Com 4 filhos e sem ter o que comer, pescador lamenta mais um dia sem auxílio

Agências bancárias em Macapá têm tido grandes filas de beneficiários que não conseguem receber por problemas no aplicativo
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Por RODRIGO ÍNDIO

Chegar na fila que dobra o quarteirão às 4h da manhã, não ter R$ 1 no bolso para comprar um café preto para se alimentar e ficar aglomerado e se expondo ao contágio da covid-19. Além disso, esperar horas na fila pegando sol e mesmo assim não conseguir seu objetivo. Essa é a realidade das pessoas que fazem sacrifício em busca do Auxílio Emergencial no Amapá.

Na última segunda-feira (27) teve início o saque do benefício de R$ 600 em dinheiro direto da poupança digital da Caixa, sem usar cartão. De acordo com o banco, o saque é liberado em etapas, de acordo com o mês de aniversário da pessoa, para evitar aglomerações nas agências.

Filas quilométricas…

 

… se formam nas agências e invadem as ruas. Fotos: Rodrigo Índio/SN

Mas basta passar na frente dos bancos para ver enormes filas que dobram quarteirões e conversar com os beneficiários para saber que a realidade é outra. Um desses locais é a agência da Avenida 13 de Setembro, no bairro Buritizal, zona sul de Macapá.

Pessoas ocupam toda a quadra, à espera de atendimento

A agricultora Renilde Vilhena Pinheiro, de 55 anos, é mãe de oito filhos. Ela tinha direito a receber nesta terça-feira R$ 1,2 mil, por ser chefe de família e do mês de abril. Mas isso não ocorreu. A dona de casa é do assentamento Janari Nunes, no município de Tartarugalzinho, e alega que não consegue gerar um código exigido para efetuar o saque através do aplicativo Caixa Tem. Ao buscar informação, ela questiona.

“Eu cheguei ontem aqui, vim receber o auxílio porque não tenho de onde tirar porque tá tudo parado. Não tenho como sobreviver, tá faltando tudo em casa. É uma falta de respeito enorme com a gente, eles nem sequer dão informações do que devemos fazer, e quando dão nos tratam igual bicho. Não tenho nem o que comer aqui, imagine voltar pra casa que fica a 300 km daqui”, disse a mulher que tem problemas de saúde e chegou na fila às 4h da manhã.

Renilde Vilhena Pinheiro: na fila desde a madrugada

Sérgio da Costa Ferreira (foto de capa), de 50 anos, está desempregado e vive da pesca na localidade de Paredão, em Ferreira Gomes. Sem saber ler e escrever, ele está desesperado para receber o auxílio porque seus 4 filhos estão sem comer em sua casa, assim como ele aqui na capital. O homem também não tem como retornar para sua localidade.

“Estou aqui desde ontem [segunda] que pela data do meu aniversário era para receber, cheguei aqui às 5h da manhã, esperei horas na fila, me deram um papel não sei pra que se sou analfabeto e mandaram eu entrar em aplicativo. Queria ser atendido por eles e que pudesse sacar na boca do caixa meu dinheiro que já tá aí desde o dia 20, vim de carona pra cá porque era pra vir agora e eles fazem uma palhaçada dessa”, comentou.

Beneficiários tentam acessar aplicativo com código, mas procedimento não funciona

Já na agência do Centro, a também agricultora Maria Lobato, de 56 anos, que veio do assentamento nova vida, no município de Porto Grande, gritava indignada com o atendimento. Mãe de duas filhas, ela diz que pensa em desistir, mas que a necessidade fala mais alto do que o que diz ser um “desprezo” que está enfrentando.

“Somos humilhados, passamos dias esperando um código, aí a gente vem pra fila enorme no sol e quando vai sacar o código que tem duração de duas horas já expirou. Aí precisamos fazer tudo novamente. Penso em desistir pela falta de respeito por quem precisa, sou diabética e mesmo assim venho e ninguém responde algo pra resolver. Somos gente e só queremos algo que é direito nosso”, desabafou.

Maria Lobato: diabética, assentada diz que ainda não desistiu porque precisa

A dona de casa Cleyci Balieiro, de 31 anos, foi em busca de informações para conseguir que a sua mãe, que é hipertensa e impossibilitada de sair de casa, consiga receber o auxílio. Ela também esteve numa fila quilométrica só para buscar uma informação.

“Ficamos no sol e na chuva e quando chega aqui tratam mal as pessoas por algo que temos saber. Dói porque eles dizem que não sabem o que está ocorrendo e mandam entrar num site que não pega. Queria sim estar em casa em isolamento, mas a minha mãe precisa. Dizem que tem que ter esse bendito código, mas que código? Já que o aplicativo não presta. Quando resolver, se resolver, minha mãe vai ter que vir doente mesmo, mas eu queria só que respeitassem quem está aqui é atendessem dignamente”, opinou.

Cleyci Balieiro: fila em busca de informações para a mãe

Caixa Econômica

Os atendentes da Caixa Econômica Federal informaram que o problema de instabilidade no aplicativo Caixa Tem, se deve ao número excessivo de acessos e que o beneficiário deve continuar tentando.

Diante disso, a orientação é que os trabalhadores que não tem conta na Caixa nem em outros bancos só baixem o aplicativo em caso de necessidade.

Agência da Caixa no Centro de Macapá

Os atendentes não souberam informar quantas pessoas têm direito ao benefício no Amapá e quantos já receberam, mas disponibilizou as datas para recebimento. Veja:

7 de abril – para os nascidos em janeiro e fevereiro
28 de abril – para os nascidos em março e abril
29 de abril – para os nascidos em maio e junho
30 de abril – para os nascidos julho e agosto
4 de maio – para os nascidos em setembro e outubro
5 de maio – para os nascidos em novembro e dezembro

Essa medida só é válida para as duas primeiras parcelas do Auxílio Emergencial, creditadas da poupança digital. A Caixa ainda vai divulgar um novo calendário para a retirada da terceira e última parcela do benefício.

Seles Nafes
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