Por MARCO ANTÔNIO P. COSTA
O improvável aconteceu e o sonho de um menino em ter uma bicicleta nova foi realizado. Graças à ação de um guarda civil da Prefeitura Municipal de Macapá (PMM) que viu o garoto andando na rua com sua bicicletinha sem selim e sem pneus.
O garoto pedalava perto de onde mora, no Canal do Jandiá, zona leste de Macapá, quando o guarda Dorival dos Santos Gomes, de 53 anos, viu o garoto com a pequena bicicleta com a jance diretamente no chão. Aquilo lhe chamou a atenção e ele resolveu falar com o garoto.
“Eu chamei ele e perguntei se eu podia bater uma foto dele pra eu jogar no nosso grupo da guarda municipal, pra ver se a gente conseguia uma bicicleta melhor do que essa pra ele. Foi uma surpresa, quando eu joguei no grupo meus colegas de trabalho tudo sensibilizado, falando ‘vamos ajudar, saindo o pagamento, a gente compra uma bicicleta pra ele’, deu uns 20 minutos um inspetor da guarda que também está no nosso grupo ligou pra mim e disse que já tinha conseguido uma bicicleta, ‘vamos na loja, pegar a nota, um empresário amigo meu se responsabilizou de comprar uma bicicleta pra ele’, falou”, contou o guarda Dorival.
Dias depois, no sábado (23), foi a vez do engenhoso garoto Mizael Rodrigues da Costa, de 9 anos de idade, receber o presente inesperado.
Ele tinha pegado a bicicletinha antiga jogada na frente de um imóvel do outro lado da sua rua. Um amigo que trabalha com marcenaria em uma das inúmeras estâncias de madeira que funcionam na beira do Canal do Jandiá, fez o selim de madeira. E assim, com jance no chão, sem pneus, e devagar, o garoto dava um jeito de se divertir.
“Já consigo andar na nova, não caí nenhuma vez, a velha eu caía. Eu digo obrigado pra ele [para o guarda Dorival]”, agradeceu Mizael.
Situação da família
A situação da família de Mizael é similar à de outras milhares de famílias que vêm das Ilhas do Pará, do extremo oeste marajoara, para tentar a sorte de uma vida melhor em Macapá.
Vindos da região do Rio Santa Clara, no interior do município de Afuá (PA), a família de sete filhos chefiada pelo seu Manoel Oliveira, de 45 anos, mora de aluguel da parte de cima de uma das estâncias do Jandiá. Os R$ 250 do valor do aluguel, são pagos com o que recebem de bolsa família. Eles não têm fogão à gás e cozinham à lenha.
Cristina Lobato Rodrigues, a mãe, tem 34 anos. Carrega na sua aparência o desgaste físico de uma vida de muita labuta e privações. Ela já tem dois netos e seu filho mais novo tem 1 ano e 2 meses. Há quatro meses na cidade, ela conta que estão repensando a decisão. Tem dias, conta a mulher, que a comida não chega.
“Tinha dias que a gente não comia nadinha, tinha vez que eu fazia um mingauzinho de farinha à tarde para os filhos tomarem, e com aquilo eles dormiam. Aí, a gente vinha pra cá, a minha filha pelejou muito e nós viemos. Ele [o marido] trabalha quando chamam, para desembarcar alguma coisa, na plaina. Os irmãos estão felizes com a bicicleta, eles também andam na velhinha e na nova. A gente está pensando em voltar, porque lá a gente ainda pesca e aqui não tem como e tem que ter o dinheiro para comprar as coisas”, lamentou Cristina Lobato.
Ela pediu pelos filhos, por um emprego para o marido, quem sabe até bicicletas para os outros 4 irmãos de idades mais próximas às de Mizael e, claro, qualquer outro tipo de ajuda.
A família não tem contato telefônico e quem quiser contata-los deve ir até à estância “Madeira e Cia”.
Foto de capa: Dorival Gomes