Por MARCO ANTÔNIO P. COSTA
Depois de assinar a “Carta ao povo de Deus”, documento que faz duras críticas à conduta do presidente Jair Bolsonaro frente à pandemia de coronavírus, o bispo da Diocese de Macapá, dom Pedro José Conti, vem sofrendo ataques de militantes e interpelações nas redes sociais e também por parte da imprensa local pró governo federal.
Divulgada em todo o Brasil no último dia de 26 julho, a carta também chama ao diálogo nacional e reflete sobre as vidas perdidas na pandemia de covid-19 no Brasil, assim como toca em outros temas, como a economia, a situação de ribeirinhos, povos indígenas, jovens da periferia e demais setores mais vulneráveis socialmente.
O documento é assinado por Conti e outros 152 bispos de todo o país, dentre eles o arcebispo emérito de São Paulo, dom Cláudio Hummes. Os ataques a Pedro Conti geraram uma rede de solidariedade ao bispo do Amapá.
“A causa dessa tempestade é a combinação de uma crise de saúde sem precedentes, com um avassalador colapso da economia e com a tensão que se abate sobre os fundamentos da República, provocada em grande medida pelo Presidente da República e outros setores da sociedade, resultando numa profunda crise política e de governança”, diz um trecho do documento.
Dom Pedro José Conti quebrou o silêncio ao Portal SelesNafes.com nesta quinta-feira (6). Ele falou em diálogo e respeito às diferenças. Ao ser perguntado se em algum momento se arrepende de ter firmado o documento, ele foi categórico.
“Não. Absolutamente, não. Porque foi uma carta que chegou, eu li com atenção e graças a Deus concordo também com o que está escrito lá e que outros 152 assinaram. Em especial eu coloco a preocupação, como bispo da Amazônia, que mais conhece a situação dos povos indígenas e das preocupações com o futuro da Amazônia. Por isso, eu lamento a interpretação que foi feita, como se fosse uma carta de ódio ou de adversidade, e não é, simplesmente é levantar questões que devem ser resolvidas de uma forma bonita”, declarou o sacerdote.
Dom Pedro ressaltou a defesa da vida, da democracia, e do direito à liberdade de expressão e da convivência entre os que pensam diferente, mas repudiou ataques pessoais. Ele afirmou que outros bispos, de outras regiões, também estão sofrendo com o mesmo tipo de intolerância em seus bispados.
Quanto ao evento ocorrido em um programa televisivo local – no qual foi diretamente atacado – dom Pedro preferiu não se referir especificamente, mas deixou uma mensagem geral de diálogo e união de forças.
“Eles [os ataques sofridos] me surpreenderam e não surpreenderam. Porque o que foi dito é o que escutamos continuamente nas redes sociais. Algumas afirmações, acusações. Análise política é uma coisa, agora acusar a outra [parte] porque não concorda com uma certa atitude ou escolha, precisa refletir mais. Nós não pedimos que todo mundo fosse de acordo com a carta, isso é óbvio. Na democracia tem pessoas que pensam diferente, então vamos sentar e conversar, não digo só chegar a um meio termo, mas um consenso para alguma solução”, concluiu dom Pedro.
Solidariedade
Após os eventos, diversos setores religiosos, sociais e políticos do Amapá manifestaram-se em solidariedade ao bispo. O mais robusto dos manifestos, a “Carta ao povo de Deus e pessoas de boa vontade”, assinado por dezenas de paróquias e instituições da Igreja Católica, assinalou.
“Infelizmente, nosso bispo diocesano foi atingido por comentários não baseados na verdade dos fatos, nem com a história da Igreja Católica e nem com os ensinamentos do Papa Francisco. De imediato, lideranças eclesiais e agentes pastorais das comunidades, externaram sua indignação e tristeza, pois compreendem que o noticiado em veículos de comunicação foi despejado em uma linguagem carregada de preconceitos e inverdade”, diz trecho do documento.