Noite de mortes segue sem solução; Polícia diz que testemunhas temem represálias

Os homicídios ocorreram no sábado, 22 de maio, após a morte do suposto filho de um líder de facção criminosa. (Foto: Olho de Boto)
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Por OLHO DE BOTO

Saber quem foi o autor de um homicídio após o flagrante não é suficiente para que ele seja preso. É preciso provas e isso requer um minucioso trabalho de investigação da Polícia Civil, que às vezes esbarra na falta de testemunhas.

 O delegado Dante Ferreira, da Delegacia Especializada em Crimes Contra a Pessoa (Decipe) enfrenta essa dificuldade para descobrir quem são os membros de organizações criminosas responsáveis pela matança ocorrida no dia 22 de maio, em Macapá.

Num intervalo de 10 horas, foram registrados 7 homicídios, destes, 6 estão relacionados a execuções, todos de autoria ainda desconhecida.

Segundo o delegado, a maioria das mortes está relacionada às organizações criminosas e por esse motivo as pessoas temem falar. Há relatos, explicou Dante Ferreira, de familiares que foram à delegacia, sabiam a identidade dos atiradores que mataram as pessoas, mas preferiram não falar, pois são ameaçadas de morte.

“Temos uma extrema dificuldade nesses casos que envolvem facções, não conseguindo reunir elementos para trazer os autores ao poder judiciário para que eles respondam pelos crimes que cometeram”, disse.

Os homicídios ocorreram no sábado, 22 de maio, após a morte do suposto filho de um líder de facção criminosa, a partir desse caso foi desencadeado uma série de outras mortes, que começaram por volta de 17h e foram terminar por volta de 2h da manhã do dia seguinte.

“Na verdade, até agora, nem conseguimos testemunhas. Todos falam que não viram, não sabem, que chegaram depois. A gente percebe que tem um temor muito grande das pessoas que presenciaram os crimes em testemunhar por medo de represálias”, explicou o delegado.

“Diversos familiares dizem estar impedidos de falar porque estão sofrendo ameaças. E são pessoas que moram em locais de risco, áreas de ponte, situação de extrema pobreza, que preferem se calar a ter outro familiar morto”, ponderou.

Para o delegado, que rotineiramente tem que lidar com os casos de homicídios, levantamento de testemunhas e prisões, há certo descrédito com o trabalho da polícia e dos agentes do judiciário provocado pela pouca permanência dos criminosos na prisão.

“A legislação brasileira ultimamente ainda muito permissiva com o crime. O criminoso tem muitos benefícios, que acaba provocando um tempo curto de encarceramento. Logo ele volta para as ruas e a população vê isso e acaba perdendo a confiança nas instituições, na polícia, Ministério Público e no Poder Judiciário, mas na verdade é a nossa legislação que tem favorecido os criminosos”, frisou.

“Um bloqueador de sinal de telefonia foi comprado para o presídio, instalado e não está funcionando. Assim, a comunicação entre os criminosos que estão presos e os que estão aqui fora continua ocorrendo. Em muitos casos líderes comandam de dentro da cadeia, sob a proteção do Estado. Tudo isso leva mais ainda a população a temer divulgar os crimes à polícia”, finalizou Dante Ferreira.

Se alguém quiser colaborar, mesmo que de forma anônima, pode entrar em contato com (96) 99170-4302.

Seles Nafes
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