Sem UTI, Oiapoque não consegue atender pacientes graves de covid

Caso de ambulante comoveu e mobilizou moradores nos últimos dias. Ele conseguiu transferência para Macapá por via aérea
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Por RODRIGO ÍNDIO

No extremo norte do Brasil, o município de Oiapoque, a 590 quilômetros da capital do Amapá, não tem condições de atender pacientes graves para qualquer enfermidade, principalmente da covid-19. É o que afirmam profissionais da saúde e moradores da cidade.

De acordo com a advogada Gilmara Lima Gomes, falta tudo no Hospital Estadual de Oiapoque. Quem relata são os próprios funcionários da unidade. Lá, a população clama pela implantação de leitos intensivos para que pacientes graves tenham a chance de viver.

“Há anos nosso município sofre com o descaso na saúde pública. Nosso hospital não detém Unidade de Tratamento Intensivo (UTI), sequer sistema integrado de oxigênio, possuindo apenas balas de oxigênio que acabam a cada 12h. A pandemia acarretada pelo coronavírus apenas veio para ‘escancarar’ a fragilidade pré existente”, comentou Gilmara.

Campanha no município mobilizou por transferência de autônomo em estado grave. Fotos: divulgação/pacientes e servidores

Nos últimos dias, a falta de estrutura fez o caso do ambulante Francisco Evandro de Araújo, de 65 anos, gerar comoção e revolta. Diagnosticado com covid-19, foi necessário uma campanha de apelo para conseguir que o paciente fosse trasladado de avião para receber atendimento intensivo em Macapá.

Após ficar 5 dias em estado grave com ventilação mecânica e sem sedativo, o idoso enfrentou sol e chuva antes de embarcar na aeronave no último domingo (14). Os moradores gravaram diversos vídeos e publicaram nas redes sociais relatando o descaso. Atualmente, seu Francisco Evandro está em estado grave no Centro Covid-19, em Santana.

“Todas as vezes que um paciente se encontra em estado grave, inicia-se uma saga na tentativa de remoção aérea dadas as péssimas condições da BR-156. Muitas vezes o socorro não chega a tempo e o paciente vem a óbito. Estamos diariamente testemunhando nossos entes queridos, amigos, vizinhos, conhecidos partindo por falta de estrutura adequada, um direito fundamental de qualquer cidadão. A sensação é de constante desespero e luto”, acrescentou Gilmara, amiga que representa a família do paciente.

Balas de oxigênio usadas no hospital estadual duram 12h

A família de seu Francisco ainda relatou que o Estado não queria fazer a transferência do autônomo por ele estar muito debilitado e ser idoso.

O Portal SelesNafes.com entrou em contato com Governo do Estado do Amapá para saber se há previsão de implantação de leitos intensivos em Oiapoque e como o Estado está disponibilizando o transporte aéreo para pacientes graves da cidade para a capital, mas até esta publicação não tivemos retorno.

Transporte de pacientes por via terrestre é descartado pelas dificuldades

PF em Oiapoque

Ainda no domingo, a Polícia Federal realizou a “Operação Panaceia” em Oiapoque. A ação investiga desvio de dinheiro e testes para o combate à covid-19. A residência da prefeita Maria Orlanda (PSDB) e a Secretaria Municipal de Saúde foram alvos de mandados de busca e apreensão.

Seles Nafes
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