Alvo da PF, advogado revela que sabia de operação: “desnecessária”

Jâmison Monteiro, que também é juiz eleitoral indicado pela OAB, negou participação em sumiço de processos
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Por SELES NAFES

O advogado e juiz eleitoral Jâmison Monteiro, um dos alvos da “Operação Medida por Medida”, deflagrada no dia 9 de julho pela Polícia Federal, decidiu falar a respeito do caso, algo inédito entre investigados em inquéritos da PF e do Ministério Público Federal. Contudo, apesar de não ter tido o nome divulgado publicamente, ele sabe que a operação atingiu sua imagem, especialmente no meio jurídico.

O advogado nega participação no suposto esquema de sumiço de multas no Instituto de Pesos e Medidas (Ipem), órgão estadual encarregado de fiscalizar o cumprimento de normas do Inmetro. A PF afirma que desapareceram do instituto pelo menos 22 processos, todos relacionados a uma rede de postos de gasolina que é cliente do escritório de Jâmison Monteiro.

Em entrevista ao Portal SelesNafes.Com, o advogado revelou que sabia, por experiência como ex-delegado, que seria alvo de uma operação, e criticou o arrombamento da porta da casa onde mora, na zona norte de Macapá: “desnecessário”.

Qual era a sua função na relação entre os postos e o Ipem?

Quero deixar claro que o inquérito nada tem a ver com minha atuação no TRE (Jamison é juiz eleitoral indicado pela OAB até junho de 2021). Advogo para a rede de postos de gasolina desde 2004, e sempre ia ao Ipem para buscar cópias de processos e fazer a defesa do auto de infração. E quando os processos estavam julgados fazíamos o parcelamento. Em 2014 e 2015 fui duas vezes ao Ipem.

Mas a PF afirma que sumiram os processos com as multas do seu cliente, num total de R$ 500 mil

Eu não tenho conhecimento disso. Desde 2015, quando comecei a ficar sobrecarregado, destaquei outro advogado para tomar conta desse cliente. Em 2016, eu fui chamado pela Polícia Federal para prestar esclarecimentos do sumiço desses processos, e foi aí que eu tive conhecimento da investigação. Eu disse que não sabia de nada e que se tivessem me consultado eu não teria consentido com isso porque sei que é ilegal, afinal, os processos já estavam parcelados e sendo pagos.

Porta no chão: advogado reclamou da casa ter sido arrombada. Foto: PF/Divulgação

O que o advogado que você destacou falou a respeito?

Ele me disse que os parcelamentos estão sendo pagos.

Você disse que sabia que haveria uma operação. Como?

Eu desconfiava. Fui delegado de polícia após concurso na Paraíba, e fiquei com esse tino investigativo. Percebi que a partir do dia 3 de julho passei a ser seguido. Foram na casa da minha ex-esposa, da qual sou separado há cinco anos. Uma pessoa dizendo que era funcionária dos Correios disse que queria encontrar comigo. Numa das vezes que essa pessoa foi à casa da minha ex-esposa, o porteiro me ligou e fui lá. Ela me disse que queria um endereço alternativo para entregar uma encomenda. Vi que ela estava com a sobrancelha feita, rosto claro, sotaque sulista, então eu disse: você não é carteira, mas foi lhe dar o meu endereço atual. Então fiquei com aquilo na minha cabeça. Como não devo nada, dei meu endereço. No outro dia estavam na porta da minha casa fazendo fotos.

O que você fez depois disso?

Nesse mesmo dia meu caseiro saiu de casa e viu um carro da Polícia Federal lá perto. Logo em seguida eu fui à PF e registrei um boletim de que estava sendo seguido, e afirmei que eu estava à disposição.

Quando a PF foi na sua casa você já estava preparado, então?

Eu estava esperando, sim. Mas às 6h da manhã chegaram aqui desnecessariamente arrombando a porta da minha casa. Uma porta de madeira, caríssima. Subiram para o meu quarto, minha esposa estava quase despida. Perguntaram se eu tinha drogas, se tinha dinheiro, armas, muitas perguntas. Só não falaram que era sobre os processos do Ipem. Perguntaram da evolução patrimonial e respondi que eu trabalho muito. Foi desnecessário isso tudo. Só no final falaram que ela o processo do Ipem. São processos de 2015. Você acha que eu teria guardado eles na minha casa?

Policiais estiveram no prédio onde mora a ex-esposa do advogado

Você prestou depoimento depois da operação?

Não fui chamado. Só em 2016. Vieram aqui não sei porque. Totalmente descabido.

O que você acha que ocorreu então para os processos sumirem?

Acho que ocorreu dentro do Ipem. Quem furtou fez algo desnecessário, porque os processos estão digitalizados e estão no sistema.

Há quanto tempo você é advogado?

23 anos. Tenho um nome que lutei muito para consolidar. Sou do interior do Amapá. Cheguei aqui em 1970, muito pobre. Conheço os dois lados da moeda. Vendi picolé e lavava carro em postos de gasolina. Depois ia para a feira vender sacola e cheiro-verde. A tarde eu ia para a escola até ir para a faculdade.

O que você pretende fazer agora?

Vou avaliar. Meu advogado está esperando para ter acesso ao inquérito. Eu sabia que ia ter uma operação. Se eu devesse alguma coisa teria comprado uma passagem e teria ido passar um tempo fora. Pra mim, estão fazendo isso por causa da minha atuação do TRE, para checar venda de sentença, e não existe isso. Quem determinou a apreensão foi um juiz federal (Jucélio Neto) que é meu colega no TRE. Ficou um negócio muito chato.

Seles Nafes
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