Pai, mãe e filha: a família que descansou no Rio Jari

Comerciante e esposa retornariam para Almerin, onde moravam. Família estava em Macapá desde as festas de fim de ano.
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Por MARCO ANTÔNIO P. COSTA

Dentre as dezenas de casos e histórias particulares entre as vítimas no naufrágio do barco Anna Karoline III, há a história de um jovem casal e sua filhinha de apenas sete anos de idade.

Helton Cardoso Ribeiro, de 36 anos, a esposa Samella Thayara Alves dos Santos, de 28 anos, e Maria Luisa Alves Ribeiro, a filha do casal, embarcaram em viagem no dia 28, do Porto de Santana.

Casal se conheceu em Macapá, onde nasceu a pequena Maria Luísa. Fotos: arquivo pessoal

A família iria retornar para Almeirim, no Estado do Pará onde residiam, depois de estarem em Macapá desde as festas de fim de ano. Ele era macapaense e ela almeiriense. Os dois se conheceram em Macapá, começaram a namorar, tiveram Maria Luisa e logo resolveram viver juntos.

Ele era comerciante e iria acompanhar a esposa para assumir sua função de professora de educação física no município paraense. Além disso, eles também iriam participar da festa de aniversário em Almeirim que vários dos outros passageiros iriam participar.

Mas ocorreu a tragédia no meio do caminho. Dona Rosa, mãe do Helton, veio de Belém acompanhar o desenrolar dos fatos. Seu corpo foi achado, veio à superfície muito longe do local do naufrágio, já no município de Mazagão, no Amapá.

Dona Rosa Maria: mãe, sogra e avó. Foto: Marco Antônio P. Costa/SN

Como o estado de deterioração do corpo está avançado, Rosa Maria e outros parentes recolheram material para exames de DNA, caso não fosse possível a identificação através das impressões digitais.

Mas nem chegou a ser necessário, pois o comerciante estava com uma carteira porta cédulas e nela estão seus documentos de identificação.

Família costumava viajar de navio. Foto: arquivo familiar

Drama

De alguma maneira, a mãe, sogra e avó das vítimas diz que faz toda a diferença achar o corpo do seu filho, mas que ela está preocupada com o pai de Samella. O pai da moça, que ela diz ter tanto carinho por cuidar tão bem de Helton, está na balsa que serve de apoio para as buscas de salvamento desde o dia do naufrágio.

“Ele fica lá e ele tem problema de pressão alta. Às vezes ele fica fraco, eu tenho estado em contato com ele. A sensação é horrível. A gente sabe o que aconteceu, mas acredita, faz toda a diferença você achar o corpo e poder enterrar seu ente querido”, declarou dona Rosa Maria.

Samella Thayara Alves ia tomar posse como professora de educação física do município de Almerin. Foto: arquivo familiar

Entre outros parentes, em uma casa na região central de Macapá, as pessoas contavam como o casal e a filha eram unidos, como Helton era o brincalhão que animava o ambiente. A sogra, de forma orgulhosa, fala da nora com orgulho, elogia a sua beleza.

Da menina, a avó e uma sobrinha mostraram vídeos de um passarinho que Maria Luísa fez e também o cachorro que a pequena tanto gostava e que queria um filhote para levar para casa.

Familiares recordam alegria da família

Protesto

A família se soma às centenas de parentes que estão insatisfeitos com a lentidão das buscas, com os entraves burocráticos e a demora para que o barco seja içado. Rosa Maria, que esteve no local do acidente, denuncia que dos 18 mergulhadores, apenas seis fazem as buscas e que há apenas dois equipamentos, por isso ela acredita que há maior lentidão.

Apesar das reclamações, não é de mágoa que o coração da família está cheio. Mesmo cobrando punição a quem cometeu erros e pedindo agilidade nos resgate dos corpos que faltam, a lembrança que tiveram foi de amor e da saudade que certamente irá ficar.

Seles Nafes
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