Pássaros estão morrendo no Centro de Macapá

Eles estão agonizando em frente a um prédio espelhado. Especialista diz que há meios de salvar os animais
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Por MARCO ANTÔNIO P. COSTA

Dezenas e, talvez, mais de uma centena de passarinhos, estão morrendo ao se chocarem com os vidros espelhados de um prédio em construção no centro de Macapá. A cena tem chamado a atenção de pedestres.

O prédio fica na esquina da Avenida FAB com a Rua Tiradentes e o problema teria começado há pouco mais de uma semana, desde que os vidros espelhados foram instalados na construção.

“Todos os dias vem morrendo uma média de 10 a 15 passarinhos. Nem todos morrem na hora, ainda ficam agonizando enquanto outros conseguem se levantar e voar. É muito triste”, contou Vicente Andrade, que trabalha próximo ao local.

Vicente tentou buscar contato com o Batalhão Ambiental da Polícia Militar e demais autoridades do meio ambiente, mas não obteve sucesso.

“É de partir o coração de quem gosta da natureza. Se não morreram 100, está bem próximo disso. Queremos buscar apoio para ver o que pode ser feito, o que não pode é continuar com essas mortes todos os dias”, desabafou Vicente.

Mais de uma dezena de mortes por dia. Fotos: Marco Antônio P. Costa

Agonia: nem todos morrem na hora

O pássaro em questão é o cacicus cela,  popularmente conhecido como japiim ou xexéu, e eles acabam morrendo no final da tarde, na hora em que estão retornando para seus dormitórios. Ocorre que agora há um obstáculo no caminho, na rota das aves o vidro espelhado faz com que o animal não perceba que há um prédio, então eles acabam batendo e a maioria acaba morrendo.

O biólogo especialista em ornitologia – o estudo das aves -, Kurazo Okada, explicou que este é um problema que começa a aparecer com maior frequência agora em Macapá por conta do processo de verticalização da cidade. Okada mencionou uma pesquisa de biólogos da Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR) que tem buscado soluções para o problema.

Em muitos países, especialmente nos EUA e também no Brasil, usava-se adesivos de aves de rapina, de falcões e gaviões, método que se demonstrou sem sucesso. De acordo com os pesquisadores, todas as observações e testes levaram à conclusão que adesivos circulares nas vidraças tiveram êxito em resolver o problema. E Okada complementa.

Pássaros estão se chocando contra este prédio em construção

Vicente Andrade trabalha no Centro e vê as mortes de pássaros todos os dias

“Podemos também pensar em usar plantas nas varandas, nas janelas, para que a ave perceba os obstáculos e não sigam por esse caminho. Plantar árvores ao redor também é uma boa opção”, declarou Kurazo Okada.

Como comparativo e para ajudar na compreensão, o biólogo deu como exemplo as marcações, listras longitudinais, que existem nas portas de vidros, dos shopping centers, por exemplo, e que mesmo assim não é incomum que pessoas não percebam que há uma porta e acabam se chocando. É algo similar o que está acontecendo no caso do japiim.

Sobre as consequências em relação à mortandade dos passarinhos, o ornitólogo foi categórico.

“Vamos ter perda de biodiversidade e desequilíbrio ecológico. As aves fazem muito o processo de dispersão de sementes, polinização, controle de insetos, principalmente as espécies urbanas que a maioria são insetívoras [que comem insetos], então você tirando um elemento que faz o controle você tem aquela outra população aumentando”,  finalizou Kurazo Okada.

Adesivos e árvores ajudariam na percepção do prédio, diz especialista

Autoridades e proprietários

O Portal SelesNafes.Com buscou informações sobre o que pode ser feito para resolver ou mitigar o problema. O secretário de Meio Ambiente do município, Márcio Pimentel, ficou sabendo da questão a partir desta reportagem e informou que a secretaria irá monitorar o problema à partir de agora.

Segundo Márcio, se a mortandade seguir alta por mais, pelo menos, cinco ou seis dias, a secretaria irá intervir, buscando os proprietários do prédio para juntos tentarem resolver o problema.

O Batalhão Ambiental da Polícia Militar do Amapá foi contatado e até o fechamento desta edição não havia se posicionado.

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