Por MARCO ANTÔNIO P. COSTA
A via crucis dos amapaenses que optam por sair do estado viajando de avião parece nunca ter fim. A pedagoga Rosilene Maria Lopes Gomes, de 48 anos, que precisa viajar com frequência para tratamento de saúde, é uma passageira prejudicada constantemente pelas companhias aéreas.
Na mais recente decepção, ela comprou uma passagem de retorno de Belém (PA) – onde está fazendo tratamento de saúde – para Macapá para o próximo domingo (30). Mas o que parecia ser um voo simples, de aproximadamente 40 minutos de duração, já transformou-se em uma peregrinação antes mesmo de ocorrer.
A empresa, Gol Linhas Aéreas, remarcou a passagem para o dia seguinte, segunda-feira (31), só que de Belém para Brasília, onde Rosilene teria que pernoitar, sem traslado de taxi para um hotel e sem hotel bancado pela empresa.
Após isso, na manhã de terça-feira, já no primeiro dia do mês de setembro, é que a passageira iria chegar em Macapá. A armadilha consiste na obrigação de se aceitar o voo adulterado ou pagar mais caro por uma remarcação.
À partir daí começa a luta, relata Rosilene, para tentar falar com empresa. Ela mostrou à reportagem a gravação de uma ligação onde aguardou 16 minutos para ser atendida. E por outros canais também teve dificuldades.
Agora ela se pergunta como irá ficar em Brasília. Por ter feito uma cirurgia recentemente em Belém, vai precisar de auxílio dos comissários para entrar na aeronave e levar sua bagagem. Por este motivo, pernoitar no Aeroporto Internacional Juscelino Kubitscheck, em Brasília, seria uma verdadeira via crucis.
Mas não foi a primeira vez que Rosilene teve problemas, e ela relata.
“Quando consultei a advogada, ela me orientou que os juízes costumam considerar esses atos aborrecimentos corriqueiros e não se configuram danos, ou seja, você pode seguir, mas não vai ganhar a causa. Na última vez que eu não embarquei, um senhor que ia para Cuiabá também não embarcou e sua mãe estava com covid-19 há 14 dias e eles achavam que ela não ia sobreviver. Ele não embarcou e conseguiu ir no outro dia. Quando chegou lá, a mãe dele tinha morrido. Isso tem que parar”, indignou-se Rosilene.
Segundo o que o Portal SelesNafes.Com apurou, a pedagoga não está sozinha em situações como essa. O Procon informou que tem processos contra a Latan, contra a Gol e já ganhou, inclusive, um processo contra a Azul, e que há vários desrespeitos aos consumidores praticados pelas grandes companhias de aviação.
Sobre o caso específico, o presidente do Procon do Amapá, Eliton Franco, orientou.
“O custo da permanência lá, a Gol tem que assumir. Isso aí é regra, a Gol não pode se esquivar disso. Ela precisa ligar para o 151 e fazer esse relato, que a gente vai registrar e notificar a empresa imediatamente. Vamos estabelecer 48 horas para que a Gol preste os esclarecimentos sobre a conduta com essa consumidora. Eu vejo várias violações aos direitos dela, e as empresas já faziam isso antes da pandemia, só que agora piorou”, afirmou Franco.
Mudança de regras ajudou as empresas
O presidente do Procon aproveitou para elucidar sobre a nova lei, sancionada dia 5 de agosto pelo governo Bolsonaro. Para Eliton Franco, as novas regras só beneficiam as companhias aéreas e prejudicam os consumidores.
“Por exemplo, agora está invertido o instituto do ônus da prova. Ou seja, antes quem tinha que provar que não era verdade o que o consumidor estava afirmando, era a empresa. Agora é o consumidor que tem que provar o dano. Isso representa uma perda que ele sofreu para pedir uma reparação”, analisou Franco.
Outras mudanças são a ampliação no prazo de reembolso que as empresas ganharam e a possibilidade das companhias aéreas aplicarem multas contratuais aos passageiros.