Unifap fecha cursos em Oiapoque e gera indignação

Graduações de Direito e Enfermagem funcionam no campus da instituição em Oiapoque, a 600 quilômetros de Macapá.
Compartilhamentos

Por MARCO ANTÔNIO P. COSTA

Com a divulgação da intenção da administração da Universidade Federal do Amapá (Unifap) em transferir os cursos de graduação em Enfermagem e Direito que funcionam no município de Oiapoque para cidade de Santana, estudantes, professores e até remanescentes de quilombolas, reclamam da decisão da reitoria.

O Diretório Central dos Estudantes (DCE) lamentou que os acadêmicos tenham sido avisados apenas através do site da universidade, sem nenhuma consulta ou aviso prévio. Em nenhum momento o assunto foi colocado em pauta com a comunidade acadêmica para debate. Além disso, o DCE acredita que a medida, se efetivada, significa um retrocesso.

Unifap justifica que curso são dispendiosos e “não dão retorno”. Fotos: Divulgação

“O DCE não compactua com esse tipo de decisão arbitrária por parte da administração da UNIFAP, que mostra ainda mais o sucateamento da universidade pública. Retirar o curso de Enfermagem e Direito de Oiapoque é compactuar com o retrocesso e as perdas gigantes para indígenas e quilombolas que ali residem e resistem”, declarou Geiza Miranda, acadêmica de Pedagogia.

Na quinta-feira (25), o DCE fará uma reunião ampliada, presencial, no Campus Marco Zero, para debater a questão.

Outro setor que se pronunciou foi a Associação Quilombola dos Remanescentes da Vila Velha, de Oiapoque. Em nota, a entidade manifestou ser contrária a retirada de direitos sociais adquiridos e garantidos pela Constituição Brasileira.

“Contrários a qualquer retirada de direitos sociais adquiridos e garantidos na Constituição Federal de 1988, nos tratados internacionais que o Brasil é signatário, bem como nas leis resoluções”, diz trecho da nota.

A vereadora de Oiapoque, Lília Karipuna (PRB), também começou a mobilizar os acadêmicos indígenas contra a decisão.

O professor do colegiado de medicina, Emerson Augusto Martins, que é conselheiro universitário, também percebe a ação como um equívoco.

“Nós acreditamos que essa transferência é uma situação equivocada, que não foi discutida como deveria ser dentro da comunidade acadêmica e dentro do Conselho Universitário, e pior do que isso, ela vem a impactar um dos campi mais importantes da Universidade, que é o binacional de Oiapoque”, declarou Emerson.

Para o docente, a distância, uma das dificuldades que a instituição tem para chegar no município, é a mesma que a comunidade oiapoquense tem para chegar na capital, além da peculiaridade importante de ser alcançada pela Unifap, que são as comunidades indígenas da região.

Unifap

O portal SelesNafes.com tentou contato, sem sucesso, com a Pró Reitora de Ensino e Graduação (Prograd) para comentar o assunto.

No entanto, dois ofícios datados do dia 9 de fevereiro, mostram que o reitor da Unifap, o professor doutor Júlio Sá, justifica seu pedido de transferência dos cursos.

Para ele, que assinou os documentos endereçados ao Ministério da Educação (MEC), os cursos no polo de Oiapoque são muito onerosos e sem devido retorno, pois as turmas nunca estão completas, há grande evasão e não há espaços em Oiapoque para a realização dos estágios práticos necessários para a conclusão dos cursos.

Com isso, sem órgãos do meio jurídico, nem escritórios de advocacia ou mesmo unidades de saúde suficientes, a Unifap teria grandes gastos, pagando diárias para professores e alunos cumprirem as horas de estágio.

Seles Nafes
Compartilhamentos
Insira suas palavras de pesquisa e pressione Enter.
error: Conteúdo Protegido!!