Após 32 anos de criação do Estado, amapaenses refletem sobre avanços e desafios

Em 5 outubro de 1988 o Território Federal do Amapá passa à condição de Estado, com sua capital, Macapá.
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Por MARCO ANTÔNIO P. COSTA

Neste dia, um 5 de outubro, há 32 anos, era promulgada a Constituição de 1988, conhecida como a Constituição Cidadã. Dentre os atos nelas contido, um deles é muito especial para essa terra de limites setentrionais: a criação do Estado do Amapá.

O Portal SelesNafes.Com conversou com jovens mais novos que a criação do Estado e com moradores que vivem aqui desde quando o Amapá era Território Federal. Eles são de diferentes atividades – um estudante, uma comerciária, uma trabalhadora da limpeza pública aposentada e um pioneiro do Laguinho – mas que ainda cultivam o mesmo sonho: viver num Amapá com seus “filhos alegres (…) num futuro repleto de louros”, como versa o hino deste rincão brasileiro.

Eles representam parte da diversidade do nosso Estado e opinaram sobre avanços e desafios que acreditam termos pela frente. Do que mais chama a atenção, os dois entrevistados mais jovens – talvez pelas perspectivas mais escassas para a sua geração – colocam acento maior nos problemas.

Há 32 anos, Ulisses Guimarães comemorava a Constituição Federal Brasileira. Foto: Divulgação

Já os dois entrevistados mais experientes – talvez por terem vindo de condições mais adversas – têm uma opinião mais ponderada e, sem esquecerem dos problemas, demarcam que houve avanços.

Raquel Oliveira, de 19 anos, é comerciária em Macapá. Ela acredita que saúde e segurança são os dois pontos que mais precisam avançar. Com bom humor, disse que o melhor que temos é o açaí.

“Acho que a questão da segurança e a questão da saúde, são as áreas que precisam avançar. E o açaí, mano, eu tenho o orgulho do açaí daqui, porque o açaí daí [de fora], nossa, meu orgulho é o açaí. Mesmo com o açaí caro, eu continuo tomando”, contou Raquel.

Fransuilton Marques Pereira, de 21 anos, estudante de curso técnico em recursos humanos. Para ele, a infraestrutura é um dos pontos que o Estado mais precisa avançar.

Fransuilton Marques Pereira, de 21 anos, estudante de curso técnico em recursos humanos. Fotos: Marco Antônio P. Costa/SN

“Os políticos aparecem só quando eles precisam de alguma coisa. Tipo agora, começaram a capinar a cidade, pintaram as áreas todas e só, porque durante quatro anos ninguém fez nada e só agora eles apareceram pra fazer, pra inaugurar, por causa da eleição. Também acho que precisamos de mais programas sociais para os jovens”, declarou Fransuilton.

Crítico, mesmo quando aponta pontos positivos, ele relativiza.

“A gente tem pontos turísticos muito diversificados, muito bonitos, só que o problema é que estão abandonados. Olha, o bondinho [do Trapiche Eliezer Levy], a orla que poderia ser um pouco mais arrumada, o Araxá também. De zero a dez, o Amapá leva uma sete, e ainda acho que está muito”, pontou o jovem.

Também tem preocupações Walmira Nóbrega, de 61 anos, moradora do famoso Formigueiro, no centro de Macapá. Trabalhadora da limpeza pública por muitos anos, hoje está aposentada.

“Quando vim aqui para Macapá, nós não tínhamos nem água, a gente carregava água na cabeça. Hoje nós conseguimos eleger nossos políticos, as pessoas pra lutar por nós. Não é como era antigamente, que vinha [indicado] pelo presidente, e você não sabia nem quem é que vinha pra cá. Agora não, nós colocamos e depois nós mesmos podemos tirar”, opinou Walmira.

Sobre os pontos negativos, ela se preocupa com a juventude, com oportunidades e problemas com abuso de drogas.

Walmira Nóbrega, de 61 anos, moradora do famoso Formigueiro, trabalhadora da limpeza pública por muitos anos, hoje está aposentada

“O governo deveria ajudar mais os jovens carentes. Deveria fazer um hospital para tratamento de droga, porque mil por cento que você anda por aí, muitos jovens jogados, precisando de ajuda. Eu trabalhei 20 anos numa escola, e vi muito isso. Esses jovens não tem uma expectativa de trabalho, nem de estudo bem colocado, que preencha o horário deles na manhã e na tarde, e mais, psicólogo nas escolas, psicólogos são necessários. Eu vi nas escolas, e me aposentei por estresse”, desabafou Walmira.

Por fim, o mais experiente dentre nossos entrevistados e assíduo colaborador do Portal SelesNafes.Com, o Mestre Lino, aos 85 anos de idade, pioneiro do Laguinho, do samba e da negritude amapaense, também deu suas opiniões.

Mestre Lino: “Acho que estamos no rumo certo, falta colocar as pessoas certas”

“Eu acho que o Amapá desde a transformação de Território [Federal] para Estado, melhorou, melhorou muito, inclusive na construção de escolas, de hospitais, de médicos, atendimento geral para a população. Na época retroativa não existia isso, era um médico só para atender mil pessoas e com o advento do Estado nós melhoremos muito, crescemos”, declarou Mestre Lino.

Com palavras ternas e de incentivo, o multicampeão do samba amapaense encerrou nossa pequena enquete.

“Acho que estamos no rumo certo, falta colocar as pessoas certas, para melhorar a vida de quem mais precisa. Melhorou, mas pode melhorar mais. Estamos passando por um problema de saúde, o vírus, mas isso vai passar. Até nisso, podemos achar algo positivo, porque a gente valoriza mais a vida, a amizade, a união das pessoas, principalmente aqueles que não ligam pra doença, acham que são os donos do mundo. O Estado graças a Deus está indo bem, espero que daqui pra frente, melhore muito mais”, finalizou o octogenário Mestre Lino.

Foto de capa: Maksuel Martins/Ascom/GEA

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