Por MARCO ANTÔNIO P. COSTA
Não há medida política que não tenha a possibilidade de guardar algum grau de contradição, e o lockdown é um ato extremamente desgastante para qualquer gestor. No entanto, em casos como este da maior crise sanitária do país, quando dobram os óbitos no Amapá e o país chega às três mil mortes diárias, a ciência é quem deve dar a última palavra.
O primeiro lockdown realizado no Amapá salvou cerca de 180 vidas, é o que afirma a Superintendência de Vigilância em Saúde (SVS), através de um relatório que analisou o impacto do primeiro ‘fechamento total’.
A primeira medida de proteção à vida, como os governadores e sanitaristas brasileiros tem chamado, de fechamento mais agudo de atividades comerciais e sociais, foi decretado em maio de 2020, justamente no pico da primeira onda de covid-19 no Estado.
O resultado foi que nas semanas seguintes ao lockdown, a queda no número de óbitos e na taxa de transmissão foi muito significativa.
O primeiro lockdown iniciou-se no dia 15 de maio e terminou dia 02 de junho. Já na semana epidemiológica, de 31 de maio a 06 de junho, a redução de óbitos foi de 26%. Nas semanas seguintes, houve a sequência de reduções nos óbitos: 46%, 23% e 40%.
Em números objetivos, foram quase 180 vidas salvas.
“Nós salvamos vidas, em torno de 179 vidas foram salvas. Eu digo e apresento esses dados para dialogar com a população. Essas medidas de contenção e afastamento são fundamentais para a preservação da vida e são instrumentos reconhecidos pela ciência”, garantiu Dorinaldo Malafaia, superintendente da SVS.
Números muito positivos também foram apresentados no relatório em relação à transmissão do vírus. A taxa de Retransmissão (RT), que era de 1.43 no dia 18 de junho, caiu para 0.96 no início de julho. Esta taxa é aquela que os cientistas consideram razoável quando está abaixo de 1.
Atualmente a RT do Amapá está em 1.7%.

UBS no Bairro Santa Inês, em Macapá
Estudos científicos
A vigilância também tem se embasado em dois estudos científicos que de maneiras distintas analisaram as medidas de distanciamento social e seus impactos na pandemia. Um dos estudos foi publicado em fevereiro revista Science, a publicação científica mais respeitada do mundo.
Nesse estudo feito em 41 países chegou-se à conclusão, por exemplo, que limitar reuniões a 1 mil pessoas ou menos reduz em 23% as infecções por covid-19. Limitar a 100 pessoas ou menos reduz o contágio em 34%, limitar a 10 pessoas ou menos reduz em 42% e suspender o funcionamento de escolas e universidades reduz o contágio em 38%.
Outro estudo publicado em outro de 2020 no International journal of infectious Diseases, que englobou dados de 190 países sugere quase 43% de redução de contágio de covid-19 com medidas de distanciamento social como um lockdown.