormindo debaixo de uma mesa que conseguimos até eu reerguer o barraco, foi muito difícil saber que queriam nos matar só pelo fato de existirmos. Não pedimos para ser pobres. Agora colocamos até essa proteção com fios descascados para nos defender”, disse, emocionado, Gonçalo.

Gonçalo: “Assim vamos vivendo, lutando na simplicidade e com fé em Deus. Um dia venceremos”

A renda da família é de R$ 200 a R$ 300 por mês, dinheiro que ganham recolhendo e vendendo os materiais recicláveis. A água que serve para beber e para os afazeres domésticos vem de um poço improvisado.

Na vida da família não há qualquer tipo de luxo. A dispensa está vazia e eles dormem amontoados, dividem apenas duas camas e duas redes. O fogão é à lenha. Não há banheiro na casa.

Para piorar, o neto de seu Gonçalo precisa de um cuidado especial, pois é autista, e a esposa tem problemas com ansiedade e pressão alta.

O único brinquedo do neto do catador de latinhas

A esposa de Gonçalo tem problemas de saúde…

… e precisa ser medicada constantemente por causa da hipertensão

“Meu neto, mesmo tendo as limitações, gosta de ajudar aqui e sonha em ter uma Kenner [sandália]. A minha mulher, a terapia dela, é também não ficar parada. Assim vamos vivendo, lutando na simplicidade e com fé em Deus. Um dia venceremos”, esperançou-se.

família já teve o barraco ateado fogo. Para se defender…

…agora coloca uma proteção com fios descascados

Solidariedade

Danielson Josephat pretende juntar doações de roupas, alimentos, eletrodomésticos e água potável para entregar à família de seu Gonçalo. Ele quer fazer a entrega surpresa no domingo à tarde (29) pela grande necessidade da família.

Vigilante Danielson Josephat pretende juntar doações de roupas, alimentos, eletrodomésticos e água potável para entregar à família de seu Gonçalo

“Me sensibilizei e sei que o povo amapaense é bom de coração e solidário. Gente, eu posso garantir que a situação da família é precária, não desejaria essas condições nem pra um inimigo morar aqui, quem puder, vamos ajudar para fazermos um 2020 melhor para essas pessoas”, Josephat.

Vem e vai: Josephat visita a família constantemente

Quem quiser saber mais sobre a família, conhecer a residência ou colaborar com doações pode entrar em contato com Josephat pelo número (96) 98803-6226 (WhatsApp/Ligação).

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