Curso de medicina da Unifap vive conflito interno com pedido de expulsão de estudantes

Unifap vive dias conturbados com guerra de prints e acusações entre estudantes e professores.
Compartilhamentos

Por MARCO ANTÔNIO P. COSTA

O concorrido curso de medicina da Universidade Federal do Amapá (Unifap) vive dias conturbados. Polêmicas com o retorno do internato dos estudantes formandos acabaram indo parar nas instâncias superiores, inclusive com pedido de expulsão de dois estudantes. De um lado, os acadêmicos alegam perseguição. De outro, o professor alega prejuízo ao bom funcionamento do curso. Entenda:

Para se formarem os estudantes de medicina, como em várias outras profissões, precisam de momentos práticos durante o curso, intensificados no seu final. No caso da formação médica, a prática é feita dentro de unidades de saúde, chamada de internato. Com a pandemia de covid-19 as atividades da Unifap, inclusive do internato, foram paralisadas, e ainda estão.

Foi então que o governo federal criou o programa “Brasil Conta Comigo”, que permitiu a formatura de estudantes do último semestre de medicina com 75% do internato concluído para ajudarem nos hospitais brasileiros.

Segundo alguns estudantes que buscaram nossa reportagem, os alunos que aderiram ao programa têm sido mal vistos e perseguidos pelo coordenador do internato, o médico geriatra e professor Alessandro Nunes. Foi Alessandro que fez o documento em que pede a exclusão, ou seja, a expulsão, de dois estudantes.

“Considerando o Art. 215 e Art. 218 do Regimento Geral da Unifap, que preveem a exclusão do discente como sansão disciplinar por infração grave que traga consequências para o ensino, pesquisa ou extensão, e os eventos descritos abaixo, solicito: a exclusão do curso de medicina do discente Lucas Almeida Ribeiro; a exclusão do curso de medicina da discente Fernanda Sachia Chaves Maia”, diz o trecho inicial do pedido.

Para os alunos, que não quiseram se identificar com medo de represálias, o documento é uma clara tentativa de retaliação e perseguição. Os alunos alvos do pedido não falaram com nossa reportagem, mas os colegas relataram que estão abalados.

A origem das polêmicas

Conforme decisão do colegiado de medicina, em reunião virtual realizada no dia 17 de setembro, o internato iria retornar suas atividades no dia 28 do mesmo mês, 9 dias após a realização da reunião.

Com o início da pandemia alguns estudantes estavam em outros estados, com isso consideraram o prazo muito curto para o retorno, já que ainda teriam que providenciar passagens aéreas. Sobre a reunião, foi feita uma denúncia anônima, que alegava que o método da votação foi errado.

“Foi colocado para votação as datas 21/09, 28/09 e 05/10 (proposta dos estudantes). O resultado da votação foi 15 votos 5/10; 14 votos 28/09; 2 votos 21/09 e 8 abstenções. Após vitória da proposta que contemplava os discentes, não conformada com o resultado, a organização da reunião decidiu por refazer a votação, excluindo a opção 21/09, sendo a data 28/09 a mais votada nessa segunda votação”, diz trecho da denúncia anônima.

Guerra de prints

Os dois lados apresentam prints de mensagens de WhatsApp. De um lado, um dos prints apresentados pelos estudantes tem a fala do professor com usando os termos “malandragem” e “falta de ética”.

“Assumi a coordenação do internato há três anos com a missão de contribuir na formação de todos e na organização dos módulos, prova e calendário. Sei que houve falhas e aprendizados. Mas facilitar a malandragem e a falta de ética, com certeza nunca foi cogitado!”, diz trecho da mensagem enviada pelo professor Alessandro Nunes em um grupo.

Professor

Ao conversar com o Portal Seles Nafes o professor explicou sua posição. Ele disse que é favorável ao programa, que ele foi correto no auge da pandemia e que o retorno do internato é uma decisão soberana do colegiado de medicina, não precisando da administração ou do Conselho Universitário autorizar e que não há nada de ilegal nisso.

Sobre o prazo de 9 dias, ele afirmou que trata-se de uma espécie de “cortesia”, porque, segundo ele, “marcou aula, tá marcado”, mas deixou em aberto que qualquer dificuldade exposta por qualquer aluno teria a compreensão da coordenação. Alessandro também se posicionou sobre outros pontos.

“Não houve intimidação, nem haverá. Professor não briga ou intimida alunos. Não ganho nada com isso. Na verdade, os professores de medicina estão estarrecidos diante de um dos maiores escândalos de obstrução do curso na busca de uma tentativa fraudulenta de antecipação de formatura. Os alunos queriam a colação de grau em medicina sem cursar ou mesmo fazer uma única prova do último e mais importante ano do curso. Um escândalo.”, desabafou Alessandro. 

A representante estudantil no Conselho Universitário (Consu), Ingrid Gibson, estudante do curso de enfermagem, afirmou que não é a primeira vez que recebe denúncias de assédio moral por parte de professores no curso de medicina e que a representação irá buscar ver o lado dos estudantes e averiguar a conduta do professor.

Pró-reitoria de graduação

O servidor Nalimilson Pinheiro, Pró-Reitor Substituto de Ensino de Graduação, afirmou que teve conhecimento da petição, mas até o momento não recebeu o documento de forma oficial. Foi feita a consulta prévia às orientações da Procuradoria Jurídica e Corregedoria da instituição com objetivo de resguardar os direitos fundamentais dos envolvidos, mas que ainda aguarda a devida notificação oficial pela coordenação do curso para, assim, buscar subsídios junto às instâncias jurídicas da Unifap para a apuração da conduta dos envolvidos na forma que exige a norma institucional.

Parece que as ironias do destino fizeram morada constante neste caso. O professor Alessandro Nunes seria, até então, o paraninfo da turma, ou seja, o professor homenageado na formatura.

Seles Nafes
Compartilhamentos
Insira suas palavras de pesquisa e pressione Enter.
error: Conteúdo Protegido!!