Por RODRIGO ÍNDIO
Menos de 24 horas após o governo do Amapá anunciar um amplo decreto suspendendo atividades de serviços para reduzir a circulação e aglomeração de pessoas, as agências bancárias, que não estão inclusas nas restrições da medida, amanheceram lotadas em Macapá.
As principais unidades afetadas foram da Caixa Econômica Federal, onde houve tumulto e foi necessária a presença da Polícia Militar para conter ânimos.
A coincidência de pagamentos de benefícios como Bolsa Família e Seguro Defeso teria levado à grande procura da população nas agências.
A taxista Nara Lopes disse que chegou às 8h30 na agência da avenida Iracema Carvão Nunes, no Centro de Macapá, para receber dinheiro que serviria para comprar alimentos e remédios. Impedida de entrar no banco, ela falou que sabendo da situação do covid-19 a agência poderia ter aberto as portas mais cedo. Desesperada, desabafou.
“Hoje não tenho dinheiro para comprar remédio de pressão alta para mim e pra minha mãe idosa, nem comida para minhas filhas, uma delas é prematura e está gripada. Só vim aqui porque perdi meu cartão e que já pedi há dias para a Caixa. Por isso, fico indignada pela falta de organização do banco, não é justo a população pagar por isso. Fecharam as portas na cara do povo, assim como eu, que não tenho nada na minha casa, muitos aqui não têm, é desesperador”.
Ainda na mesma agência, o tenente Oscar, do 6º Batalhão da PM, tentou controlar a situação.
“Houve uma determinação para a suspensão dos atendimentos hoje na agência por conta de aglomeração. Vai ser reagendado. Não tem como organizar aqui sem haver tumulto. Infelizmente vocês terão que retornar para suas casas”, disse o militar aos clientes que estavam na porta.
A todo momento os clientes que buscavam atendimento gritavam, demonstrando dúvidas e aborrecimento: “como faço pra voltar pra casa no interior sem dinheiro?”, “vocês vão levar comida pros meus filhos?”, “meu pai é doente e precisa de remédios, como vou comprar sem seu pagamento?”, foram algumas das indagações.
Na agência da Caixa na rua São José, a mãe de 3 filhos, Dayse França, usava máscara de proteção médica. Ela tentava receber um benefício e fazer pagamentos, que segundo ela, só podem ser feitos presencialmente no banco.
“Depois que eu receber vou me recolher, vim por necessidade. Medo eu tenho, mas preciso comer e ter dinheiro para prevenir minha família, estou me ariscando por eles”, justificou.
Dona Marilene da Costa Santos, de 61 anos, também estava na fila e se encaixa no grupo de risco. Em sua casa, moram dez pessoas e ela foi em busca do dinheiro do benefício do Bolsa Família. Perguntada se não é preocupante e sobre o risco que corre no ambiente aglomerado, ela argumentou.
“Sim, é, não nego. Mas vou fazer o quê, meu filho? Tenho necessidade, então seja o que Deus quiser. Quero receber para ficar na quarentena com comida. Falam para a gente não vir mais, mas os políticos têm dinheiro, nós não. Medo eu tenho, muito, mas fazer o quê?”, opinou.
Um servidor do Banco do Brasil, que preferiu não se identificar, disse que os funcionários estão nervosos porque as orientações de evitar aglomerações não estão sendo seguidas nas agências desta rede.
“As pessoas vieram para os bancos, formaram filas, tá tendo confusão e os funcionários estão em pânico porque as autoridades não estão fiscalizando e o banco só pensando no seu lucro e na sua renda, não liberou os funcionários. Estamos passando por um caos, os bancos não querem saber da saúde de seus funcionários que ficam expostos a essa multidão de pessoas. É uma grande irresponsabilidade da população e dos bancos. Pedimos fiscalização e medidas já que houve a confirmação da covid-19 em Macapá”, desabafou.
Os bancos ainda não se pronunciaram sobre o assunto.