Açaí pode sumir da mesa do amapaense, dizem donos de batedeiras

A mudança na movimentação comercial pode fazer com o alimento falte na mesa do amapaense. (Foto: Olho de Boto)
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Por OLHO DE BOTO

Tão comum na mesa do amapaense, o açaí tem se tornado cada vez mais escasso, já que as grandes indústrias têm ido direto aos ribeirinhos fazer a compra do produto, diminuindo cada vez mais a oferta nas batedeiras. Nesta segunda-feira (17), em Macapá e Belém, os batedores de açaí fizeram uma manifestação cobrando ações do poder público para a fiscalização comercial do fruto.

Em Macapá, os batedores artesanais se reuniram na rampa do Santa Inês, tradicional local de comércio.

Marinaldo Melo, um dos organizadores da manifestação na capital amapaense, explica que o aumento abusivo do preço do açaí é resultado da falta do produto para os batedores. As indústrias têm comprado direto com os ribeirinhos e as poucas sacas que restam (que pesam cerca de 70 quilos cada) são vendidas a preços abusivos na orla de Macapá.

“Houve um chamado da cooperativa do Pará, que atende o estado com 80% do açaí comercializado aqui, para nos unirmos e fazermos com que o preço seja reduzido. Essa alta é causada pela instalação de grandes indústrias, que trabalham comercializando o açaí em dólar, então eles podem jogar o preço alto. Há geleiras [indústrias] comprando açaí por R$ 230 ou R$ 250, com isso o ribeirinho não atravessa para vender aqui”, conta.

Marinaldo diz que pode chegar ao ponto do batedor de açai ter que comprar o fruto das indústrias, elevando muito mais o preço para o consumidor. (Foto: Olho de Boto)

O aumento do preço tende a elevar ainda mais com a chegada das indústrias flutuantes, que fazem a coleta e beneficiamento direto com o ribeirinho. A mudança na movimentação comercial pode fazer com o alimento falte na mesa do amapaense.

“Da forma que está acontecendo o Pará e Amapá ficarão sem açaí na mesa do consumidor daqui a 5 anos. Nada contra a instalação das grandes industrias, desde que não falte esse açaí no mercado local e que não chegue caro. Queremos padronizar esse preço, tanto para o mercado local quanto para as grandes industrias, porque os batedores são tidos como os vilões, porque é onde é visto o produto encarecer”, explica Marinaldo.

A saca do açaí era vendida por R$ 150 ou R$ 180. Agora, o ribeirinho oferta por até R$ 350, o que deixa o litro por volta de R$ 20 para o consumidor.

“Pedimos ao consumidor que não aceite pagar R$ 15 no litro do açaí, denuncie. Esse valor incentiva o ribeirinho a vender a saca em um preço elevado. Vamos lutar, o açaí é nosso”, ressalta Meire Dias, batedora tradicional de açaí.

Manifestação aconteceu simultaneamente em Macapá e Belém. (Foto: Olho de Boto)

Os manifestantes afirmaram que devem reunir com o prefeito de Macapá, Antônio Furlar, ainda nesta segunda-feira para tratar do assunto.

Em Belém a manifestação ocorreu a partir das 6h na praça do Relógio, perto de um dos principais entrepostos de comercialização de açaí, que é o complexo do Ver-o-Peso.

Rampa do Santa Inês é ponto tradicional do comércio de açai na capital. (Foto: Olho de Boto)

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