Mulheres negras ainda são a maioria na cozinha, afirma ativista

Projeto “Mulheres Negras da Amazônia, um diálogo transfronteiriço” reúne mulheres no diálogo sobre o tema. (Foto: Marco Antônio P. Costa)
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Por MARCO ANTÔNIO P. COSTA

O Instituto de Mulheres Negras do Amapá (Imena), com o apoio da Embaixada Francesa no Brasil, está realizando rodas de conversa e debates sobre a inserção e o papel das mulheres na Amazônia e no Amapá no projeto “Mulheres Negras da Amazônia, um diálogo transfronteiriço”.

O Imena disputou o edital da embaixada francesa e ganhou apoio para realizar o encontro e o diálogo com mulheres amapaenses e francesas, de São Jorge e Caiena. Entretanto, com a pandemia de covid-19, os eventos estavam sendo adiados e, por fim, ocorrerão presencialmente apenas em Macapá e Oiapoque, tendo o momento de troca com as mulheres guianenses, apenas de forma virtual.

Em Macapá, o primeiro espaço do evento ocorreu no último dia 13, na igreja de São Benedito, no tradicional bairro do Laguinho, área central de Macapá. Foi no espaço que conversamos com Rivanda Lina, professora que completou 55 anos exatamente neste dia.

“Aonde que nós estamos? Nas cozinhas, nos serviços menores”, diz Rivanda. (Foto: Marco Antônio P. Costa)

Seu aniversário foi junto às amigas e companheiras de ativismo, fazendo reflexões sobre a situação da mulher negra no estado. Segunda Lina, a situação da mulher negra amapaense não difere muito do restante do Brasil.

As estatísticas apontam que mais 75% da população amapaense é formada por negros e pardos, e dentro destes 75%, a maioria é formada por mulheres negras. Sendo assim, ela questiona:

“Nós não estamos no alto escalão. Você conta as mulheres negras que estão na política. Tu tem uma, duas? Só. Aonde que nós estamos? Nas cozinhas, nos serviços menores. Tem muitas mulheres negras na educação? Sim. Professoras do ensino primário e até superior, como Alexsara, Piedade Lino, que nos representam. Professora Mariana. Elas nos representam muito bem, mas no superior são bem poucas. Temos negras na saúde, estamos em todos os lugares, mas ainda é a minoria”, refletiu Rivanda.

A reflexão segue, por exemplo, no judiciário, onde a ativista pergunta: “quantas juízas negras existem no Amapá?”.

Bem viver

Bem viver é o conceito central que as mulheres estão trabalhando no evento, e basicamente quer avaliar como está a vida da mulher dentro do mercado de trabalho, na sua terra, na educação, cultura, saúde e tantos outros indicadores importantes.

Além da inserção racial e social, a violência é uma das questões que se relacionam com a fronteira. Que entende-se ser trazida, por exemplo, pelo tráfico de drogas, que ceifa a vida a de muitos filhos de mães negras, como também a violência estatal. Refletindo um caso recente de grande visibilidade em Macapá, Rivanda disparou:

“Infelizmente, quando tem uma briga ali, vem a pergunta: quem é preto que tá no meio? Tem um racismo aí. Tivemos um evento recente. Se fosse outra pessoa, teria filmado a ação. Como era uma mulher negra, tentaram calar a voz dela. Por sorte estavam filmando e até agora ela, que foi vítima, tem que se defender. A gente percebe que hoje é bate primeiro, mata primeiro, para depois perguntar quem é”, contou Rivanda.

Oiapoque terá sua vez de receber o evento no próximo final de semana e a ideia é que após a conclusão de todos os espaços, uma carta seja elaborada, direcionada ao poder público e toda a sociedade. 

Em Macapá o evento ocorreu na igreja de São Benedito, no tradicional bairro do Laguinho. (Foto: Marco Antônio P. Costa)

Seles Nafes
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