Após cegueira, homem vence depressão e faz até consertos em casa

Antônio, de 59 anos, ficou cego repentinamente e entrou em depressão. Cinco anos depois, ele se cuida
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Por MARCO ANTÔNIO P. COSTA

Histórias como a de Antônio Rodrigues Ferreira, de 59 anos, nos fazem, como mínimo, termos um dia melhor depois de conhecê-la. O homem tem glaucoma, e há cinco anos perdeu totalmente a visão. Entretanto, surpreende a todos em sua volta quando faz reparos em sua casa, encarando a dificuldade com bom humor, sua principal característica.

Antônio já fez de tudo um pouco na vida. Das ilhas do Pará, no município de Breves, ele já foi da roça, carpinteiro, trabalhou em padarias, foi gari e fez outras tantas coisas para garantir o sustento dos dez filhos que teve.

Um dia, há cinco anos, percebeu a visão ficar um pouco embaçada, e no dia seguinte acordou sem enxergar quase nada, com o campo de visão diminuído. Estava indo para uma cegueira. É isso o que o glaucoma faz.

O glaucoma é uma doença faz a pressão intra ocular aumentar, e com isso os nervos acabam se rompendo. São esses nervos ópticos os responsáveis de levar o que a retina capta para a região do cérebro que decodifica o que o ser humano está vendo. Sem eles, a cegueira pode ser parcial ou total. Há tratamentos com diversos colírios que baixam a pressão e podem retardar ou até paralisar este desgaste.

Filho diz que queria ter a força do pai. Foto: Marco Antônio P. Costa

Ativo e jovial, a doença pegou Antônio de jeito. Foram dois anos em cima de uma cama, triste, com depressão.

“Chorando, com uma depressão terrível. Eu entrei em uma depressão que, os meus filhos sabem, eu não sou de me abater com pouca coisa. Esse um mesmo que tá aqui [Salomão, filho], ele diz que quer ter a força que eu tenho. É piada, uma brincadeira, tudo eu vou fazendo, rindo que quem ver pensa: pô, o cara tá bem!”, contou Antônio.

Resiliência

Mas veio a volta por cima. Um dia, escutando um programa de TV, ouviu uma história parecida com a sua e a reflexão era de que ou enfrentava a doença e se adaptava à nova forma de viver, ou a doença levaria sua vida de uma vez.

Antônio no dia em que consertou a tomada

Tomada funcionando

E assim foi. Como ocorre com os deficientes visuais, ele tem decorado cada canto e posição dos móveis na casa. Ele lava a louça para ajudar a esposa, faz gambiarras e arranjos elétricos, serra, troca pia de lugar e o que mais aparecer. O glaucoma pode ser forte, mas o que já se aprendeu na vida, ela não tira de dentro da cabeça de ninguém.

“Uma vez não tinha um bocal, eu falei para colocarem uma mesa que eu já tinha na cabeça como é que eu fazia. Colocaram, reclamando, e eu subi com uma faquinha. Descasquei um lado do fio, aí dobrei pro outro lado, passei a fita isolante e meti a lâmpada facinho”, contou Antônio, com o detalhe que a energia não estava desligada.

Exemplo

O filho Salomão Rodrigues Ferreira chegou na casa do pai, que mora em uma área de pontes da 10ª avenida do Bairro dos Congós e ficou surpreso ao ver que o pai havia consertado uma tomada, feito o encaixe da sua proteção com pregos, trocado o chicote e que o freezer da família estava funcionando muito bem.

Sem o pai saber, fez fotos do momento e postou em suas redes sociais, e hoje está recebendo mensagens de pessoas até de outros estados surpresos e felizes com a força de Antônio.

“- O que o senhor tá fazendo? Colocando uma tomada pra tua mãe, e assim fomos conversando e eu fui fazendo as fotos. Eu já sabia das proezas dele, mas fiquei impressionado porque ele pregou direitinho e o quadrante ficou na parede”, contou o filho.

Reivindicação

Apesar do bom humor, não é fácil o dia-a-dia. Uma das maiores dificuldades é a situação da sua ponte. Ele praticamente não pode sair de casa, são raras às vezes em que o faz, porque realmente há buracos grandes e espaçados e muitas tábuas estão podres.

“Fala sobre a situação da ponte. Tá feia demais, são oito anos que ela não recebe nenhum reparo. Quando tem, quem faz são os próprios moradores. São uns 500 metros de ponte, não é possível que isso seja tão caro”, reivindicou Antônio Rodrigues.

Passarela onde mora a família

Condições precárias

Fica o exemplo de superação e a mensagem concreta de que, sem romantizar as dificuldades, é possível superar desafios.

“Eu acho que a pessoa deve ter um bom ânimo, olhar pra vida, que ela não acabou. Eu vim aprender que a vida é bela, é boa de se viver. Quando você vai numa situação dessas, você aprende a dar mais valor na vida. Acho que é isso”, finalizou Antônio Rodrigues Ferreira.

Seles Nafes
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