Por SELES NAFES
O advogado e jornalista Carlos Lobato falou com exclusividade ao Portal SelesNafes.Com, na manhã desta quinta-feira (14), depois que a Polícia Federal cumpriu um mandado de busca na casa dele, na zona sul de Macapá, no desdobramento da Operação Shoyu. Também houve prisões preventivas em Macapá, Santana e outros estados.
Lobato, que no primeiro momento achou que a operação tinha a ver com a “Caminhos de Ferro”, onde o deputado estadual Júnior Favacho (DEM) é investigado, disse ter ficado surpreso ao saber que se tratava de uma investigação sobre grilagem de terras e manejos florestais.
A PF divulgou que investiga grilagem de terras, regularização fundiária e licenciamentos de supressão vegetal, dentre outras práticas criminosas no Amapá. Que avaliação você faz?
Fiquei surpreso. Para não dizer que não tive nenhum vínculo com essas áreas, advoguei para o setor madeireiro em órgãos competentes, como o Imap e órgãos federais para que o setor destravasse. Fiz reuniões com o presidente do Tribunal de Justiça do Amapá (João Lages) que convidou representantes de todos os órgãos federais interessados para discutirmos uma alternativa. Discutimos porque o setor estava travado e criminalizado. Fui na condição de advogado. Não sou dono de terra, não intermediei e nem recebi como advogado, porque das 42 madeireiras do Amapá nenhuma delas está operando. O meu papel foi questionar o governo do Estado com liminar para que as madeireiras fossem liberadas. Estou surpreso porque advoguei pontualmente.
Mais cedo houve muita especulação nas redes sociais sobre suposto envolvimento seu na operação caminhos de ferro. Como você encarou isso?
Com incredulidade. A propina não foi dada para mim, e não sou dono de estrada de ferro. Tenho convicção que não tem nada a ver com isso. Cabe à PF apurar e à justiça julgar. Tenho certeza que em nenhuma das duas situações o meu nome se inclui.
Como foi ter o portão da casa arrombado pelos policiais?
Acho que foi um ato de força. Eu acordei e fui à sacada da minha casa onde me dirigi a eles (agentes) dizendo que eu tinha o controle do portão. Mas eles já estavam quebrando. Como sou advogado criminalista, sei que quando a polícia cumpre mandado de busca e apreensão ela já vai preparada para tudo, imaginando que ali tem um bandido. Eu tenho essa compreensão. Foi ruim, e um prejuízo. Mas o mais importante é que eles ficassem à vontade para procurar o que o Ministério Público informou ao juiz. Da minha casa levaram apenas o meu computador e o meu celular. Nenhuma folha de papel sequer. Entraram no meu escritório e não levaram nada. Vão vasculhar a minha vida, e não vão encontrar nada porque não sou bandido. Eu não me meto com esse tipo de conduta. Se advogar para destravar o setor madeireiro por meio dos manejos florestais é crime, então vão ter que provar que é, e cumprirei a minha pena resignado. Se não provarem vou ver depois o que faço.
Quais as suas atividades atualmente, além de jornalista?
Sou advogado criminalista e atuo também nas áreas administrativa e constitucional. Tenho poucos clientes, porque sou muito apaixonado pelo jornalismo. Eu advogado para o setor mineral, através da cooperativa do Lourenço, para um amigo de Porto Grande que me ajudou na minha campanha (de deputado estadual, em 2018) e para mais 3 amigos dele. Sempre advoguei com honestidade, por isso nunca tive processo no Conselho de Ética da OAB.
O que você pretende fazer agora?
Vou cobrar dos órgãos investigadores que façam justiça. O Ministério Público Federal fez isso comigo na Operação Pororoca (2000), e levei cinco anos para prestar o primeiro depoimento (no processo). E depois mais 3 anos para aguardar a sentença que me absolveu. O MP me colocou em uma ação penal ao lado dos ex-deputados Edinho e Moisés Souza, e fui absolvido. Costumo dizer que a liberdade de falar é o zelo pelas coisas que a gente fala, e o zelo de agir é o zelo pelas coisas que a gente faz. Tenho feito isso a minha vida inteira. Então, aguardo que a justiça cobre do Ministério Público quem são os culpados, e tenho convicção que não vou estar entre eles porque eu não devo. Quando isso acontecer, que possam soltar a mesma nota pública dizendo que agiram equivocadamente. Nesse país é assim: primeiro se prende, desmoraliza e depois diz que é inocente.