Ex-usuário, pastor luta para salvar crianças e matar a fome de famílias

Aos 50 anos, o ex-criminoso salva vidas e faz cultos na rua numa das comunidades mais violentas de Macapá
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Por SELES NAFES

Pelo menos duas vezes por semana, o eletricista Roberval Correia Alves, de 50 anos, deixa de lado o carro, a escada, EPIs e outros equipamentos para ligar os aparelhos de som que montou em cima de uma carroça transformada em púlpito. Ele criou uma igreja itinerante que percorre as quadras do residencial Macapaba I, na zona norte de Macapá, levando alimentos para a alma e o estômago.

Das janelas dos apartamentos, por conta da pandemia, os moradores acompanham, oram e participam por telefone lendo pequenas passagens da Bíblia, como se estivessem em um programa de rádio.

Em seguida, sempre que pode, “Pastor João”, como é conhecido na comunidade, doa alimentos que ganhou de parceiros e clientes que se transformaram em amigos ao longo de muitos anos de profissão. Alguns presenciaram a época em que ele bateu no fundo do poço por causa das drogas, mas também viram a volta por cima.

Pastor se prepara para mais um culto remoto. Fotos: Seles Nafes

Moradores acompanham o culto pela janela

Pastor João ao lado de uma catadora de latinha que cria quatro netas

O gesto do pregador, quase solitário, é sempre acompanhado de perto pela esposa, e tem transformado vidas no residencial com fama de violento, mas que na verdade é habitado em sua maioria por pessoas de bem, trabalhadores e estudantes.

As pregações e orações em cima do púlpito-carroça encontram eco nos apartamentos e alimentam a vocação missionária do homem que chegou ao fundo do poço com sete processos criminais e uma temporada na penitenciária do Estado.

A experiência na penitenciária, aliás, ele compara ao exílio do povo hebreu no Egito.

“Deus me exilou na penitenciária”, disse ele, em entrevista ao jornalista André Silva, em reportagem publicada no Portal SN em 2017. Vale a pena reler clicando aqui.

Ainda na entrevista, Pastor João falou da infância, das drogas, disse que teve uma visão onde escolheu seu novo nome, e garantiu que a penitenciária é sim um instrumento de ressocialização, desde haja vontade do interno, citando ele próprio como exemplo.

“Deus me exilou na penitenciária”

Nem sempre tem, mas doações as vezes chegam

Adolescente leva alimentos para a família

Além dos mini-cultos, Pastor João mantém uma escolinha de futebol e um cineminha no Centro Comunitário, projetos que andam parados por conta da pandemia.

Mesmo assim, ele não sossega, para a sorte dos moradores do Macapaba. Eletricista de mão-cheia como poucos, o generoso Pastor João poderia ter escolhido se dedicar integralmente à profissão, o que lhe renderia muito dinheiro.

Objetivo é atender o maior numero possível de famílias do Macapaba

No entanto, acaba fazendo muitos atendimentos sem cobrar nada na comunidade. Quando encontra alguém passando fome, tira do bolso, busca doações como cadeiras de rodas, calçados, roupas e até camas.

Ao se despedir, no entanto, procura sempre deixar uma mensagem e fazer uma oração. Para doações ou serviços ele atende pelo 99166-6549.

Seles Nafes
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