Juntando latinhas, avó cria três netos que perderam pai e mãe

Elizia Monteiro Trindade, de 75 anos, mora e tenta sobreviver no Conjunto Macapaba 2, zona norte da capital do Amapá.
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Por RODRIGO ÍNDIO

Mulheres que chefiam seus lares e são prejudicadas pela ausência de renda – principalmente no período pandêmico – receberam doações de alimentos orgânicos na última segunda-feira (15), no Conjunto Macapaba, zona norte de Macapá. São muitas histórias de superação pela sobrevivência.

Dona Elizia: “Não recebo benefício, então faço tudo para sustentar meus netinhos”. Fotos: Rodrigo Índio/SN

É o caso da catadora de latinhas Elizia Monteiro Trindade, de 75 anos, que mora sozinha com 3 netos pequenos em um dos apartamentos do habitacional. Em um “dedo de prosa”, ela contou que o pai das crianças, que era pedreiro, morreu quando um andaime decepou sua cabeça.

Depois disso, sua filha teve problemas psicológicos e com drogas, e foi morar para Pedra Branca do Amapari, a 280 km de Macapá, deixando os filhos para trás.

Dona Elizia arruma as doações no carrinho: “Tem dias que deixo de comer para dar pros netos”

Quando residia no Bairro Perpétuo Socorro, Elizia vendia peixe. Depois que foi morar no Macapaba não viu outra alternativa, a não ser catar materiais recicláveis na rua para ter o que colocar na mesa da família.

“Não recebo benefício, então faço tudo para sustentar meus netinhos”, resume.

Desde novembro de 2020, passou a ser acolhida pelo projeto “Mães da Favela”. Na segunda-feira, acordou cedinho para receber a doação de alimentos. A idosa diz que “o que parece ser pouco para uns”, para ela é muito.

Ela saiu empurrando seu carrinho cheio de latinhas e doações, inclusive, o de uma vizinha que estava passando mal

“Tem dias que deixo de comer para dar para eles. Agora estou sem botijão [de gás], desde quando vim pra cá usava o da minha filha, ela foi embora e levou o botijão, não é minha filha de sangue, mas criei ela. Um vizinho que me empresta o fogão elétrico para fazer a comida pra eles. Isso aqui [doações] vai me ajudar muito. Hoje comeremos bem”, comentou a simpática senhora ao receber os alimentos.

Ela saiu empurrando seu carrinho cheio de latinhas e doações, inclusive, o de uma vizinha que estava passando mal. Mesmo sendo pobre e sem saber ler e escrever, o coração bom não lhe faz perder a esperança de dias melhores.

Quem se sensibilizar com a história de dona Elizia Monteiro, e quiser ajuda-la, pode ligar para (96) 99199-6398 (ligação) ou ir até o endereço Quadra 11, apartamento 101, bloco 23, Macapaba 2.

A ação

Katia Mendes, de 31 anos, tem 5 filhos e também participou da ação. Esta é a primeira vez que ela foi contemplada e estava só alegria.

Katia Mendes é mãe de cinco filhos

“É a oportunidade de muitas pessoas serem ajudadas. Aqui no Macapaba muitos precisam, principalmente com essa pandemia que ninguém pode sair”, opinou.

Na ação foi entregue mais de 1,7 mil quilos de alimentos junto à Central Única das Favelas (Cufa), por meio do projeto “Mães da Favela”. Os produtos foram fornecidos pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e distribuídos pelo Centro de Referência de Assistência Social (Cras) Amor.

Rubieli Oliveira, coordenadora do Cras Amo

“O objetivo desse trabalho é trazer alimento para quem mais precisa. O PAA [Programa de Aquisição de Alimentos] ajuda o agricultor a escoar essa produção que chega para esse público em vulnerabilidade”, disse Rubieli Oliveira, coordenadora do Cras Amor.

Na ação foi entregue mais de 1,7 mil quilos de alimentos

De acordo com a coordenadora, no Cras localizado na Rua Emílio Medici, n° 1549, no Bairro São Lázaro, as famílias carentes podem solicitar cestas básicas, kit bebê, gás de cozinha e outros tipos de atendimentos.

Lidelma Caldas: “Eu queria muito que as pessoas olhassem mais pelo povo do Macapaba onde tem mais pessoas de que todos os polos”

No Macapaba quem coordena a base do “Mães da Favela” é Lidelma Caldas, que detalha que 635 pessoas diferentes já foram atendidas. As ações de ajuda dependem de doações.

“A gente ajuda quando chega doação. Eu queria muito que as pessoas olhassem mais pelo povo do Macapaba onde tem mais pessoas de que todos os polos. Dou prioridade para mães solteiras e idosos. Quem quiser ajudar, me conheça, conheça meu trabalho e que eu entrego tudo o que chegar para quem precisa. Amo o que eu faço e faço porque amo fazer”, orgulhou-se Lidelma.

Projeto “Mães da Favela” arrecada e doa alimentos em parceria com o Cras e a Conab

Quem puder colaborar com o Mães da Favela no Macapaba para que mais famílias sejam ajudadas pode falar com Lidelma pelo (96) 99190-9893 (Ligação/WhatsApp).

Seles Nafes
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