A crise do atraso na segunda dose da Coronavac

Nas últimas semanas, todas as vezes que o imunizante chegou ao Amapá, foram registrados tumultos no processo de vacinação, especialmente em Macapá.
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Por MARCO ANTÔNIO P. COSTA

Milhares de pessoas no Amapá estão com o prazo estipulado para a aplicação da segunda dose (D2) da CoronaVac vencido. Idosos temem que o processo de imunização fique prejudicado. Por esse atraso, pessoas que estão próximas da data da D2 já receiam que não serão imunizadas.

Nas últimas semanas, todas as vezes que o imunizante produzido pelo Instituto Butantan, em São Paulo, chegou ao Amapá, foram registrados tumultos no processo de vacinação, especialmente em Macapá.

A crise tem contornos nacionais e diversos estados brasileiros tiveram que ampliar o intervalo entre primeira e segunda dose, que antes seria de 21 a 28 dias, de acordo com a bula do fabricante.

Este é o caso da senhora Anita Nascimento, de 73 anos de idade. Ela tomou a primeira dose (D1) no dia 20 de março e ficou agendada para tomar a D2 no dia 19 de abril. Até agora, 17 dias após a previsão, ela ainda não conseguiu. Nas vezes em que a vacina chegou, acabou antes que ela conseguisse.

Além da dúvida e aflição, a família também reclama da desorganização do processo de vacinação em Macapá.

Registro de D1 de Dona Anita. Fotos: Divulgação

D1 registrada no cartão de Dona Anita

“Além do que, a prefeitura [de Macapá] não teve uma organização na hora de divulgar a lista, e a secretária de saúde ainda foi pra televisão falar que seria por ordem de atraso, sendo que vi pessoas tomando desde o dia 25 e a minha mãe que tava previsto pro dia 19 ficou de fora da lista”, reclamou Odasilma Nascimento, filha de Dona Anita.

A família já esteve na fila pelo menos duas vezes, mas sem sucesso. Atualmente, seguem a orientação e acompanham as redes sociais da Prefeitura de Macapá, sem sequer ter o nome na lista.

Registro da D1 de Carlos

D1 registrada no cartão de Carlos

Por situação similar, mas sem o prazo vencido, Carlos Carvalho de Oliveira, de 59 anos, está apreensivo sobre a possibilidade de no dia em que marcaram o seu reforço com a D2, não tenha vacina. Ele é paciente oncológico, o que piora a situação e sua preocupação.

“Eu tomei a primeira dose dia 12 de abril e a segunda dose tá marcado pra 10 de maio. Tô preocupado se vai ter mesmo nesse dia, tenho que viajar dia 15 agora para tratamento e queria ir já vacinado”, preocupa-se Carlos.

Aglomerações têm sido registradas em Macapá

Previsão

A coordenadora de imunização estadual, Andréa Marvão, informou que até o momento o Ministério da Saúde não deu previsão de chegada no Amapá de novas doses da CoronaVac.

Responsabilidades

A escassez de CoronaVac tem um caráter nacional com nitidez especial no caso macapaense. Pelo menos 18 estados brasileiros tiveram que mudar o intervalo entre a primeira e segunda dose. A vacina tem a orientação de bula de 28 dias entre as doses, no entanto, com a falta do imunizante, algumas cidades, como o Rio de Janeiro (RJ), estenderam o prazo para mais 10 dias pelo menos.

No caso do Rio, por exemplo, apenas em uma entrega de vacinas onde eram aguardadas 150 mil doses, foram recebidas apenas 17 mil.

No Amapá, a imunização estadual afirma que nas duas últimas semanas chegaram apenas 2.200 doses, número bastante baixo.

Municípios afirmam que foi o MS quem orientou que as cidades ampliassem ao máximo a vacina (D1), sem reservar as segundas doses para quem já havia tomado a primeira. No entanto, o ritmo de entrega por parte do Butantan diminuiu e o efeito foi em cadeia. Quem sofre na ponta são pessoas como Dona Anita e Carlos.

Eficácia

Há poucos estudos sobre a eficácia na imunização quando há o atraso muito grande na aplicação da D2, mas há um acordo mínimo na comunidade científica de que o ciclo de imunização fica completo realmente ou reforçado com a D2.

O Ministério da Saúde afirmou, ainda em março, que:

“A população deve tomar a segunda dose da vacina de covid-19 mesmo que a aplicação ocorra fora do prazo recomendado pelo laboratório. Essa é a orientação do Ministério da Saúde, que reforça a importância de se completar o esquema vacinal para assegurar a proteção adequada contra a doença”, diz trecho da nota do MS.

O Portal SN.com entrou em contato com a coordenadora de imunização de Macapá, Monique Uchôa, pedindo informações sobre essas questões sem, no entanto, obter respostas até o fechamento desta publicação. Contudo, o espaço prossegue nesta matéria aberto para os esclarecimentos e atualização.

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