“Meu sonho é ter uma família”, diz Joice; Dezenas de crianças aguardam adoção no Amapá

Joice vive na Casa da Hospitalidade, em Santana, há cerca de dois anos à espera da adoção.
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Por MARCO ANTÔNIO P. COSTA

Pense nas suas primeiras lembranças. Nas brincadeiras com irmãos, o amor dos pais, natais cheios de gente feliz, presentes, a primeira professora. Parte do que seremos em vida é construída na nossa infância, a formação de valores e nas memórias que temos. No entanto, a realidade não é a mesma para muitas crianças. Neste 25 de maio, Dia Nacional da Adoção, Joice, de 10 anos e outras tantas crianças, têm apenas o sonho de ter uma família.

A criança é parte do projeto “Eu acredito no amor – um caminho para adoção”, da Vara de Infância e Juventude da Comarca de Santana. À ela, outras dezenas de crianças se somam em todo o estado em busca por um lar.

Trata-se de tema difícil e delicado e que, por isso mesmo, tem que ser relatado como realmente é. Alguém um dia argumentou que a forma como uma sociedade trata suas crianças diz muito sobre o como essa sociedade é. E isso é mais coerente ainda quando se tratam de crianças e adolescentes em situação de alta vulnerabilidade social.

Claudionora Castor, assistente social da vara da infância de Santana, explicou que as crianças que estão disponíveis para adoção vêm de lares desajustados, geralmente com pais que têm problemas com drogas e álcool. Quando o conselho tutelar e a justiça não conseguem perceber possibilidade de um ajuste entre pais e filho ou filha ou quando as famílias estendidas, tios, avós e outros também não podem ou não querem cumprir esse papel, a criança passa a viver em lares, em abrigos e a esperar na fila para adoção.

Este é o caso da pequena Joice.

“Meu sonho é ter uma família que me dê amor, atenção e carinho, eu acredito que irei realizar esse desejo”, diz a pequena.

A equipe que acompanha Joice da Paixão de Abreu a descreve como uma criança doce, como sugere seu sorriso, que adora leitura e ouvir histórias de princesas. Ela vive na Casa da Hospitalidade há cerca de dois anos, com outros irmãos de abrigo.

Desafios

Em Santana, Claudionora explica que a maioria das adoções é daquelas onde a família de origem escolhe a família que irá receber a criança e que grande parte é de legalizações, quando a adoção de fato já ocorreu e a pessoa ou nova família procura a justiça para legalizar a situação.

Claudionora Castor é assistente social da vara da infância de Santana.

Trata-se de um relato tão antigo e comum como a formação do Amapá moderno, onde famílias pobres, especialmente da região das Ilhas do Pará, acabam procurando famílias com melhores condições sociais e “dão”, seus filhos – em verdade uma ação geralmente de tentar dar mais oportunidades de vida ao rebento.

Mas há também obstáculos. Por exemplo, ainda persiste um estereótipo de criança com mais procura para adoção: recém-nascida, branca e de olhos e cabelos claros.

E isto também é o que leva ao fato de uma maior demora nas adoções.

“Está relacionada também à escolha por esse filho por essas famílias. Ainda há o predomínio de uma escolha por crianças muito bebê, recém-nascidas, crianças brancas, crianças saudáveis e esse perfil não é o perfil predominante nos nossos abrigos, isso reflete uma realidade nacional. Então essas famílias acabam demorando a ter o seu filho porque a gente não tem o filho com as características que eles escolheram. Aquelas famílias que se abrem para uma adoção, que a gente chama de adoção tardia, que é a criança que já está com 3, 4, 5 anos em diante, ela tem esse filho com mais brevidade”, contou Claudionora.

Como adotar?

O principal pré-requisito para adoção é, em tendo 18 anos ou mais, apresentar condições de sustentar um filho, uma família. Não há distinção, nem preferência entre casais hétero ou homoafetivos, homens, mulheres ou pessoas solteiras, e isto pode ajudar a avançar no número de adoções realizadas com sucesso.

A pessoa que deseja adotar tem que acessar o Sistema Nacional de Adoção para se habilitar, onde ela fará um pré-cadastro de pretendentes à adoção, onde precisará apresentar uma série de documentos.

A família ou pessoa interessada tem que constituir advogado ou procurar a defensoria pública e peticionar seu desejo de adotar, sua habilitação para adotar. Após o trâmite do processo na vara de infância, após avaliação psicossocial, o casal ou pessoa fica disponível no cadastro nacional de adoção.

Parece complicado, mas não é.

“Pra gente tem sido uma experiência muito bacana. Aquelas crianças e adolescentes que estão fora do perfil, que infelizmente não se enquadram no desejo das famílias do Estado do Amapá, a gente tem buscado apoio em grupos de apoio à adoção tardia, do Rio, de São Paulo, de Minas, e temos conseguido a inserção de grupos de crianças”, finalizou Claudionora.

Para cadastro a pessoa e as famílias interessadas podem acessar o link https://www.cnj.jus.br/sna/

 

Seles Nafes
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