Anna Karoline: um ano depois do naufrágio, famílias homenageiam vítimas

Naufrágio do navio causou a morte de 42 pessoas, num dos episódios mais dramáticos da história do transporte fluvial do Amapá.
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Por MARCO ANTÔNIO P. COSTA

No dia 28 de fevereiro de 2020 partia, do Porto de Santana, uma das viagens mais marcantes e doloridas da história do transporte fluvial do Amapá. O navio Anna Karoline III naufragaria na madrugada seguinte, ceifando a vida de 42 pessoas.

Na manhã deste domingo (28) uma missa na Igreja Santa Inês, na orla de Macapá, homenageou e lembrou as vítimas do naufrágio. Os parentes das vítimas juntaram-se para relembrar os entes queridos perdidos.

Uma missa foi feita em homenagens às vítimas…

… na Igreja Santa Inês, na orla de Macapá. Fotos: Marco Antônio P. Costa/SN.com

O clima de emoção, enquanto a liturgia lembrava o nome de cada vítima foi incontrolável e seguiu durante cada momento do culto religioso. Sentimentos difusos. Dor, saudade, aceitação e revolta misturavam-se entre os familiares.

Dona Rosa Cardoso, que perdeu o filho Helton Cardoso Brito, de 36 anos, a nora Samella Thayara Alves dos Santos, de 28 anos, e a netinha Maria Luiza Alves de Brito, a Malu, de 7 anos de idade, conseguiu se expressar, muito emocionada.

O clima de emoção foi incontrolável enquanto a liturgia lembrava o nome de cada uma das 42 vítimas

“O Helton era um filho maravilhoso. Educado, obediente. Era comerciante, vivia nessa vida dos rios da Amazônia, de um lado pro outro. A Samella, minha nora, eu não considerava nem nora, era uma filha pra mim, tinha um amor muito grande por ela. Minha neta, não preciso nem falar. Mãe duas vezes. Meu chamego, sete anos. Todos os dias mandava vídeo pra mim. Todo dia falava comigo e o que mais impressionava é que cada despedida parecia que a Malu tava se despedindo pela última vez”, contou Dona Rosa.

A última foto: imagem recebida pelo celular de Dona Rosa na partida da viagem. Na imagem estão: o filho dela, Helton (de azul), a nora, Samella (de vermelho) e a netinha Malu (de short) azul

Crime, não acidente

Em meio a emoção do resgate da memória dos que se foram, também houve espaço para a cobrança. Dona Rosa, assim como outros tantos familiares, negam-se a chamar o naufrágio de tragédia ou acidente. Para eles, ocorreu um crime, com pessoas que são culpadas pelo o que ocorreu.

Dona Rosa, que perdeu filho, neta e nora: “não foi um acidente, foi crime”

“Eu repito todo o tempo que não foi um acidente, foi crime, foi comprovado que foi um crime. O que mais fez aumentar a minha fé hoje, foi ter encontrado a Maria Luiza, porque eu não tinha mais esperança, eu dizia que eu não ia viver mais, e a Malu foi encontrada com 1 mês e 17 dias, em Santarém, depois de o navio estar uma semana no porto”, desabafou a mãe, sogra e avó.

No mesmo sentido, o pai de Samella, cobra justiça.

“Cobrem da Justiça. Tem indiciados no inquérito. Pessoas foram culpadas, se comprovou que não foi um acidente, foi um crime. Não tem ninguém preso, e tem muitos culpados. Estamos correndo atrás, tem mais culpados por essa situação. Justiça, queremos justiça”, declarou Max Jones Ferreira Santos, pai de Samella.

Max Jones Ferreira Santos, pai de Samella: “Justiça, queremos justiça”

Meses após o naufrágio o comandante chegou a ser preso, mas responde o processo em liberdade. Pelo menos seis pessoas estão sendo indiciadas, entre elas o comandante da embarcação, que responde por homicídio doloso (dolo eventual), um despachante e um militar da Marinha do Brasil.

Navio foi içado pouco mais de um mês depois

Seles Nafes
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