Livro afirma que Amapá mantém dependência do funcionalismo, mas há avanços

Obra, que será lançada hoje (13), reúne estudos de nove pesquisadores. Em alguns aspectos, relação da economia com o poder público até aumentou. Foto: Seles Nafes
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Por SELES NAFES

Um grupo de nove pesquisadores lança hoje (13), em live no Facebook, às 18h, o livro “Economia do Estado do Amapá: Desafios e Perspectivas”. A obra é uma coletânea de artigos escritos antes da pandemia do novo coronavírus, que jogam luz sobre os mais diversos aspectos econômicos do Estado, incluindo paradigmas, a zona franca verde e a intensa relação de dependência com o poder público.  

Assinam a obra os economistas e professores: Cláudia Chelala (organizadora), Antônio Teles Júnior (mestre em economia), Charles Chelala (mestre em desenvolvimento regional), Marcelo de Oliveira (Doutor em desenvolvimento socioambiental), Joselito Abrantes (doutor em desenvolvimento socioambiental), Bruno Castro (mestre em desenvolvimento regional), Eduardo Tavares (mestre em administração fazendária), Júlio Avelar (aluno do curso de ciências ambientais/Unifap) e Regina Célis Ferreira (mestre em desenvolvimento regional).  

Área de Livre Comércio de Macapá e Santana. Foto: Seles Nafes

A obra analisa a conjuntura nacional entre 2008 e 2019, a instalação do Amapá, o aumento da participação do poder público no PIB, mineração, o agronegócio, a zona franca verde, a política ambiental e o desafio do desenvolvimento econômico na região metropolitana de Macapá e Santana.

O Portal SelesNafes.Com conversou com a organizadora do livro, a professora Cláudia Chelala.

Qual a proposta do livro?

O trabalho simboliza a desejável relação que se almeja estreitar entre a academia e a administração pública. Neste contexto, nasceu a intenção em reunir reflexões referentes a temas que são absolutamente importantes para a caracterização da economia do Amapá, bem como para contribuir com o debate sobre os desafios e as perspectivas econômicas, especialmente no momento em que o país vivencia uma das mais significativas crises da sua economia, além de uma crise ambiental internacional que colocou a Amazônia no centro do debate mundial sobre a preservação da floresta, tornando-se ainda mais importante o debate sobre as relações de seus habitantes com os estoques de recursos naturais.

Cláudia Chelala, organizadora e uma das autores do livro. Foto: Divulgação

Foi difícil reunir informações?

Cada capítulo representa o estágio atual das pesquisas e estudos de cada um dos autores, representando o fruto de um esforço acumulado em suas respectivas áreas de investigação. Pode-se então afirmar que os dados primários e secundários já estavam sendo trabalhados.

Entretanto, o Amapá ainda padece de carência de informações sistematizadas que dificulta a produção e divulgação de estudos, notadamente sobre a economia do estado.

O Amapá é chamado de “a economia do contracheque”. Ainda cabe esse rótulo ou reduziu a nossa dependência do funcionalismo?

O capítulo 2 atualiza a pesquisa realizada por ocasião do mestrado de Charles Chelala, quando publicou a obra “A Magnitude do Estado na Socioeconomia Amapaense” e comprovou que o estado do Amapá era a unidade da federação na qual se constatou mais marcante a administração pública na atividade econômica, logo, era intensa a dependência do pagamento dos salários dos servidores públicos.

Colheitadeira enche caminhão de soja em Itaubal. Foto: Seles Nafes

Nesta coletânea, o autor adotou a mesma metodologia e observou-se nitidamente que esta forte participação estatal se manteve inalterada uma década após a primeira mensuração ou, ainda mais, até ampliou em determinados casos, como, por exemplo, a participação da administração pública no PIB aumentou em 0,8 ponto percentual; a quantidade de servidores públicos sobre o total de trabalhadores formais passou de 43% para 50% e a proporção de remuneração paga a funcionários públicos permaneceu na casa dos 68% da massa salarial do estado. Entretanto, o Amapá cedeu para Roraima o primeiro lugar no ranking das unidades da federação nas quais é maior a presença do Estado na economia.

Quais vocações do Amapá?

O Amapá apresenta diversas vocações econômicas, como a Bioeconomia, extrativismo vegetal, pesca, turismo, dentre outras. Nesta obra, foram abordadas as seguintes atividades: a mineração, o agronegócio, a Zona Franca Verde e o projeto “Tesouro Verde”.

Peixe é um dos potenciais

Quais serão os efeitos da pandemia na nossa economia?

A coletânea seguiu para impressão em janeiro deste ano de 2020, ou seja, antes do início da pandemia, cujos efeitos não estão retratados nos capítulos.

Os impactos estão sendo sentidos em todos segmentos da economia amapaense (assim como no mundo inteiro), com destaque para o setor de serviços como turismo, eventos, academias de ginástica, bares, restaurantes, salões de beleza e barbearia, dentre outros. Também afetam profundamente o comércio e a indústria, bem como a atividade agropecuária.

As próximas publicações sobre a economia do Amapá deverão abordar quão intensos e profundos terão sido esses impactos.

Qual o papel do estado e setor privado nessa retomada da economia?

Na pandemia, ficou evidente o papel determinante do Estado para minimizar os efeitos da crise, seja com o auxílio emergencial às pessoas carentes, linhas de créditos diferenciados para micro e pequenas empresas, apoio financeiro a estados e municípios, dentre outras formas. É interessante que tal apoio ocorra justamente num governo federal que se autointitula “ultraliberal”, defendendo a retirada total do Estado da economia.

Ao setor privado será fundamental retomar os empregos perdidos e recuperar a capacidade de investimentos, particularmente nos segmentos mais afetados pela crise.

Seles Nafes
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