Padres e fazendeiro trocam acusações sobre agressões e tentativa de homicídio

Inspeção em placa de fazenda teria terminado em agressão corporal entre os religiosos e o proprietário
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Por MARCO ANTÔNIO P. COSTA

Dois padres ligados à Comissão Pastoral da Terra (CPT), entidade da Igreja Católica brasileira, relataram episódios de agressões enquanto realizavam trabalhos para a comissão.

A defesa de um dos religiosos alega que ele sofreu ameaça, agressão, danos materiais e até tentativa de homicídio.

Por outro lado, o acusado rebate a afirmação e diz que na verdade ele foi agredido. Segundo a versão do fazendeiro, um dos padres invadiu sua propriedade.

O Portal SelesNafes.com ouviu os dois lados, assim como seus respectivos advogados.

Padres Sisto Magro (esquerda) e Dennis Koltz (direita): religiosos dizem que iriam fotografar placa e foram impedidos. Fotos: Marco Antônio P. Costa/SN

Versão dos padres

O padre Dennis Koltz, natural de Pittsburgh, estado americano da Pensilvânia, mora no Brasil há 27 anos e atualmente é pároco na comunidade de São Joaquim do Pacuí, distrito rural de Macapá.

Ele conta que estava junto com o padre Sisto Magro, representante da CPT Amapá, quando foram na Fazenda São Sebastião, na região da Campina de São Benedito, para fotografar a placa obrigatória que as fazendas com empreendimento licenciados têm que fixar próximo às suas porteiras.

“Entrei para fotografar e não dei sequer 20 passos e só. O certo era que a placa estivesse visível e acessível, porque são informações públicas. A placa não é do proprietário, é pública, foi paga com nosso dinheiro”, afirmou o padre.

Após isso, do lado de fora da cerca, os padres estariam conversando, tentando ajustar a máquina fotográfica do padre Sisto, quando o proprietário da fazenda, Mário Júnior Rocha, de 38 anos, chegou com seu carro, uma picape Chevrolet S-10 e fechou a saída dos religiosos.

“Nós estávamos prontos para ir embora. Quando ele estacionou do lado da gente, não tinha mais espaço pra gente sair. Eu baixei o vidro pra conversar, ele falou que era trabalhador, que tinha licença, que trabalhava há muito tempo e em um certo ponto ele usou o estribo do carro para pular para dentro com metade do corpo e me bater”, contou padre Dennis.

Padre diz que levou socos de fazendeiro

Segundo o padre, o fazendeiro tentava tirar a chave da ignição e, ao não conseguir, acabou desferindo socos nas costelas, peito e no rosto do padre Dennis. Os dois conseguiram se desvencilhar.

Antes de conseguirem sair, Mário Júnior Rocha teria dado marcha ré no seu veículo e, de frente e propositalmente, atingido a lateral do carro em que os padres estavam, que também é uma picape, uma Toyota do modelo Hilux.

“Se não fosse o estribo ter ficado engatado no para choques da frente do carro dele, o nosso carro teria virado”, afirmou o sacerdote.

Chave que teria sido entortada

Os dois vieram para Macapá, registraram um boletim de ocorrência e na manhã desta quinta-feira (27) padre Dennis e padre Sisto prestaram depoimento na Delegacia de Polícia do Interior (DPI).

Os advogados aguardam o resultado do exame de corpo de delito feito pelo padre Dennis e querem a perícia na picape Hilux que, segundo a defesa, comprova o ataque e todo o relato.

Versão do produtor

O produtor Mário Júnior Rocha, catarinense do município de Meleiro, mora no Amapá há cerca de três anos. Ele vem de uma família de produtores de arroz e esteve no Rio Grande do Sul antes de vir para o Estado.

Sua fazenda, a São Sebastião, tem 698 hectares (cada hectare tem o tamanho aproximado de um campo de futebol) e seu plano é produzir soja, pois considera o produto mais competitivo e rentável no momento se comparado ao arroz. Sobre o ocorrido, ele rebate todas as acusações.

Proprietário da fazenda, Mário Júnior Rocha diz que padres teriam começado confusão

Ele conta que estava lavando o seu carro quando viu na porteira, a uma distância de cerca de 100 metros, um carro parado. Ele teria acenado e chamado para entrar, quando viu uma pessoa perto da placa fotografando. Ele foi até o encontro e os chamou para tomar um café.

“Peguei meu carro e fui lá rápido, encostei meu carro, ele estava com o carro dele de frente para a placa, do lado de dentro, estacionei, desci, avistei o Padre Dennis e eu já o conhecia de outras vezes, perguntei o que estavam fazendo e eles disseram que estavam fazendo uma fiscalização”, contou Mário Júnior.

Mário Júnior Rocha diz que sentiu que seria atropelado

O proprietário se indignou com a resposta, já que informou que o Ibama já esteve em sua fazenda. Os religiosos falaram que estariam vendo a placa e ele perguntou qual seria o problema com ela e que não trabalha com nada ilegal.

“Ele foi muito categórico ao dizer que eu não merecia ter terra aqui no Amapá, que eu não tinha direito a ter uma fazenda daquele tamanho e isso me revoltou. Pedi pelo amor de Deus para eles descerem e irem tomar um café comigo na minha mesa da área”, afirmou o fazendeiro.

Segundo informou Mário Júnior, a porta da Hilux estava aberta e ele ficou conversando com o padre Denis com a cabeça do lado de dentro da cabine do carro, e o mesmo estava com a marcha engatada na ré e como não quis descer, ele arrancou com o carro.

“Nisso eu caí no colo do Dennis e senti que eu ia ser atropelado. Botei o braço por baixo do volante para desligar a chave, foi quando o Sisto agarrou meu braço esquerdo que ficou em cima do volante e o direito ficou no colo do Dennis. Eu não sei o que ele pensou, que ele me gravateou, eu não sei qual foi a intenção dele, o cara pensa o que? Ele quer me matar, quer me atropelar”, relatou o fazendeiro.

As duas partes no caso prestaram depoimento na Delegacia do Interior da PC. Foto: arquivo SN

Após isso, o proprietário disse que foi ficando sem ar e se debatendo. Admite ter entortado, realmente a chave que estava no contato do carro, porque tentou puxar a chave, mas mesmo assim, sem cessarem as agressões e com as crianças na área da casa (ele tem três filhos).

“Eu consegui com o braço direito dar socos na costela do Padre Dennis, foram três socos na costela, que eu lembro e eu lembro de dar um soco na cara dele, embaixo do queixo. No terceiro soco que eu dei, ele já berrou, aí me soltou”, contou Mário Júnior.

Após isso, ele teria entrado no carro e ao tentar dar a volta acabou, por acidente, esbarrando na lateral do carro do padre. O produtor entregou o carro à Polícia Militar da localidade e veio até Macapá para registrar um boletim de ocorrência por invasão, agressão e lesão corporal e, segundo a defesa, até mesmo tentativa de homicídio.

Ele também prestará depoimento à Polícia Civil sobre o caso. 

Seles Nafes
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