Interdição do Caps Gentileza expõe fragilidade da saúde mental no Amapá

Interdição do Caps Gentileza expõe fragilidade da saúde mental no Amapá
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Por RODRIGO ÍNDIO

Virou lugar comum a afirmação de que as variadas doenças de cunho mental são o grande mal da saúde no século XXI. A despeito dos debates acerca do tema, é inegável a importância da rede de saúde mental que, no Amapá, enfrenta desafios e tem a sua fragilidade exposta de forma mais aparente na interdição parcial do Centro de Atenção Psicossocial (Caps) Gentileza, que hoje está com seus atendimentos sendo realizados na área externa da sede.

O órgão funciona há cerca de sete anos em uma casa no Bairro do Laguinho, área central de Macapá, no entanto, em março deste ano, a Defesa Civil estadual condenou as instalações, por conta de rachaduras e abalos estruturais com risco de desabamento e, por isso, interditou parcialmente a unidade.

O Portal SelesNafes.com conversou com Adriele Sussuarana, psicóloga, psicanalista e mestranda da Universidade Federal do Pará (UFPA), onde investiga temas relacionados à saúde mental, psicanálise e redução de danos.

A profissional faz atendimentos individuais no Caps Gentileza e também acompanha pacientes do setor de psiquiatria do Hospital das Clínicas Alberto Lima (Hcal), principal unidade hospitalar do estado. Ela conta que o problema é antigo e não houve manutenção do espaço. Adriele explicou o motivo.

Prédio do…

… Caps Gentileza foi…

… interditado pela Defesa Civil. Fotos: Rodrigo Índio/SN

“Essa casa é linda, só que é uma casa cheia de vidro e não teve manutenção ao longo dos anos. O serviço não é habilitado pelo Ministério da Saúde, há sete anos ele existe, mas, se a gente for pensar assim, ele sequer existe para o ministério, porque ele não é habilitado. Se ele não é habilitado, ele não recebe recurso federal de custeio, ele só tem CNPJ, e se ele não recebe recurso federal, acaba que é o próprio Estado que tem que ter receita para manter algo que poderia vir em uma contrapartida”, relatou Adriele.

Imagem do forro deteriorado

Aumento de 70% nas internações

A psicóloga relatou que no período de pandemia da covid-19, o número de internações por problemas de saúde mental, aumentou cerca de 70%.

Parte disto ocorreu, segundo a profissional, pela própria pandemia que elevou o adoecimento, mas também pelo funcionamento do órgão estar prejudicado, não apenas pela interdição, mas porque a concepção de funcionamento em grupo que os Caps trazem, estarem prejudicados pelas restrições que a pandemia impôs. Mesmo assim, o espaço em funcionamento.

Por causa da interdição…

… atendimentos estão ocorrendo na área externa da sede do órgão

“A Casa Gentileza oferece, de segunda à sexta, de 8h às 18h, de forma ininterrupta, consultas médicas, o serviço de farmácia, atendimentos psicológicos individuais, presenciais e online, três grupos terapêuticos presenciais na área externa da casa e seis grupos terapêuticos online para diferentes perfis realizados pela equipe multiprofissional como terapeutas ocupacionais, enfermeiros, assistentes sociais e psicólogos. Além disso, são realizadas visitas domiciliares para os casos mais graves ou de vulnerabilidade social e clínica do acompanhamento terapêutico para os casos de desinstitucionalização”, explicou Adriele.

A média de atendimentos diários é de 100 a 120, com mais de 3.500 usuários inscritos.

Pela concepção do atendimento, chamado de “base territorial” – fruto de toda uma reformulação a partir de debates acerca da luta antimanicomial e reformulação da saúde mental no Brasil – deveria existir um Caps para cada 200 mil habitantes.

Contudo, no caso do Amapá, o Caps Gentileza é responsável pelo atendimento em todo o Estado e ilhas do Pará, portanto, um serviço sobrecarregado.

Profissionais do Caps Gentileza…

… se uniram e lançaram…

… uma campanha para chamar a atenção das autoridades

“A solução ideal seria a gente ter na capital, pelo menos dois a três Caps para distribuir a equipe. Temos apenas dois psiquiatras. Quanto ao mais básico, a gente precisa pelo menos de uma casa. A gente não tem como fazer, no contexto da pandemia, é necessário o espaço para fazer os atendimentos, principalmente agora que estamos fazendo os atendimentos individualizados, é simples, é uma casa, por isso a hastag da campanha é Caps sem teto”, finalizou Sussuarana.

Estado fala em nova casa e Caps 24 horas

O secretário de saúde do Amapá, o enfermeiro Juan Mendes, se manifestou, através de um vídeo, sobre a interdição do Caps Gentileza. Juan afirmou que uma nova casa será disponibilizada para receber o Caps e também revelou a intenção de transformar a unidade em Caps 24 horas. Assista:

Seles Nafes
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