Por MARCO ANTÔNIO P. COSTA
Aldo Silva do Espírito Santo é um grande craque do futebol amapaense. Um dos maiores. Mas há uma história pouco conhecida do grande público. O “caçador de urubu”, apelido que recebeu por suas vitórias com o Fluminense em cima do Flamengo, também enfrentou nada mais, nada menos, que supercraque Diego Maradona, o deus argentino, que nos deixou poucos dias atrás.

Em 1984, Maradona estava fazendo seu jogo de despedida pelo Barcelona. Foto: Divulgação

No jogo contra Maradona, Aldo foi grande. Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal
Maradona estava fazendo seu jogo de despedida pelo Barcelona. A passagem do “El Pibe” pelo time catalão não foi das melhores, mas mesmo assim, todos já sabiam à época que se tratava do maior craque daquela geração.
O jogo ocorreu em Nova Iorque, no Giant Stadium, pelo Torneio Transatlântico de 1984, na época em que o Cosmos montava times com jogadores de grande expressão, como Pelé. Naquele ano, o melhor time do Brasil era o Fluminense de Romerito, Assis, Washington e Aldo.
O craque amapaense tinha e tem destaque nas Laranjeiras. Há legiões inteiras de tricolores espalhados pelo país que se emocionam ao se lembrar dos lances dele.
O torneio contava com quatro times: o anfitrião Cosmos, a italiana Udinese, o Fluminense e o Barcelona. O primeiro jogo o tricolor perdeu para a Udinese, e foi decidir o terceiro lugar com o time de Maradona.

O craque amapaense tinha e tem destaque nas Laranjeiras. Fotos: Marco Antônio P. Costa/SN

Há legiões inteiras de tricolores espalhados pelo país que se emocionam ao se lembrar dos lances dele
“Ele já era craque, perigoso. Pelo jeito que ele ia, a gente sabia que ele seria o melhor do mundo. Por exemplo, o passe que ele deu para o segundo gol do Barcelona é coisa de gênio”, contou o craque amapaense.
Além disso, dois anos antes do icônico gol “La mano de Dios”, na copa de 1986, no jogo contra a Inglaterra, Maradona também meteu a mão na bola em um dos gols contra o Fluminense. Desta vez, porém, o gol foi corretamente anulado.
Já Aldo, não foi discreto na partida. Ao contrário. Os dois gols do Fluminense saíram de cruzamentos seus. O lateral direito parecia cruzar com as mãos, de tão exato que seus passes eram.
Um dos cruzamentos mais famosos foi num Fla x Flu do mesmo ano, quando colocou a bola na cabeça de Assis que, sozinho, subiu para marcar um a zero em cima do Flamengo e ganhar o título carioca de 1984.

Aldo: “Ser do Norte e chegar lá pra ser reserva? Não! Queria ser titular e sempre lutei por isso”
No jogo contra Maradona, Aldo foi grande. O Fluminense abriu com Paulinho, de cabeça, e fez o segundo com Romerito. Aliás, parte da torcida do tricolor das laranjeiras considera este um grande duelo, Maradona e Romerito. Mas todos, inclusive memorialistas de futebol, atribuem a Aldo uma grande atuação.
Sem chuteiras
O jogo era veloz, uma característica dos dois times. Mas o Fluminense tinha dois problemas. O primeiro eram os desfalques. Quatro jogadores do Fluminense, incluindo o artilheiro Assis, estavam na seleção brasileira. O segundo, era um problema mais excêntrico, por assim dizer.
“O problema lá em Nova Iorque, muitos não sabem, mas o campo era sintético e nós fomos de chuteira. O Carlos Alberto Torres [capitão do tri e técnico do Fluminense], que arrumou com o Beckenbauer uns tênis pra gente jogar. Até o nome do tênis era dele: Tênis Beckenbauer”, relembrou Aldo.
Humilde e aplicado, ele falou sobre si.

Aldo ficou contente ao poder contar a história do dia em que enfrentou, jogando muito bem, um dos maiores jogadores da história do futebol mundial
“A gente aprendeu a chutar umas bolinhas, a fazer uns cruzamentos, né? Eu sempre corri, em 10 segundos eu fazia 100 metros, eu era veloz. Eu buscava a velocidade, principalmente no segundo tempo, porque eu tinha um bom preparo físico. Eu treinava demais e me resguardava muito, para poder me apresentar bem. Ser do Norte e chegar lá pra ser reserva? Não! Queria ser titular e sempre lutei por isso”, contou Aldo.
A partida acabou empatada em dois a dois e, nos pênaltis, o time de Maradona levou a melhor. ‘Dieguito’ seguiu para o Napoli, da Itália, onde é tido um como rei e dois anos depois se consagraria ao dirigir a campanha argentina na copa do mundo do México de 1986.
Aldo ainda passou por outros times, como o Vitória da Bahia. Mas em seu coração a fase no tricolor carioca tem um lugar especial.
Ao lembrar do irmão, o craque amapaense Bira, emocionou-se e chorou. Contou como o irmão é amado no Pará e que aqui em sua terra, o reconhecimento era pequeno.
Mesmo com a emoção, ficou contente de poder contar essa história, do dia em que enfrentou, jogando muito bem, um dos maiores jogadores da história do futebol mundial.