“Aqui tá tenso, parem com as festinhas”: uma tarde nos centros de covid

O Portal SelesNafes.com passou algumas horas nas unidades de referência da doença em Macapá e retratou um pouco do caos que tomou conta do sistema de saúde na capital do Amapá.
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Por MARCO ANTÔNIO P. COSTA

Na tarde desta quarta-feira (24) a movimentação na Unidade Básica de Saúde Lélio Silva e no Centro de covid-19 do Santa Inês, na zona sul de Macapá, tiveram movimentação intensa, como nas últimas semanas. São pacientes e seus acompanhantes com a angústia da dúvida ou da incerteza de estarem frente à frente com a doença que já ceifou a vida de mais de 300 mil brasileiros, 1253 só no Amapá, até o boletim de quarta.

As unidades de saúde da Prefeitura Municipal de Macapá (PMM) são a porta de entrada para quem procura o SUS em busca de tratamento. Há uma triagem, testes rápidos, consulta com médico e vai se definindo um diagnóstico.

Casos com sintomas mais severos vão logo para as enfermarias e salas vermelhas. Se piorarem, leitos e ventiladores mecânicos conseguem segurar por algumas horas ou até dias até que o paciente consiga ser transferido para os cuidados do Estado, com leitos de UTI ou de enfermarias clínicas, a depender da gravidade da situação.

Neste caminho, a apreensão é grande, pois a esta altura da situação, com a maior média de mundial de mortes por covid, poucos são os incrédulos que ainda duvidam da virulência do vírus.

No Centro de Covid do Santa Inês, na orla de Macapá, Camila Furtado, de 40 anos de idade, contou que cerca de 8 pessoas da família por parte de mãe estão doentes. Seu irmão, está internado no local, na sala de estabilização.

Lotação está máxima no…

… Centro de Covid do Santa Inês. Fotos: MArco Antônio P. Costa/SN

No momento da entrevista, acompanhava o pai, que esperava o resultado de um exame, após apresentar os sintomas. Ela reclamou que na terça-feira (23), teve que sair do Bairro Zerão, na zona sul de Macapá, à meia noite, pois seu irmão estava com sede e não tinha água no centro.

A PMM informou que trocou os bebedouros assim que um deles quebrou, inclusive mandou foto e a reportagem constatou o novo bebedouro no centro. Mas um dia antes, Camila garante que não estava lá. Por sorte, diz, tinha água mineral em casa e levou para seu irmão.

Está preocupada porque ele apresenta problema nos rins e, dentre outras coisas, a médica lhe receitou para beber muita água.

Sobre aglomerações e festinhas, Camila foi enfática.

Camila: “Aqui está tenso, parem com as festinhas e aglomerações”

“Aqui está tenso, parem com as festinhas e aglomerações. Estou vindo há vários dias e o movimento é constante, muita gente entrando e saindo. Meu pai tá agora esperando o resultado de um exame, eu trouxe no domingo [21], mandaram ele pra casa, mas ele piorou e hoje [24] eu vim de novo com ele, com muita tosse. Hoje que a médica passou um exame que é aquele no nariz, que vai sair com meia hora [com antígeno]. Precisamos todos colaborar, não está fácil”, declarou a técnica em segurança do trabalho, Camila.

A direção do centro não quis gravar entrevista. A reportagem não tive acesso aos números de leitos ocupados naquela unidade, mas a chegada de pacientes era constante.

Lélio Silva

Na mesma tarde, na UBS Lélio Silva, no Novo Buritizal, zona sul de Macapá, a situação era similar.

Lá, a direção da unidade explicou que teve cerca de cinco óbitos nos últimos dias, o que não tinha ocorrido no primeiro pico da doença, em 2020. A direção garantiu que isto ocorreu porque se tratavam de casos muito graves e que foi lhes dado o melhor atendimento possível.

Na UBS Lélio Silva cinco óbitos foram registrados nos últimos dias

Lá a lotação também é evidente

Nelson Santana: “Estão acontecendo óbitos, como na semana passada e retrasada, mas não está sendo por falta de atendimento”

“O movimento está oscilando, mas é o maior desde o ano passado. Aqui, na verdade, consideramos como a unidade mais bem equipada. Estão acontecendo óbitos, como na semana passada e retrasada, mas não está sendo por falta de atendimento”, garantiu Nelson Santana, que compõe a equipe da direção da UBS.

O movimento era constante, muita gente saindo e chegando e um esforço grande dos profissionais de saúde para agilizar o atendimento. Na manhã, a tenda que ficava bem em frente para garantir distanciamento entre as pessoas, desabou com as fortes chuvas que caíram sobre Macapá. Uma outra, menor é temporária estava no local, até que a grande fosse reposicionada.

Suspeitos de infecção por covid entram…

… a todo momento nas UBSs em busca de atendimento

Manuela Angel estava com dor cabeça, febre, tosse, enjoo e perda de paladar

A jovem Manuela Angel, de 24 anos, cozinheira e babá, estava com dor cabeça, febre, tosse, enjoo e perda de paladar. Ela ia fazer o exame pela primeira vez e estava na fila há duas horas, mas porque aguardava seu esposo com a sua documentação.

Manuela acreditava estar com covid e disse que não sabia que movimento na UBS estava tão grande. Para a população, fez um pedido curto, mas bastante claro:

“Que parem de fazer aglomeração, eu já estou cansada de ficar de quarentena”, finalizou a jovem.

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