Parceiros momentâneos, Waldez e Furlan devem ser adversários em 2022

Waldez foi até a prefeitura discutir parceria com Furlan no último fim de semana. Na eleição do ano que vem, o cenário deve ser outro. Foto: José Baía
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Por SELES NAFES

Seguindo uma característica que sempre foi incomum para a maioria dos políticos conservadores, os dois principais gestores do Amapá têm conseguido manter o diálogo e até estabelecido parcerias. O prefeito de Macapá, Dr Furlan (Cidadania), e o governador Waldez Góes (PDT), têm mostrado flexibilidade e disposição para conversar. Furlan e Waldez sabem que precisam um do outro para combater a pandemia, modernizar a máquina, gerar empregos e avançar em obras. E mais do que isso: precisam evoluir e sobreviver politicamente diante da impaciência do povo, cada vez mais crítico e exigente nas redes sociais.

Apesar da necessidade de sobrevivência política, nem sempre foi assim na política do Amapá. Quem tem mais de 40 anos vai lembrar das guerras infinitas que engessaram o desenvolvimento do Estado. Foram muitas batalhas: Anníbal Barcellos (PFL) x João Capiberibe (PSB), Capiberibe x Papaléo Paes (prefeito); Capiberibe x Anníbal Barcellos (prefeito); Waldez (governador) x João Henrique (prefeito), Camilo Capiberibe (governador) x Roberto Góes (prefeito), Waldez (governador) x Clécio (prefeito em seu primeiro mandato)…

De um tempo para cá, no entanto, os políticos mais inteligentes começaram a perceber que todos perdem, inclusive eles, quando a briga é duradoura demais. É natural a divergência ideológica, mas quando as coisas começam a patinar por muito tempo, o povo fica impaciente.

Os alinhamentos, mesmo que momentâneos, começaram a ser mais frequentes, especialmente depois da eleição de Davi para a presidência do Congresso, e de Lucas Barreto (PSD) ao cargo de senador. Os dois são bons de bastidores. Clécio, como prefeito, soube a aproveitar o momento e recebeu muitos milhões para tocar obras, modernizar escolas, unidades de saúde e asfaltar a capital. Ele também tinha um bom time.

Agora, as atenções se voltam para a relação amistosa entre Waldez e Furlan, que estiveram em palanques diferentes na eleição do ano passado. Os dois juntos vêm conquistando bons resultados no combate à pandemia de covid-19. Waldez tinha conseguido isso também na relação com Clécio. Apesar de alguns conflitos pontuais em decretos de Waldez e Furlan, o lockdown funcionou, mesmo sendo parcial. O contágio caiu, assim como a ocupação de leitos e mortes.

Davi e Furlan no dia 20 de abril tratando das obras do Shopping Popular. Foto: Rodrigo Índio/SN

Clécio e Waldez inauguraram obras

No último fim de semana, Waldez foi até o prédio da prefeitura de Macapá, num gesto incomum para um governador, e foi recebido pelo prefeito para discutir a continuidade de um convênio de R$ 18 milhões para asfaltamento. O prefeito também aceitou a proposta de Waldez de incorporar ao patrimônio do município o Trapiche Eliezer Levy, um dos principais atrativos turísticos da orla de Macapá, mas que segue fechado ao público há mais de 4 anos em meio a um conflito judicial entre permissionários e o Estado.

Furlan também tem sido flexível ao permitir a aproximação de outro adversário mais direto, o senador Davi Alcolumbre (DEM), irmão do empresário Josiel Alcolumbre, com quem o prefeito disputou uma tensa campanha eleitoral, com muita troca de acusações.  

Capiberibe como governador manteve a distância de Papaléo e Barcellos como prefeitos

Papaléo morto em 2020 pela covid: como prefeito também não tinha como forte o diálogo político. Foto: Seles Nafes

A atitude de Furlan, Waldez, Davi e Clécio, mesmo sendo adversários políticos, pode apontar para o fim do defasado pensamento estratégico de virar as costas para o adversário na tentativa de enfraquecê-lo e causar desgaste diante da opinião pública. Contudo, quando os poderosos não se dão bem, o povo se dá mal, invariavelmente.

A tendência é que essa parceria continue por todo o ano de 2021, porque em 2022, Waldez, Furlan e Davi estarão em lados opostos, mais uma vez. Furlan deve apoiar a candidatura do empresário Jaime Nunes (Pros) ao governo do Estado, enquanto Waldez tem um compromisso com Davi de os dois trabalharem pela eleição de Clécio Luís, que deixou a prefeitura com mais de 70% de aprovação e também mira o Palácio do Setentrião.

Que 2021 seja o suficiente para as obras avançarem, especialmente em mobilidade e saneamento. Porque em 2022, tudo volta ao velho normal.

Seles Nafes
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